Jim Gordon, baterista que durante anos trabalhou com Eric Clapton e colaborou ainda com nomes como John Lennon, Carly Simon, Frank Zappa ou os Beach Boys, tido como um dos melhores da sua geração, morreu esta quarta-feira aos 77 anos.

O músico, ativo sobretudo durante o final da década de 1960 e princípio da de 1970, acabou por ficar votado ao esquecimento de forma trágica: a 3 de junho de 1983, no decurso de um episódio esquizofrénico, matou a mãe com um martelo e uma faca de cozinha. Foi condenado pelo crime no ano seguinte e passou o resto da vida atrás das grades.

Para trás ficou uma carreira curta (mas notória) como um dos bateristas mais prolíficos da cena rock norte-americana. Um talento prodigioso desde tenra idade, recusou uma bolsa da Universidade de Los Angeles com apenas 17 anos, embarcando numa carreira musical em 1963. Nos anos seguintes, a sua reputação foi crescendo dentro da comunidade musical, como atestam as aparições em projetos como “Pet Sounds” (1967) dos Beach Boys ou “All Things Must Pass” (1970), do ex-Beatle George Harrison.

Em 1970, integrou o grupo de blues rock Derek and the Dominos, encabeçado por Eric Clapton, e participou naquele que é apontado por muitos como o melhor álbum da carreira do músico inglês: “Layla and Other Assorted Love Songs” (1970). Foi, aliás, co-autor (com Clapton) de Layla, o tema mais conhecido do disco, no qual Gordon — que também era pianista — foi responsável pela melodia de piano que conclui a música.

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Considerado um dos principais temas da carreira de Eric Clapton, integrou a lista das 500 melhores músicas de sempre para a revista Rolling Stone, e foi ao longo dos anos usada em filmes e séries televisivas — mais notoriamente pelo realizador Martin Scorsese, que utilizou a secção de piano de Gordon numa das cenas mais conhecidas do filme “Goodfellas” (1990).

A verdadeira autoria da melodia foi colocada em causa nos anos seguintes. A artista Rita Coolidge, sua namorada à época, afirmou ser ela a verdadeira autora da secção de piano, acusando Gordon e Clapton de terem usado a composição sem a creditar (algo que foi corroborado por Bobby Whittlock, colega de ambos na banda).

Os Derek and the Dominos viriam a separar-se em 1971 após digressões pelos Estados Unidos e Reino Unido. Depois disso, integrou a banda de rock britânica Traffic, e colaborou ainda com Frank Zappa e Alice Cooper.

Com o passar do anos, a sua carreira foi ficando para trás devido ao abuso de substâncias, sobretudo álcool e heroína, aliados a problemas psiquiátricos não diagnosticados. Numa entrevista à Rolling Stone, em 1985, contou que começou a ouvir vozes e internou-se num hospital psiquiátrico — sempre com o apoio da mãe, que descreveu como “a única amiga” que tinha.

No entanto, não foi suficiente para impedir a tragédia. No meio de um surto psicótico, acabou por matar a mãe. Na mesma entrevista, descreveu os seus pensamentos à época.

Não a queria matar. Queria estar longe dela. Não tive escolha. Foi algo de tão natural, era como se estivesse a ser guiado, tipo um zombie. Ela queria que eu a matasse, por isso boa viagem para ela”.

Em 1984, foi condenado por homicídio a uma pena entre 16 anos e prisão perpétua. A liberdade condicional foi-lhe sempre sendo negada, com médicos e autoridades a considerarem que Gordon continuava a representar um perigo para si mesmo e para os outros quando não estava medicado. Acabaria por morrer encarcerado no Centro Médico da Califórnia, uma prisão psiquiátrica na região de São Francisco, onde se encontrava a cumprir pena.