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Sete divergências, nenhuma razão e um motorista. A audição a Alexandra Reis (que até saía sem indemnização se ministro pedisse)

Este artigo tem mais de 1 ano

Alexandra Reis livrou Medina (para já) de culpa. Teria saído sem indemnização se Pedro Nuno pedisse. Admitiu divergências com a CEO numa audição onde um dos protagonistas foi um motorista da TAP.

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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Alexandra Reis já tentou, sem sucesso, devolver por três vezes a indemnização recebida da TAP, ainda que discorde do parecer da Inspeção-Geral de Finanças (IGF) que a declara ilegal, e até hoje não sabe a verdadeira razão para ter sido demitida da TAP. Numa audição que durou seis horas e meia, as respostas da gestora (acompanhada do advogado Pedro Melo, da Miranda Associados) livraram (para já) Fernando Medina da suspeita de que saberia de toda a história quando a convidou para o Governo, apesar de ter sido muito questionada sobre as relações com a mulher do ministro das Finanças, a ex-diretora jurídica da TAP.

Alexandra Reis diz que não pretende ser readmitida na TAP, mesmo que a isso tivesse direito

Alexandra Reis nunca perdeu a calma nas respostas dadas aos deputados mesmo quando as perguntas eram repetidas (tal como as respostas). Uma das repetições foi quando disse que estaria disponível para ter saído da administração da TAP, sem receber contrapartida, se o pedido tivesse sido feito pelo ministro, Pedro Nuno Santos, na sequência de ter colocado uma semana antes o seu cargo à disposição por causa da saída do acionista privado (Humberto Pedrosa) que a tinha nomeado.

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Mas a ordem para sair veio de Christine Ourmières-Widener, a 25 de janeiro, e envolvia o vínculo contratual com a TAP. Daí o racional do pedido inicial de indemnização tão elevado de 1,3 milhões de euros. E, nas respostas que foi dando aos deputados, Alexandra Reis acabou por contar episódios que ajudam a perceber porque é que afinal a CEO queria livrar-se dela, e com urgência, ainda que para a gestora essa urgência fosse explicada pelo facto do acordo de saída ter caído em cima das eleições legislativas. E entre esses episódios estava o caso insólito do motorista que quase foi despedido porque não estava vacinado contra a Covid-19.

Alexandra Reis diz que CEO da TAP tentou despedir motorista não vacinado, o mesmo que denunciou uso pessoal do carro pela presidente

1A ex-administradora começou por ser questionada sobre se tinha conhecimento da utilização de carros de serviço para motivos não profissionais, nomeadamente para familiares da CEO. Alexandra Reis começou por explicar que o presidente do Conselho de Administração instituiu uma regra: os carros e motoristas só poderiam ser utilizados para questões da empresa. A regra poderá ter tido origem num desabafo de um motorista, que contou que um colega fazia deslocações não diretamente para a CEO. E poderá ter havido uma retaliação? Aqui, Alexandra Reis revelou mais um detalhe. Nessa altura, a CEO deu nota de que um dos motoristas não estava vacinado contra a Covid-19 e que não podia continuar na empresa a exercer funções. Acontece, acabaria por revelar, que era o mesmo motorista que tinha contado que fazia deslocações extra para a CEO. “A situação foi contornada, fiz a gestão do tema e o rapaz decidiu vacinar-se”. E não foi despedido. O tema ficaria por aqui não tivesse havido mais uma revelação do Chega. A de que o mesmo motorista era familiar do presidente de um dos sindicatos da TAP. Alexandra Reis garantiu que só soube disso depois de sair da empresa.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

2 Alexandra Reis diz que aceitou “de boa fé a proposta de acordo apresentada pela TAP que correspondia a uma indemnização de 500 mil euros”. E revelou logo na intervenção inicial que desde o dia seguinte à divulgação da auditoria, 7 de março, que os seus advogados contactaram a TAP para o apuramento dos valores a devolver. “Continuo a aguardar essa indicação mesmo após três insistências”. Isto apesar de discordar do parecer da Inspeção-Geral de Finanças que determina essa devolução. E do ponto de vista jurídico considerar ser discutível se teria de o fazer por terem já passado 12 meses da sua receção. Indicou ainda não ter qualquer intenção de reingressar na TAP, na sequência do acordo global de saída ter sido considerado nulo.

3 A ex-gestora disse duas vezes que teria aceitado sair da administração da TAP, sem indemnização, na sequência do email em que colocou o cargo à disposição do Governo, se o ministro das Infraestuturas lhe tivesse pedido para o fazer. Não teve resposta a esse mail e, uns dias depois, foi informada de que teria de sair da administração e da empresa (com rescisão de vínculo) pela presidente executiva, o que para Alexandra Reis é totalmente diferente.

4 Apesar de ter elencado sete divergências identificadas na imprensa entre si e a presidente executiva, nenhuma delas foi o desalinhamento com a execução do plano de reestruturação, que é o grande motivo apontado por Christine Ourmières-Widener. Mudança de sede, renovação de frota automóvel, contratação de diretores e altos quadros, procedimentos de procurement (onde se inserirá a recusa por parte de Alexandra Reis da contratação da empresa ligada ao marido da CEO), otimismo do plano de reestruturação, conversão de empréstimo acionista em capital da TAP e renovação da frota dos aviões ATR versus Embraer — Alexandra Reis admitiu que ainda hoje não sabe porque razão foi demitida e afirmou desconhecer o envolvimento do Governo no processo de negociação do lado da TAP. Quando perguntou a Christine se o Governo sabia da sua saída da empresa, esta respondeu of course.

As divergências. Sede e contratações “mais caras”, frota insuficiente, pelo meio “instruções muito claras” para não contratar marido de CEO

5 Mas, ao longo da audição, Alexandra Reis desenvolveu algumas destas divergências. Uma delas foi a recusa de contratação de serviços a uma empresa de tecnologia à qual o marido de Christine Widener tinha ligações. Revelou que deu instruções à equipa de compras para não contratar a Zamna Tecnologies, mas nega ter falado com a CEO sobre o tema. A equipa de compras entendeu alertar a administradora com o pelouro por causa do potencial conflito de interesses se o processo avançasse.

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6 Outra das divergências assumidas com Christine Ourmières-Widener foi o recrutamento de quadros, nomeadamente a contratação de pessoas no estrangeiro. Alexandra Reis revelou aos deputados que estes novos colaboradores vieram sobretudo do Reino Unido, de França e uma pessoa da América do Sul. E que “algumas pessoas não escondiam proximidade com a CEO”. Eram, inclusive, “transparentes no tipo de relação que tinham com a CEO”. Questionada sobre a nacionalidade destas pessoas mais próximas de Christine, adiantou que “penso que eram franceses”. Estes novos recrutamentos, por serem “mais difíceis de fazer”, “ficaram mais caros”, afirmou ainda. Porque o corte de salários em vigor “tornava a empresa menos atrativa” e, “competindo no mercado internacional, acaba por ser assim”. Referiu ainda que a presidente executiva quis substituir pessoas que considerou não serem certas para as funções que desempenhavam pelo seu perfil e, por exemplo, o nível de inglês.

7 Confrontada com uma possível “tensão” com o CFO Gonçalo Pires, Alexandra Reis explicou que esse momento surgiu quando o CFO pediu à sua equipa de procurement apoio num processo relacionado com a frota. “A minha equipa não estava habituada a receber pedidos de trabalho de outro administradores sem articulação prévia comigo, que é o cordial entre colegas de Comissão Executiva”. Isto aconteceu a 27 de janeiro de 2022, dois dias depois de Alexandra Reis ter sido informada de que deveria sair da empresa. Alexandra Reis disse que recorda apenas este momento de tensão com Gonçalo Pires, e que disse ao CFO que se houvesse necessidade de apoio da sua equipa, que se deveria articular consigo, e não agir por iniciativa própria.

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8 Sobre o convite para a NAV, Alexandra Reis indicou que foi sondada pelo secretário de Estado das Infraestuturas a 22 de março, antes da tomada de posse do novo Governo, mas o convite formal veio depois. Sobre o convite de Fernando Medina para secretária de Estado do Tesouro, não sabe quem a indicou, mas não imagina que teria sido a ex-diretora jurídica da TAP (mulher de Fernando de Medina). As relações com Stéphanie Sá Silva eram boas, mas de âmbito profissional, ainda que Alexandra Reis admita ter tido dois encontros já fora da TAP e no quadro da lógica de networking que descreve como normal entre ex-colegas de trabalho. A gestora garantiu ainda que nunca falou com Fernando Medina sobre a sua saída da TAP, nem sobre a indemnização que recebeu.

Medina convidou Alexandra Reis para Governo. Gestora não associa convite a Stéphanie Silva, ex-colega e mulher de ministro

9 Alexandra Reis revela ainda que o advogado da SRS Legal que negociou a sua indemnização da parte da TAP, César Sá Esteves, era o mesmo que estava na NAV e a quem pediu apoio para preencher a declaração de rendimentos e património ao Tribunal Constitucional. Indica ainda que clarificou nessa declaração o valor líquido da indemnização que recebeu da TAP e que estava incluído no saldo bancário, mas não identificado.

 
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