Depois da cimeira ibero-americana na República Dominicana, Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa viajaram juntos este domingo até ao Luxemburgo, onde apelaram ao voto dos portugueses que vivem naquele país para as próximas eleições locais. E o Presidente voltou a ser questionado sobre as divergências com o primeiro-ministro, nomeadamente se considera que atropelou algum dos poderes do Governo, mas Marcelo negou.
Na sequência das críticas de Marcelo ao pacote de medidas para a habitação, António Costa tem referido diversas vezes que cada um dos órgãos de soberania tem o seu tempo para falar, sugerindo que o Presidente estaria a falar fora do momento. Confrontado com o eventual atropelo de poderes da sua parte, o chefe de Estado descartou. “Nem vice-versa, também não tenho pensado que a Assembleia da República, o Governo ou o primeiro-ministro tenham atropelado os poderes de outros órgãos de soberania, ou que qualquer um de nós tenha atropelado os poderes dos tribunais.”
O Presidente da República voltou a dizer que “nunca houve nenhuma zanga pessoal”. E repetiu: “Muitas vezes, quem observa a realidade política, observa a espuma dos dias e não percebe que o papel de cada um de nós é diferente. E que é nessa diferença que reside a riqueza do sistema político português. Nem o Presidente é presidencialista e manda tudo, nem o Governo é um sistema parlamentarista. É um equilíbrio”.
“É evidente que há divergências, como ontem explicámos. As divergências, não só são naturais no sistema, são naturais em democracia e não têm nada a ver com problemas pessoais”, afirmou em linha com o que já ambos tinham dito no sábado à margem da Cimeira Ibero-americana na República Dominicana.
Tensão “não abalou relação de forma alguma”. Mas Costa sublinha que regime não é presidencialista
Quanto ao apelo ao voto dos portugueses nas eleições locais, veio tanto de Marcelo como de Costa. Até ao final de janeiro, inscreveram-se 4.600 portugueses para votar, avançou o Presidente da República, que não ficou convencido com o número: “Estamos a brincar. Como é que é possível? Vamos admitir que não são 125 mil, mas 100 mil, 95 mil (portugueses no Luxemburgo). Como é que é possível não sermos mais a votar? Somos o dobro dos franceses”.
“Participar nas eleições locais do Luxemburgo não diminuiu em nada a portugalidade, nem o vínculo a Portugal. Aqueles que partiram de Portugal em busca uma outra vida, ganharam verdadeiramente duas pátrias — aquela onde nasceram e aquela onde trabalham”, acrescentou o primeiro-ministro.
Marcelo versus Costa: eles falam, falam, falam, mas no fim há sempre um guarda-chuva
“Hoje, felizmente, os portugueses que residem no Luxemburgo têm uma enorme vantagem: podem votar nas eleições para o Presidente de Portugal, podem votar nas eleições para a Assembleia da República e podem votar também nas locais aqui no Luxemburgo. E nada disto os diminuiu, nem no Luxemburgo, nem em Portugal”, acrescentou. As eleições locais no Luxemburgo estão marcadas para o dia 11 de junho e os portugueses que vivem e trabalham neste país podem inscrever-se até 17 de abril. E António Costa sublinhou ainda que “o direito de voto é livre e, portanto, cada um pode votar em quem bem entender“.
Já Marcelo Rebelo de Sousa, além de apelar ao voto dos portugueses ali presentes, falou sobre a viagem que fez com António Costa: “Viemos, o senhor primeiro-ministro e eu, da República Dominicana. Fizemos 12 horas de viagem para estar aqui, mas faríamos 24 para estar aqui”. E a olhar para Costa, Marcelo deu ainda “uma palavra ao primeiro-ministro” do Luxemburgo, Xavier Bettel, em tom de brincadeira: “Estou a meio do meu último mandato, vai ser muito perigoso ter Bettel como adversário se ele decidir candidatar-se em Portugal. Pode ser um problema para si, senhor primeiro-ministro”.