O diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS), Fernando Araújo, defendeu, esta quarta-feira, o plano para o funcionamento das urgências pediátricas da região de Lisboa e Vale do Tejo, que vai funcionar de 1 de abril a 30 de junho, altura em que será reavaliado, durante o programa “Grande Entrevista”. Na RTP, o dirigente relacionou o mesmo com um “consumo inapropriado” das urgências.
“Este plano foi amplamente discutido ao longo das últimas semanas em todos os serviços de pediatria desta região”, afirmou sobre o seu desenvolvimento. Grande parte das urgências de pediatria são “pulseiras azuis e verdes” — mais de 50%, em geral, mas podem chegar aos 70% em Torres Vedras. “Há um consumo inapropriado desses locais”, acredita o diretor-executivo do SNS, que começa na “literacia em saúde” dos portugueses.
“A primeira resposta quando uma criança tem uma febre não é seguramente a urgência pediátrica”, declarou. “Temos um número de urgências muito superior por habitante a qualquer país europeu, [Portugal] é o país que tem mais urgências.”
Para reduzir esta pressão, está a ser construído um grupo na Linha Saúde 24 que se vai dedicar operacionalmente a essas situações, orientando melhor quem liga com um problema de saúde sobre o que deve ser feito nessas alturas. Outra medida passará por preparar campanhas com a Direção-Geral da Saúde nesse sentido, para dar resposta a esta “procura excessiva”.
Sobre o apoio prestado pelos centros de saúde, que poderia aliviar a pressão nas urgências, sublinhou que “nunca foi feito tanto investimento nos casos primários”, destacando as infraestruturas e o papel do PPR e das autarquias como parceiros do nesse sentido. A capacidade em centros de diagnóstico também será aumentada.
Questionado sobre o Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, admitiu que o fecho das urgências pediátricas “foi anterior ao planeamento” e provocado por falta de recursos humanos. O objetivo atual é captar profissionais de saúde para voltar a abrir ao fim de semana durante o dia. Mas não se cumpre “de um dia para o outro”.
É necessário respeitar a sazonalidade, segundo o diretor-executivo do SNS, um dos fatores a serem tidos em conta, passando a solução por um modelo mais flexível, com respostas diferentes no verão e no inverno, que carece de respostas mais consistentes. “Cada vez é isso que fazem mais os países da Europa”, ter sistemas mais flexíveis e ajustados à procura sazonal.
Apesar da contestação ao plano por parte de profissionais e utentes, Araújo garantiu que Manuel Pizarro concordou com a proposta. “Temos tido do lado do Ministério da Saúde total abertura”, afirmou.
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A captação de recursos humanos é um dos grandes desafios, assumiu. Os cargos não são “estimulantes para alguns”, por um lado, e os “vencimentos não são competitivos”, por outro, face aos privados. “Queremos trazer essas boas pessoas e dar-lhes projetos de vida.”
“Muito mais do que andarmos a nomear à pressa, temos que encontrar pessoas com qualidade”, declarou, sublinhando o desgaste dos profissionais de saúde após os dois anos “muito intensos” da pandemia, “uma pressão enorme” que cria dificuldades na hora do recrutamento. Os profissionais de saúde, acredita, estão com “alguma descrença” e há um problema de “motivação”. “Há um componente de dinheiro, mas neste momento o nosso problema maior é de gestão”, concluiu ainda Fernando Araújo.