Lula da Silva culpou recentemente os Estados Unidos e a União Europeia por terem contribuído para a guerra na Ucrânia. Ao mesmo tempo, o Presidente brasileiro tem-se aproximado da China, tendo visitado o país na semana passada e, na ocasião, reiterado que Brasília e Pequim estão unidos na resolução do conflito. O Brasil também não vira costas à Rússia — o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, visitou, esta segunda-feira, a capital brasileira e esteve reunido com o chefe de Estado.

O Brasil já assumiu que quer juntar um grupo de países neutrais para chegar a uma resolução do conflito, que dura há mais de um ano. Lula da Silva esteve não só na China, como também nos Emirados Árabes Unidos, para enfatizar a importância do fim da guerra na Europa. Paralelamente, o Presidente brasileiro insiste que a Ucrânia poderá ter de ceder em termos territoriais, tendo dado como exemplo a Crimeia. Uma posição que colide com a do Ocidente, que continua a acreditar numa vitória ucraniana, contribuindo para isso com a entrega de armamento e com o treino de militares.

Esta segunda-feira, o conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, John Kirby, quebrou o silêncio e reagiu às declarações recentes de Lula da Silva sobre a guerra na Ucrânia e o envolvimento dos EUA e da União Europeia no conflito. Citado pela Folha de São Paulo, o responsável atacou o Presidente do Brasil, dizendo que é “profundamente problemática” a forma como o país está a lidar com a guerra na Ucrânia. “Sugeriu que os Estados Unidos e a Europa de alguma forma não estão interessados na paz ou que partilham a responsabilidade na guerra.”

O responsável da Casa Branca considera que Lula da Silva “está a repetir propaganda russa e chinesa sem olhar para os factos”. Lembrando que o Brasil “votou para defender os princípios de soberania e integridade territorial” na Nações Unidas, John Kirby lamentou que as declarações do Presidente brasileiro sejam contra aqueles valores.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Crimeia. Rússia defende península com trincheiras, mas aliada de Zelensky garante lutar e rejeita proposta “inaceitável” de Lula

Relativamente à Crimeia, John Kirby foi claro e rejeitou a proposta de Lula da Silva, que colocou em cima da mesa a possibilidade de a Ucrânia ter de ceder aquele território, anexado ilegalmente por Moscovo em 2014. “Os comentários mais recentes do Brasil de que a Ucrânia deveria considerar ceder a Crimeia como uma concessão pela paz estão simplesmente errados”, vincou.

O conselheiro de segurança nacional da Casa Branca também foi questionado sobre a presença de Sergei Lavrov no Brasil e em outros países americanos. “Os líderes desses países devem pressionar o ministro dos Negócios Estrangeiros russo [Lavrov] para que a Rússia pare de bombardear cidades, hospitais e escolas ucranianas”.

Para além disso, John Kirby sinalizou que os países são soberanos — e podem receber quem quiserem —, mas as autoridades devem igualmente tentar “encontrar tempo” nas suas “agendas lotadas” para se “encontrarem com as autoridades ucranianas” — e não apenas com as russas.

Putin convida Lula a visitar o Brasil

O ministro dos Negócios Estrangeiros russo esteve, esta segunda-feira, em Brasília e levou uma novidade consigo. O Presidente russo, Vladimir Putin, convidou o seu homólogo brasileiro para visitar a Rússia. “O senhor Lavrov entregou um convite de Putin ao Presidente Lula para que haja uma visita oficial à Rússia. E trabalharemos para determinar as datas que sejam convenientes para ambos os lados”, explicitou Mauro Vieira, o chefe da diplomacia de Brasília.

Numa conferência de imprensa conjunta com Mauro Vieira, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, agradeceu às autoridades brasileiras por estas “terem entendido a génese da situação na Ucrânia”. E garantiu que está “interessado” em que o “conflito ucraniano termine o mais cedo possível”.

Por sua vez, durante a mesma conferência de imprensa, Mauro Vieira manifestou-se contra as sanções económicas impostas à Rússia, uma vez que têm “impactos nas economias de todo o mundo, principais dos países em desenvolvimento que ainda não recuperaram da pandemia [de Covid-19]”.

“Estamos agradecidos à parte brasileira e estamos agradecendo a posição”, respondeu Sergei Lavrov. O chefe da diplomacia russa agradeceu ainda aos parceiros brasileiros pela cordialidade, confiança e amizade e pelos “princípios de igualdade e respeito e que não dependem de mudanças de conjuntura mundial”.

O ministro dos Negócios Estrangeiros russo elogiou ainda as visões do “Brasil e da Rússia, que são únicas” em relação a uma “ordem mundial mais justa, correta, baseando-se no direito”, numa “visão de mundo multipolar”.