O primeiro-ministro respondeu em Espanha ao Presidente da República e à entrevista em que este classificou de “requentada” a sua maioria e de “cansado” o seu Governo.  Sobre o cansaço do Executivo, António Costa atirou mesmo que “a generalidade dos ministros” deste seu terceiro Governo “são novos”: “Era o que faltava estarem cansados”.

Na conferência de imprensa da cimeira luso-espanhola, em Lanzarote, e ao lado do presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, António Costa começou por dizer que não lhe compete “fazer comentário político”, mas acabou por não deixar o Presidente da República sem resposta. Sobre a acusação de ter em mãos uma “maioria requentada”, António Costa lembrou que desde 2009 não existia Governo com maioria em Portugal (referindo-se ao primeiro de José Sócrates), para concluir que a sua “não é seguramente requentada”.

“E se o Governo está cansado não vejo porquê porque a generalidade dos ministros são novos, não eram ministros anteriormente. Era o que faltava estarem cansados. Estão plenos de energia para governar este percurso até outubro de 2026”, disse ainda Costa quando questionado sobre a entrevista que o Presidente deu na semana passada à RTP e onde deixou críticas ao Governo.

Também disse, ainda sobre este assunto, que “as pessoas não governam nos cenários que escolhem, são escolhidas para governar perante os cenários que existem” e que foi ele o “escolhido dos portugueses” nas últimas eleições. Isto quando referiu que “não é um sonho” o cenário que lhe calhou em sorte, com “a crise financeira, o procedimento de défice excessivo, a guerra, o Covid e a inflação”.

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Ao seu lado, o homólogo espanhol confessou ter “uma inveja saudável” da maioria socialista em Portugal. “A realidade parlamentar em Espanha é muito mais fragmentada”, queixou-se Sánchez, que afirmou que deseja “voltar a ampliá-la, seguindo o exemplo de António Costa”, detalhando que se estava a referir a acordos com “os parceiros no Governo”. Referiu-se ainda ao primeiro-ministro português como “uma referência socialista europeia”.

“Com quadro relatório tão forte como o da energia, inflação estaria mais controlada noutros setores”

Num momento de crise, os dois países apontam como bom exemplo a iniciativa conjunta para travar a subida de preços da eletricidade, referindo diversas vezes a solução ibérica. Com o primeiro-ministro português a dizer mesmo que “se em relação aos outros setores tivesse havido a possibilidade de termos um quadro regulatório tão forte como o da energia seguramente a inflação hoje estaria mais controlada do que aquilo que está”.

O primeiro-ministro não detalhou se e de que foram tenciona avançar com uma intervenção mais forte noutros setores, para controlar os preços, mas deu a entender que gostaria de ter margem para agir.

Quanto à proposta apresentada esta semana pela Comissão Europeia para a reforma do mercado de eletricidade, o primeiro-ministro português lamentou que “seja muito tímida”, ficando “muito aquém do que é necessário”, apontando mais uma vez para a solução ibérica como exemplo. “O que é verdadeiramente necessário é o que Espanha e Portugal têm vindo a defender que é acabar com a guerra marginalista de fixar o prelo da eletricidade pelo preço mais elevado na sua fonte de produção”, afirmou ao lado de Sánchez que também referiu esta solução por diversas vezes.

Costa foge à Iberia na privatização da TAP: “Não saímos de terra”

Foi também neste contexto, que os dois chefes de Governo foram questionados sobre o eventual interesse da companhia espanhola Iberia na privatização da TAP. Sánchez deixou para Costa que empurrou para outros carris.”Falámos de ferrovia”, disse o primeiro-ministro português quando os jornalistas perguntaram se tinham aproveitado o encontro para falar também desse dossiê.

“Falámos de ferrovia, do ponto de situação sobre como em 2024 já estará a funcionar a ligação Lisboa-Badajoz. Falámos de como estão a avançar os estudos para a ligação entre Porto e Vigo. Falámos também como lançaremos no futuro o estudo para a ligação Andaluzia e Algarve”, exemplificou para depois concluir: “Falámos muito sobre ferrovia. Foram muitos assuntos terrenos, não saímos da terra para falar de mobilidade”.