Num dos maiores acordos de sempre na história da justiça norte-americana, a rede televisiva Fox News, e a sua empresa mãe, a Fox Corp, concordou pagar à empresa de tecnologia eleitoral Dominion uma verba de 787.5 milhões de dólares (cerca de 717.9 milhões de euros) para evitar ir a julgamento num mediático processo de difamação.

A Dominion — empresa responsável pelo fabrico de máquinas de voto eletrónico usadas nas eleições dos EUA — considerou que a Fox News fez uma cobertura danosa do ato eleitoral e que foi responsável por propagar teorias da conspiração sobre alegada fraude eleitoral. A Dominion procurava uma indemnização na ordem dos 1.600 milhões de dólares (cerca de 1.460 milhões de euros).

O acordo foi anunciado à última da hora, já depois de te sido constituído o júri e quando se esperava que defesa e acusação fizessem as suas intervenções iniciais no Tribunal Superior do Delaware. A primeira sessão estava prevista para esta segunda-feira, mas o juiz responsável pelo caso aceitou adiá-la por 24 horas, sem na altura especificar porquê.

Juiz adia julgamento da Fox News por caso de difamação para terça-feira

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À saído do tribunal, o CEO da Dominion, John Poulos, considerou o acordo “histórico”, acrescentando que, na sua visão, tal dava como provado que a Fox News mentiu. “A Fox admitiu ter dito mentiras sobre a Dominion que causaram danos enormes à minha empresa, aos nossos empregados e aos clientes que servimos”, afirmou Poulos, citado pela CNBC. “Nada poderá alguma vez compensar isso. Ao longo deste processo, procurámos responsabilização, e acreditamos que as provas trazidas à luz ao longo deste processo demonstram que a mentira tem consequências. Jornalismo honesto nos media é essencial para a nossa democracia”, acrescentou.

Em comunicado citado pelo New York Times, a Fox Corporation reconheceu que “as deliberações do tribunal dão como falsas certas declarações feitas acerca da Dominion”, sustentando que o acordo negociado é uma tentativa de resolver o litígio de forma “amigável, ao invés da acrimónia de um julgamento divisivo”.

No âmbito do processo, que durava há dois anos, foram reveladas várias comunicações privadas de figuras influentes do canal, que demonstraram que os apresentadores da Fox News noticiaram de forma consciente informações falsas sobre as eleições. Anteriormente, o juiz Eric M. Davis, do tribunal do Delaware, já tinha deliberado que várias das afirmações difundidas na antena da Fox eram falsas, o que limitava na prática algumas das potenciais teorias de defesa dos advogados.

O acordo evita assim que o julgamento siga para a frente, impedindo que várias figuras-chave da empresa, como os apresentadores Tucker Carlson e Sean Hannity, a CEO da Fox, Suzanne Scott, e o  magnata dono da empresa, Rupert Murdoch, pudessem vir a depor no âmbito do processo.

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