Mariana Mortágua, deputada e candidata à coordenação do Bloco de Esquerda, assumiu publicamente a homossexualidade. No seu programa habitual de comentário, na SIC Notícias, a bloquista começou a sua intervenção por recordar o arquivamento do processo judicial que lhe tinha sido movido e lamentar estar a ser alvo de uma “perseguição política” crescente. Consciente de que esse tipo de tentativa de “desgaste” vai “continuar”, Mariana Mortágua deixou uma garantia: “Estou preparada para tudo”.
“Sei que este tipo pressão e perseguição política vai continuar e até subir de tom. Seja porque sou mulher, seja porque sou de esquerda, seja porque sou uma mulher lésbica, seja porque sou filha de um resistente antifascista, seja porque, aparentemente, tenho o dom de incomodar algumas pessoas com muito poder. Sei que infelizmente e para algumas pessoas vale tudo na política”, lamentou, antes de reafirmar: “Vou continuar a ser quem sou e a fazer o meu trabalho”.
Na sexta-feira, 21 de abril, o Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC) decidiu arquivar o processo contra Mariana Mortágua, no qual a deputada do Bloco de Esquerda era acusada de violar o regime de exclusividade por fazer comentário político na SIC Notícias.
O caso já tinha sido arquivado pelo Ministério Público, mas houve um pedido de reapreciação do processo. As queixas partiram de dois empresários aparentemente sem ligações políticas que não se conformaram com a decisão e que eram representados pelos advogados Luís Gonçalves Pereira, que foi candidato a deputado (em sexto lugar no círculo de Lisboa) pelo Chega, e Rui Santana, que foi notícia em dezembro por ter sido condenado quatro vezes por “enganar clientes”.
Assim que Mariana Mortágua foi constituída arguida, o Bloco denunciou aquilo que entendia ser uma forma de “perseguição política” dirigida por elementos do Chega. Quando o caso foi definitivamente arquivado, o partido defendeu que “as tentativas de retaliação” apenas serviam de “encorajamento à denúncia das redes e negócios da oligarquia russa e da extrema-direita” que o Bloco, insiste, vem fazendo.
Foi na sequência deste e de outros casos que Mariana Mortágua decidiu antecipar eventuais ataques contra si e garantir que não se deixará condicionar. A bloquista junta-se a outras figuras políticas portuguesas que decidiram assumir publicamente a homossexualidade, como a ex-ministra Graça Fonseca, o secretário de Estado André Moz Caldas, o antigo secretário de Estado Adolfo Mesquita Nunes ou o vice-presidente do PSD Paulo Rangel.