O ministro das Relações Exteriores do Brasil defendeu na segunda-feira as relações do país com Moscovo, rejeitando as críticas norte-americanas de que Brasília está a fazer “eco da propaganda russa” sobre o conflito na Ucrânia.

“Não sei como ou por que ele [porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA] chegou a essa conclusão. Mas não concordo de forma alguma”, disse Mauro Vieira aos jornalistas, em Brasília, onde o Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, se encontrou com o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov.

O ministro das Relações Externas afirmou inicialmente que não tinha ouvido as críticas da Casa Branca. “Não posso dizer nada, porque nem ouvi e não sei do que se trata. Eu só posso dizer que o Brasil e a Rússia completam neste ano 195 anos de relações diplomáticas com embaixadores residentes e, enfim, são dois países que têm uma história em comum”, declarou, citado pelo Folha de S. Paulo.

Os Estados Unidos afirmaram na segunda-feira que o Brasil está a repetir a propaganda russa e chinesa “sem ter em conta os factos”, depois de o Presidente brasileiro ter acusado Washington e a União Europeia (UE) de prolongar o conflito na Ucrânia e horas depois de Vieira ter afirmado ser contra as sanções impostas à Rússia, durante uma conferência de imprensa em Brasília ao lado do homólogo, Sergei Lavrov.

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“Neste caso específico, o Brasil está a repetir a propaganda russa e chinesa, sem ter em conta os factos”, realçou na segunda-feira John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, órgão diretamente ligado ao Presidente norte-americano.

No sábado, Luiz Inácio Lula da Silva defendeu que os Estados Unidos devem parar de “encorajar a guerra” na Ucrânia e a UE deve “começar a falar de paz”.

Desta forma, a comunidade internacional “poderá convencer” o Presidente russo, Vladimir Putin, e o homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, de que “a paz é do interesse de todo o mundo”, acrescentou. “É necessária paciência” para falar com Putin e Zelensky, disse. “Mas, acima de tudo, temos de convencer os países que fornecem armas, que encorajam a guerra, a parar”, indicou.

Rússia quer resolução “duradoura e imediata” do conflito na Ucrânia

Lula da Silva falava na conclusão de uma visita aos Emirados Árabes Unidos, depois de ter estado na China.

O chefe de Estado português reagiu, na segunda-feira, à polémica, lembrando posições do Brasil na ONU sobre a guerra na Ucrânia até fevereiro, já com Lula na Presidência, “ao lado de Portugal, da UE, dos EUA, da NATO, contra a Federação Russa”.

Em declarações aos jornalistas, à margem da cerimónia de entrega do Prémio Pessoa, na Culturgest, em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa questionou se o Brasil mudou de posição, frisando que Portugal não mudou, mas desdramatizou desde já as divergências em matéria de política externa.

O Presidente da República argumentou que a visita de Estado que Lula da Silva fará a Portugal, entre 22 e 25 de abril, “não tem nada a ver com a posição sobre a Ucrânia, nem tem nada a ver com as polémicas internas”, e rejeitou qualquer arrependimento pelo convite ao homólogo: “Não, não me arrependi de coisa nenhuma”.

Marcelo e o convite para Lula visitar Portugal: “Não, não me arrependi de coisa nenhuma”

Sobre a guerra iniciada com a invasão russa da Ucrânia em 24 de fevereiro do ano passado, Marcelo Rebelo de Sousa sustentou que “a posição brasileira até agora tem sido muito consistente” no quadro da ONU, com apenas uma abstenção, em abril de 2022, quando se votou a suspensão da Rússia do Conselho de Direitos Humanos.

Recorrendo a um papel com as votações na ONU, o chefe de Estado referiu que o Brasil “votou a favor do não reconhecimento das regiões ocupadas da Ucrânia” e “voltou a votar, ainda no mandato do [anterior] Presidente [Jair] Bolsonaro, que a Rússia deve ser responsabilizada pelas violações”.

“E, já com o Presidente Lula, em fevereiro, pediu a retirada imediata das tropas russas da Ucrânia”, realçou, concluindo: “Ou seja, a posição brasileira nas Nações Unidas tem sido sempre a mesma: ao lado de Portugal, da União Europeia, dos Estados Unidos da América, da NATO, contra a Federação Russa”.