O Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) disse este domingo que prevê a libertação de 200 pessoas, naquele que será o terceiro dia de troca de prisioneiros entre o Governo do Iémen e os rebeldes huthis.

As operações começaram este domingo, com a saída de um avião, fretado pela CICV, da cidade de Sana, capital do Iémen — controlada por os rebeldes huthis — para Marib, no centro do país.

Um total de 107 insurgentes e 89 pessoas leais ao governo internacionalmente reconhecido do Iémen — apoiado pela Arábia Saudita — serão libertados, informaram os dois lados do conflito que começou em 2014.

Entre os libertados, por parte dos rebeldes huthis, estão quatro jornalistas: Tawfig Mohamed Thabet, Al Hariz Saleh, Akram Saleh e Abduljalek Ahmed.

Segundo organizações internacionais, estes jornalistas foram sequestrados pelos rebeldes huthis em 2015 e, cinco anos depois, foram condenados à morte por um tribunal insurgente.

Segundo o Governo, também viajarão a bordo dos aviões os filhos e familiares do antigo vice-presidente do governo internacional do Iémen, entre 2016 e 2022, Ali Mohsen al Ahmar.

Do aeroporto de Sana, o porta-voz do CICV, Fatima Sator, disse à agência de notícias Efe que estas operações são “muito exigentes, logisticamente”, já que envolvem 15 voos em quatro aviões de seis cidades do Iémen e da Arábia Saudita.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Fatima Sator confirmou que esta segunda-feira será o último dia de troca de prisioneiros, sem avançar com mais detalhes sobre as operações.

A porta-voz afirmou que o CICV no terreno tem a responsabilidade de garantir que as trocas se realizam corretamente e com “neutralidade” e também se encarrega de visitar os detidos antes de embarcarem nos aviões “para assegurar que estão a ser tratados com dignidade”.

A organização também oferece caixas de alimentos aos libertados para que possam comer após o pôr-do-sol, uma vez que as operações decorrem durante o Ramadão, mês sagrado para os muçulmanos, que não permite comer, beber nem manter relações sexuais durante o dia.

Na sexta-feira, um primeiro voo com 125 pessoas deixou Áden, sede do Governo reconhecido do Iémen, em direção a Sana, capital do país, sob controlo dos rebeldes, enquanto outras 35 pessoas faziam o trajeto inverso. Pouco depois, outras 124 pessoas foram transferidas de Áden para Sana e 34 seguiram na direção oposta.

A troca de prisioneiros começou na sexta-feira, com vários dias de atraso, após um acordo alcançado a 20 de março na capital suíça, Berna, numa reunião copresidida pelo CICV e em que participou o enviado especial do secretário-geral das Nações Unidas para o Iémen, Hans Grundberg.

No passado dia 08 de abril, uma delegação da Arábia Saudita e de Omã chegou a Sana para discutir com os líderes dos rebeldes huthis a possibilidade de iniciar um processo de paz, tendo estas negociações permitido a troca de prisioneiros agora realizada.

Segundo o CICV, nos primeiros dois dias foram libertados 675 prisioneiros e, até ao final do dia deste domingo, a organização prevê a libertação de 887 pessoas detidas por ambas as partes, a segunda maior troca desde o início do conflito, depois de, em 2020, ter ocorrido uma operação que libertou 1.000 pessoas.

O Iémen é palco de um conflito desde 2015 entre o Governo, apoiado pela Arábia Saudita, e os rebeldes huthis, apoiados pelo Irão e que conquistaram grandes porções do território do país, incluindo a capital Sana.

A guerra no Iémen levou o país à pior catástrofe humanitária da atualidade, segundo as Nações Unidas. Mais de 21 milhões de iemenitas [dois terços da população] precisarão de ajuda este ano e 17 milhões destes precisarão recebê-la com urgência para sobreviver.

O conflito provocou quase 380.000 mortos, seja pelos combates ou pela fome e doenças, e quatro milhões de deslocados, segundo dados levantados pelas agências da ONU.