Depois de três dias de silêncio, António Costa elogiou o ministro João Galamba, mas não quis garantir que o manteria no lugar. O primeiro-ministro começou esta segunda-feira à noite a dizer, em declarações ao Observador, que o ministro das Infraestruturas esteve “bem” quando deu o alerta pelo roubo do computador por parte do adjunto, mas que não tinha sido informado sobre a intervenção do SIS. Horas depois, à chegada ao Aeroporto de Lisboa, fugiu à questão se mantinha a confiança no ministro e sugeriu, em declarações à RTP, que podem existir consequências: “Falarei amanhã de manhã pessoalmente com o ministro das Infraestruturas porque há coisas que não se tratam no estrangeiro”.

Costa diz que não foi informado, mas valida Galamba: “Deu – e bem – alerta pelo roubo do computador” do ministério

Outro indício de que António Costa pode estar para tomar uma decisão drástica (leia-se, demitir Galamba) é que o primeiro-ministro diz que “o que se passou nem a título de exceção é admissível” e que “obviamente não é o padrão e a regra de funcionamento de nenhum Governo. É inadmissível“.

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Além dos elogios a Galamba em declarações ao Observador, Costa volta a elogiar João Galamba nas declarações que faz à RTP, como, por exemplo, quando diz que “é muito claro que o ministro não escondeu nem tentou esconder nenhum documento da comissão parlamentar de inquérito”. Ainda assim, separa o homem da função e das circunstâncias. Isto porque, se Costa não tem nada a dizer do “comportamento individual do ministro das Infraestruturas”, por outro lado destaca que “há uma outra dimensão que tem a ver com o que tem de ser a atitude do Governo na governação que tem de ser exemplar na credibilidade das instituições e que foi afetado”.

Relativamente à questão do SIS, Costa diz que “não foi chamado a intervir” e que “há um roubo de um computador com documentação classificada e que ministro deu alerta e SIS agiu em função do alerta e no quadro das competências legais”.

“Ninguém no Governo deu ordens ao SIS para fazer isto ou aquilo”, assegurou o primeiro-ministro em declarações à RTP, acrescentando que “não houve nenhuma ordem ao SIS, nem de São Bento, nem de nenhum membro do Governo. O que houve foi um alerta do Ministério e as autoridades agiram em conformidade com as suas competências”.

Em declarações ao Observador, horas antes, o primeiro-ministro já tinha dito que “não foi nem tinha de ser informado. Nem tomou qualquer diligência.” Disse também que “as autoridades agiram em conformidade no âmbito das suas competências legais.”

“Isto parece uma novela”

Quanto ao momento politicamente conturbado, Costa diz que “tem de se distinguir a essência dos eventos”. Fala da guerra, da crise energética, da “inflação a quebrar” e diz que os casos chama-lhe “episódios vários que suscitam grande atenção, que se vão canibalizando uns aos outros”.

“Não podemos desfocar-nos do essencial o, às tantas, isto parece uma novela em que cada episódio vai evoluindo ao sabor dos acontecimentos, os personagens vão aparecendo ou desaparecendo”, diz Costa que atira: “Eu dedico-me pouco a novelas”,

O primeiro-ministro diz ainda que “a comissão de inquérito deve ser respeitada” e que o lhe interessa na TAP é que “o país continue a dispor de uma companhia estratégica” — atacando “os que nunca apresentaram alternativa” –, “o processo de privatização, que é importante para o futuro da empresa” e, em terceiro lugar, “havendo dúvidas sobre o que tem acontecido na TAP, há uma comissão parlamentar de inquérito em curso que deve ser respeitada como o funcionamento dos tribunais”.

“Se as comissões de inquérito passam a ser transformadas numa arena de combate político, quem o faz fragiliza um dos mais importantes instrumentos de fiscalização do Governo pela Assembleia da República”, comenta ainda Costa, aconselhando “prudência na forma como se desbarata e desprestigia a mais valia as comissões de inquérito”.

Numa declaração à chegada ao Aeroporto de Lisboa — de onde regressava de umas mini-férias, atacoiu o PSD: “Contra insistências que vou ouvindo, designadamente do líder do PSD, não comento o que se passa nas CPI”. “O meu dever é esperar” e “em função da CPI “tirar-se-ão ilações políticas que houver a tirar”.

Também esta segunda-feira, o Observador revelou Presidente da República não quis esperar pela reunião semanal de quinta-feira e, logo no sábado, contactou o primeiro-ministro a pedir explicações sobre toda a confusão que envolve o ministro das Infraestruturas, João Galamba. O contacto, apurou o Observador, foi feito por telefone já depois de Marcelo ter falado aos jornalistas na tarde de sábado e o chefe de Estado terá manifestado o seu descontentamento por assuntos de Estado estarem a ser do conhecimento público. Aumentava, assim, a pressão para uma remodelação a que se juntava uma ameaça presidencial (“[vai ser visível] quando for”, disse Marcelo) a pairar sobre João Galamba.