A Reserva Federal dos EUA decidiu, nesta quarta-feira, subir a taxa de juro de referência em 25 pontos base, para um intervalo entre 4,75% e 5%, apesar da turbulência em partes do setor financeiro que se sentiu nas últimas semanas. O banco central retirou, no comunicado oficial, a referência a futuros aumentos da taxa de juro, o que foi inicialmente lido pelos investidores bolsistas como um possível sinal de que esta poderá ter sido a última subida deste ciclo. O presidente da Reserva Federal garante que o sistema financeiro está “seguro e saudável” e confirma que todos os depósitos estão seguros, mesmo aqueles que têm valor acima do limite legal de 250 mil dólares.
Nas últimas semanas, as expectativas em relação a esta decisão oscilaram entre duas hipóteses: uma possível subida de 50 pontos base (o que seria uma aceleração justificada pelos dados da inflação, que não estão a baixar tão rapidamente quanto desejável) e, em alternativa, manter-se as taxas de juro inalteradas, no que seria uma reação de cautela depois alguns bancos de menor dimensão terem colapsado ou enfrentado grandes dificuldades associadas, em parte, à rápida desvalorização dos títulos de dívida pública norte-americana (que é promovida pelas sucessivas subidas das taxas de juro).
No final, após a reunião de dois dias do Comité de Operações no Mercado Aberto (FOMC, na sigla original do organismo que decide as taxas de juro do dólar), o banco central decidiu uma decisão pelo ponto intermédio: uma subida de 25 pontos base, um quarto de ponto percentual, que eleva as taxas de juro para o intervalo entre 4,75% e 5%. Ainda assim, a Reserva Federal debateu a hipótese de se fazer uma “pausa” no ciclo de subidas das taxas de juro.
Desde o verão de 2007, antes do início da grande crise financeira global de 2008, que as taxas de juro nos EUA não estavam tão elevadas.
Banca está “saudável” e “é resiliente”, garante Jerome Powell
Apesar de a crise bancária não ter demovido a Reserva Federal (Fed) de subir as taxas de juro, o banco central norte-americano admite que a turbulência recente irá pesar no crescimento económico e na atividade de concessão de crédito. Porém, a banca dos EUA está “saudável” e é “resiliente” e “bem capitalizada”, garante o banco central.
A Reserva Federal reconhece, porém, que embora os problemas se circunscrevam a alguns bancos, a História mostra que “casos isolados” de instabilidade financeira são capazes de desestabilizar instituições saudáveis e o sistema como um todo. Por essa razão, o banco central está “pronto para utilizar todos os instrumentos para garantir que o sistema bancário continua saudável e seguro”, afirmou Jerome Powell, presidente da Reserva Federal.
Em linha com aquilo que já tinha sido transmitido pela Administração Biden, pela voz da secretária do Tesouro Janet Yellen, todos os depósitos bancários têm, neste momento, uma garantia pública – mesmo aqueles que excedem valor que está previsto na lei como a fasquia que separa depósitos seguros e não-seguros (250 mil dólares por titular, por conta).
Quanto às taxas de juro, a Reserva Federal abandonou a indicação anterior de que “será apropriado que haja aumentos contínuos” e substituiu essa frase pela expectativa de que se pode esperar “mais alguma firmeza adicional” na política monetária, uma formulação diferente que torna mais ambígua a orientação futura sobre os próximos passos.
“Vamos tomar as nossas decisões de reunião para reunião, com base na totalidade dos indicadores que recebemos”, afirmou Jerome Powell, garantindo que vai manter o empenho em controlar a inflação – porque “uma economia com inflação elevada é uma economia que não é boa para ninguém“.
Fed “reconhece que estamos perto do pico das taxas”, dizem analistas
Em comentário à decisão da Reserva Federal e aos comentários de Jerome Powell, os economistas do banco holandês ING salientam que o que foi feito hoje “foi um reconhecimento, por parte do banco central, de que estamos perto do pico das taxas”. Pode, até, nem haver mais nenhuma subida, acrescentam, já que no comunicado se lê que o banco central “pode” optar por essa “firmeza adicional” nas taxas de juro – ou seja, também pode optar por não o fazer.
Sobre a instabilidade no setor financeiro, se a Fed passou uma mensagem de relativo otimismo acerca dessa matéria, o ING diz-se “um pouco mais pessimista“. “Mesmo antes da turbulência recente na banca, já tínhamos observado um aumento rápido dos custos de financiamento (…) e a economia sentiu um aperto nas condições de crédito, algo que antecipamos que irá cada vez mais penalizar a concessão de empréstimos e, por sua vez, penalizar o crescimento económico”.
Agora, acrescenta o ING, com a incerteza que tomou conta do setor financeiro nas últimas semanas, “os bancos vão tornar-se mais cautelosos sobre os créditos que fazem, a quem os fazem e a que taxa de juro”. Por outro lado, “com os reguladores a sentirem a necessidade de serem mais proativos, isso poderá agravar ainda mais a aversão [dos bancos] ao risco e levar a banca a apertar ainda mais os critérios de concessão de crédito”, receia o banco holandês.
Apesar deste enquadramento, tanto o ING como os economistas do alemão Commerzbank antecipam que ainda deverá haver mais um aumento das taxas de juro – de mais 25 pontos-base – na próxima reunião, em maio. E esse será o pico, admitem os economistas – porém, não é uma certeza que assim seja: “as pressões inflacionistas devem manter-se demasiado elevadas e, por isso, vemos um risco maior de que a Fed suba mais os juros do que atualmente se prevê”.