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O embaixador chinês em França, Lu Shaye, considerou esta semana numa entrevista a um canal televisivo francês que as antigas repúblicas soviéticas, incluindo não apenas a Ucrânia, mas também, por exemplo, os países Bálticos, não são verdadeiramente independentes.

“Estes países ex-URSS não têm um verdadeiro estatuto no direito internacional porque não há nenhum acordo internacional a materializar o seu estatuto de soberania”, disse Lu Shaye, em declarações citadas pela agência Reuters, depois de questionado sobre se considera que a Crimeia é ou não é uma parte do território ucraniano.

O diplomata chinês acrescentou que, no que toca especialmente à Crimeia, é necessário olhar para a história, uma vez que “a Crimeia era originalmente parte da Rússia”.

“Foi [Nikita] Khrushchov quem ofereceu a Crimeia à Ucrânia durante o período da União Soviética“, disse ainda Lu Shaye.

As declarações do embaixador mereceram duras reações por parte das autoridades europeias, francesas, mas também da parte dos países Bálticos e da Ucrânia.

Para o alto representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, são c”omentários inaceitáveis do embaixador chinês em França questionando a soberania dos países que se tornaram independentes com o fim da União Soviética em 1991”, disse Josep Borrell, através da sua conta na rede social Twitter. O chefe da diplomacia europeia acrescentou que “a União Europeia (UE) só pode assumir que estas declarações não representam a política oficial da China”.

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“Reforçamos a nossa total solidariedade com todos os nossos aliados e parceiros, que ganharam a sua desejada independência após décadas de opressão”, disse um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros francês, citado pelo The Guardian. “A anexação da Crimeia pela Rússia em 2014 é ilegal no direito internacional.”

Paris reforçou ainda que a independência da Ucrânia foi reconhecida “dentro das fronteiras que incluem a Crimeia em 1991 por toda a comunidade internacional, incluindo a China, na queda da URSS, como novo membro das Nações Unidas”.

Por outro lado, a partir da Letónia, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Edgars Rinkēvičs, lamentou as declarações do embaixador, classificando-as como “completamente inaceitáveis” e exigindo uma “explicação” da parte de Pequim.

Na Estónia, o Ministério dos Negócios Estrangeiros já convocou o embaixador da China naquele país para uma reunião, para exigir explicações sobre as declarações “incompreensíveis” do seu colega em França.

Na Lituânia, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Gabrielius Landsbergis, disse que as declarações do embaixador ajudam a compreender porque é que os países Bálticos “não confiam na China” para mediar a paz na Ucrânia.

O embaixador ucraniano em França, Vadym Omelchenko, reagiu no Twitter dizendo que “não há lugar a ambiguidade” neste assunto. “A Crimeia é Ucrânia. O império soviético já não existe. A história avança.”

A partir de Kiev, um dos principais conselheiros do Presidente Volodymyr Zelensky, Mykhaylo Podolyak, também protestou contra as declarações do embaixador: “Todos os países da antiga União Soviética têm um estatuto de soberania claramente consagrado no direito internacional. Excepto a Rússia, que ficou com um lugar no Conselho da Segurança da ONU de modo fraudulento.”

“É estranho ouvir uma versão absurda da ‘história da Crimeia’ da parte de um representante de um país que é escrupuloso acerca da sua história de milhares de anos. Se querem ser um grande ator político, não papagueiem a propaganda russa”, escreveu Podolyak no Twitter.