O ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro foi este sábado aplaudido de pé durante o seu discurso pró-armas e contra as vacinas da covid-19 na mais importante conferência do movimento ultraconservador norte-americano.

Durante cerca de 20 minutos, Bolsonaro discursou na Conferência da Ação Política dos Conservadores (CPAC, na sigla em inglês), em Washington, perante uma plateia efusiva, que aplaudiu o líder de extrema-direita a cada frase dita, incluindo quando se congratulou por ter sido o “último Presidente” do mundo a reconhecer a vitória de Joe Biden nas eleições norte-americanas e por se opor à ciência.

“Sou o ex mais amado do país. Sempre defendi a liberdade, não obriguei ninguém a vacinar-se no Brasil. Há certos assuntos no Brasil que são proibidos de ser abordados, e um é a vacina. Dizem o tempo todo: ‘ciência, ciência, ciência’ e eu digo: ‘liberdade, liberdade, liberdade'”, afirmou o ex-chefe de Estado.

“Do fundo do meu coração, como é gratificante ser recebido desta forma calorosa em qualquer lugar do Brasil e do mundo. […] Tive muito mais apoio [na campanha eleitoral] em 2022 do que em 2018, não sei porque é que os números [eleitorais] mostraram o contrário”, disse, insinuando novamente que existiu fraude eleitoral, sem apresentar provas e apesar de as autoridades brasileiras o negarem.

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Jair Bolsonaro encontra-se em solo norte-americano desde final do ano passado, para onde viajou antes da tomada de posse de Luiz Inácio Lula da Silva, que o derrotou nas anteriores eleições presidenciais do país.

Desde então, Bolsonaro tem aproveitado a sua permanência no estado da Florida para dar palestras em igrejas evangélicas ou para fazer transmissões nas redes socais com críticas a Lula da Silva.

A participação na CPAC será uma oportunidade para Jair Bolsonaro se encontrar com o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, de quem é um confesso admirador e que discursará também este sábado na conferência ultraconservadora.

“O meu relacionamento com Trump foi sempre excecional. Quero ter o prazer de daqui a pouco assisti-lo a subir a este palco. Fui o último Presidente a reconhecer as eleições de há dois anos nos Estados Unidos e continuo fiel aos nossos princípios, ao nosso lema, ‘Deus, Pátria, Família e Liberdade'”, declarou o político brasileiro.

Virando o seu discurso para um dos pontos mais defendidos pelos ultraconservadores norte-americanos – o direito à posse e porte de armas -, Bolsonaro afirmou que essa sempre foi uma das prioridades do seu Governo.

“Sempre concedi acesso e porte de armas de fogo. Contudo, a primeira medida deste ‘novo velho’ Governo foi remover os meus decretos. Eu sempre disse no Brasil: ‘povo armado jamais será escravizado’ e ‘país armado jamais será subjugado'”, afirmou, recebendo um forte apoio da plateia.

O antigo mandatário brasileiro aproveitou ainda para elogiar os “líderes” Republicanos presentes no evento, reforçando que “o povo precisa de liderança”.

O discurso de Bolsonaro englobou ainda referências à religião e a Deus, assim como à Amazónia, convidando todos os presentes na CPAC a visitar essa floresta, de forma a verem com os seus próprios olhos a realidade, ao invés “do que a imprensa mostra”.

“Sempre admirei o povo americano. O Brasil é importante para o mundo, hoje mais de mil milhões de pessoas dependem de nós para comer. Só o Brasil tem nióbio, temos água potável em abundância, temos uma Amazónia que pertence aos brasileiros. Convido-os a visitar a Floresta Amazónia, vão conhecê-la como ela é e não como a imprensa diz”, advogou.

“Somos um país de paz. E eu fosse Presidente não teríamos estes problemas com os navios iranianos”, acrescentou, referindo-se à polémica de a Marinha do Brasil ter autorizado que dois navios de guerra iranianos atracassem no Rio de Janeiro, apesar da solicitação dos Estados Unidos de que o Governo brasileiro negasse o pedido.

Antes de Bolsonaro, também o seu filho e deputado federal brasileiro, Eduardo Bolsonaro, subiu ao palco nesse encontro de ultraconservadores, numa palestra intitulada “A ameaça vermelha chega às Américas”, ao lado de Mercedes Schlapp, ex-conselheira estratégica da Casa Branca, e Eduardo Verastegui, da CPAC do México.

A CPAC é organizada pela American Conservative Union (ACU) e decorre anualmente desde 1974. A organização descreve-a como “o maior e mais influente encontro de conservadores do mundo”, que junta centenas de grupos, ativistas e líderes do movimento.

O evento permite a uma série de políticos e personalidades dirigirem-se diretamente ao público conservador e inclui uma votação informal que serve como barómetro da opinião dos participantes em relação a possíveis candidatos.