“Enquanto Putin estiver no poder, a guerra – ou, pelo menos, a ameaça de guerra – será permanente”, avisa Ilya Yashin, um dos mais proeminentes opositores do regime russo, que está a cumprir pena de 8 anos e meio por ter dito que o exército russo tinha massacrado civis em Bucha, na Ucrânia. Em entrevista por escrito dada ao The Guardian, Yashin diz que o “poder e impunidade ilimitados” levaram o Presidente russo a “enlouquecer” e a tornar-se um “escravo das suas ambições maníacas“. Retirar Putin do poder é essencial para evitar o risco de “uma nova guerra mundial”, avisa.
As respostas de Ilya Yashin, escritas na prisão, foram entregues ao The Guardian através dos advogados do homem que liderou um partido da oposição (PARNAS) entre 2012 e 2016. Nos últimos anos criou um canal de YouTube que ganhou grande popularidade e onde descreveu aquilo que aconteceu em Bucha como um “massacre” cometido pelos soldados russos – foi detido dias depois, em junho, e acabou por ser condenado em dezembro a oito anos e meio de prisão por “espalhar informação falsa”.
Apesar de ter uma sentença definida, Yashin, que tem 39 anos, é um dos ativistas e dissidentes auto-intitulados “presos PPZh”, o que significa que preveem estar presos “Enquanto Putin Estiver Vivo”. “Claro que temos uma hipótese de sair da prisão se houver uma mudança de regime na Rússia”, porém “não é uma questão de hoje ou amanhã”, afirma o opositor de Putin.
“Ele [o Presidente] odeia pessoas que se opuseram publicamente à agressão militar na Ucrânia e considera-os inimigos”, acrescenta. Estima-se que na Rússia tenham sido detidas mais de 19.500 pessoas por participarem em manifestações pacíficas ou por afirmarem publicamente posições contra a guerra. O que estes números não incluem são aqueles que fugiram do país – algo que Yashin não quis fazer.
“Porque é que me recusei a emigrar? Porque logo a partir do primeiro dia de combates eu considerei que deveria haver uma voz anti-guerra na Rússia, uma voz que falasse tão alto quanto possível, tendo em conta as circunstâncias”, explica o opositor russo.
Para criar uma “ilusão” de apoio generalizado em relação à guerra, “Putin intimida os russos, criou uma censura militar e força os seus opositores a saírem do país, sob ameaça de serem presos”. Mas, garante Ilya Yashin, “eu vivo cá e sei que não há apoio generalizado algum, há muitas pessoas contra a guerra“.