A Stellantis, grupo que integra 14 marcas e que é liderado pelo português Carlos Tavares, anunciou segunda-feira que desistiu de construir a fábrica de baterias (ou pelo menos uma parte das instalações) que pretendia instalar no Canadá, na cidade de Windsor, província de Ontário, segundo relata a Bloomberg. A explicação avançada para o abandono do projecto prende-se com o não pagamento dos incentivos acordados com o Governo. Entretanto, do lado canadiano, as autoridades do Governo central empurram as responsabilidades do incumprimento para o poder local, de Ontário, que por sua vez devolve a bola do que está a correr mal para o executivo liderado por Justin Trudeau.

O projecto da Stellantis para produzir células e módulos para baterias de veículos junto ao rio que faz fronteira entre Windsor, do lado canadiano, e Detroit, nos vizinhos EUA, foi apresentado originalmente em Março de 2022 e descrito pelo ministro da Inovação, François-Philippe Champagne, como “o maior investimento no país relacionado com a indústria automóvel”. Representaria um investimento da Stellantis de 5 mil milhões de dólares canadianos, cerca de 3,8 mil milhões de euros, com a finalidade de produzir anualmente 45 GWh e criar 2500 postos de trabalho directos.

De início, só facilidades… Mas e os pagamentos?

Para este projecto de Windsor, a Stellantis contava com os sul-coreanos da LG Energy Solution como parceiro técnico, prevendo-se estar operacional já em 2024. A fábrica estaria dividida em duas fases, uma destinada à produção de células e uma segunda visando a montagem de módulos (sendo precisamente esta que foi cancelada, em virtude do incumprimento do acordo por parte do Canadá, segundo a Automotive News local), que posteriormente seriam enviados para as diferentes fábricas onde são criados os packs de bateria e, depois, instalados nos veículos eléctricos.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Esta nova fábrica de Windsor, que seria implantada num terreno com 90 hectares, foi apresentada em Março como a maior linha de produção de células de iões de lítio e de módulos no Canadá, fazendo parte de um conjunto de cinco instalações da Stellantis, espalhadas pelos principais mercados, com uma capacidade total de 400 GWh.

Fábrica da VW com mais ajudas do que a Stellantis

A somar ao desagrado provocado na Stellantis, por tanto o Governo canadiano como as autoridades de Ontário não terem pagado os incentivos acordados, surgiu o anúncio em Maio da construção de uma segunda fábrica de baterias a construir em Ontário, mas desta vez do Grupo Volkswagen. Esta é substancialmente maior (com uma capacidade para 90 GWh por ano), devendo ser instalada numa área da mesma província com 150 hectares e criar 3000 novos postos de trabalho.

De acordo com a Volkswagen, o investimento total previsto para a nova fábrica de baterias a instalar em St. Thomas, Ontário, vai orçar em 20 mil milhões de dólares (cerca de 18,4 mil milhões de euros), para o que alegadamente beneficiará de ajudas superiores às prometidas à Stellantis. Os alemães deverão receber o equivalente a 8,8 mil milhões de euros até 2030, além de uma ajuda directa das autoridades da província de Ontário próxima de 645 milhões de euros. A fábrica de baterias de St. Thomas deverá estar finalizada e a operar em 2027.

Entretanto, a publicação canadiana Toronto Star reporta que o Canadá está a sentir-se obrigado a renegociar as condições propostas à Stellantis, e que alegadamente ainda não terá cumprido, com receio que a fábrica de baterias destinadas a alimentar os veículos eléctricos deste grupo, que é 4º maior à escala mundial, não seja integralmente construída no país. A publicação avança ainda que a Stellantis está desagradada pelo desproporcionalmente maior volume de incentivos concedidos ao Grupo VW em troca da construção no país de uma fábrica ainda maior de baterias, cujo acordo foi assinado cerca de um ano depois do negociado com a Stellantis. Fontes do Toronto Star próximos da indústria terão mesmo afirmado que a fábrica da Stellantis ficará pela produção de células, mas não dos módulos, caso os incentivos não se aproximem proporcionalmente dos concedidos ao grupo alemão.