Quatro regiões do norte de Espanha querem aliar-se a Portugal para pressionar junto da União Europeia a construção de ligações de comboio e o reforço do transporte de energia entre a Península Ibérica e o resto da Europa.

Portugal é um “bom aliado, interessante e potente, para defender a ligação energética e ferroviária com a Europa“, afirmou o presidente do governo regional da Galiza, Alfonso Rueda, numa conferência de imprensa ao lado dos homólogos das Astúrias, Cantábria e País Basco, as regiões que estão na costa espanhola do Atlântico.

As ligações de comboio deste eixo do Atlântico Norte com a Europa têm de passar por França e pelo País Basco, pelo que é necessário trabalhar de forma “unida e com inteligência”, afirmou Alfonso Rueda.

Os líderes dos quatro governos regionais reuniram-se esta segunda-feira em Vitoria, no País Basco, para analisar as ligações ferroviárias e para transporte de eletricidade, gás e hidrogénio com o resto da Europa, e no final do encontro manifestaram preocupação com a possibilidade de desvio de investimentos e projetos europeus para o lado mais a leste da União Europeia (UE).

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Galiza, Astúrias, Cantábria e País Basco querem, segundo disseram os quatro, promover a criação de uma “macrorregião” que trabalhe como um lóbi na Europa para que o norte da Península Ibérica não fique relegado para segundo plano.

Os quatro dirigentes, que são todos de partidos diferentes, decidiram assim unir forças perante a “deslocação do eixo de influência europeu para o leste” atendendo a que se preveem novas adesões à UE nessa zona, havendo o risco de a Península Ibérica “ficar fora de foco nas relações e tomada de decisões estratégicas”, disse o presidente do governo do País Basco, Iñigo Urkulu.

O presidente da região da Cantábria, Miguel Ángel Revilla, falou mesmo no perigo de “desvio de projetos” do norte de Espanha para o leste da Europa.

Umas maiores preocupações manifestadas pelos quatro dirigentes foram as ligações de comboio, de passageiros e mercadorias, entre portos atlânticos e com a França, com alertas de não haver calendário, do lado francês, para cumprir compromissos assumidos no passado para levar projetos de ferrovia novos até à fronteira com Espanha, nas cidades de Irún/Hendaya (País Basco).

Espanha e a União Europeia “não podem consentir” que a França coloque “um tampão” ao desenvolvimento ferroviário comunitário, afirmou Revilla.

Espanha tem de exigir a França que resolva esta questão porque é chave e vital” e “uma prioridade” para as quatro regiões espanholas, afirmou o presidente do governo das Astúrias, Adrián Barbón, que realçou não estar em causa uma competição com as regiões mediterrânicas e do sul da Península Ibérica, mas a defesa de uma atuação “em paralelo”.

O presidente do governo basco, Iñigo Urkulu, afirmou que as quatro regiões pretendem tornar este encontro anual e estendê-lo às regiões espanholas da Andaluzia e Navarra e a outras de Portugal, Irlanda, Reino Unido e França, que fazem parte do designado “arco do Atlântico” europeu.

Iñiho Urkulu sublinhou que o objetivo é “reivindicar que a UE também olhe para o oeste” e afirmou que estas regiões vão aproveitar a presidência espanhola da União Europeia, no segundo semestre deste ano, para pedir o reconhecimento desta “macrorregião”, que assim poderá participar em fóruns internacionais e ganhar mais visibilidade.