A ONU denunciou esta quinta-feira que a junta militar do Myanmar (antiga Birmânia) está a impedir o envio de ajuda humanitária internacional para as zonas atingidas pela passagem no domingo do ciclone Mocha, que poderá ter deixado centenas de mortos.

A falta de acesso, denunciada também pela oposição aos militares, entre outros, torna difícil saber com precisão a situação no terreno e o número de vítimas mortais, que as autoridades disseram ser de pelo menos 60.

Pelo menos três mortos em Myanmar após chegada do ciclone Mocha, que pode afetar dois milhões de pessoas

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Uma das áreas de maior preocupação é o estado de Rakhine (oeste), uma região onde centenas de milhares de membros da minoria muçulmana rohingya — não reconhecida pelas autoridades e perseguida pelo exército – vivem há anos em precários campos de refugiados.

“O acesso sem restrições às comunidades afectadas é necessário para fornecer assistência humanitária imediata que salve vidas. A restrição da junta militar às viagens é um ato bárbaro”, disse nas redes sociais o autoproclamado governo de Unidade Nacional, oposição ao regime que tomou o poder por meio de um golpe em fevereiro de 2021.

O porta-voz no Sudeste Asiático do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários, Pierre Peron, confirmou à agência de notícias EFE que as autoridades mantêm restrições à entrada de ajuda internacional.

“Há cenas de devastação generalizada”, em Sittwe e outras cidades do oeste de Myanmar, disse a representação da ONU, que referiu estar preparada “para avaliar toda a extensão da situação humanitária, assim que for concedido acesso”.

Ciclone provoca 60 mortos em Myanmar

A organização não-governamental Médicos Sem Fronteiras (MSF) disse à EFE que as dificuldades geográficas e de segurança para aceder aos campos de deslocados, que já existiam, “agravaram-se” após o ciclone.

“Realmente precisamos de atenção urgente para facilitar o acesso à população afectada“, afirmou um porta-voz dos MSF, expressando preocupação com a falta de água potável e a situação da saúde pública após a catástrofe.

A Embaixada dos EUA em Myanmar enfatizou na rede social Twitter que “é essencial que as organizações humanitárias possam aceder e ajudar as comunidades mais necessitadas”, anunciando um fundo adicional para ajuda de emergência.

Com ventos de até 195 quilómetros por hora, o Mocha deixou 24 mortos em Khaung Doke Kar e 17 em Bu Ma, perto de Sittwe, disseram as autoridades locais e residentes à agência francesa AFP.

Junta militar já matou 3.000 civis em Myanmar

“Haverá mais mortes, porque mais de 100 pessoas estão desaparecidas”, avisou Karlo, um chefe de Bu Ma. A oposição ao regime militar estima que o ciclone teria causado a morte de pelo menos 455 pessoas, 431 das quais em Rakhine. Em 2008, o ciclone Nargis devastou o delta do Irrawaddy em Myanmar e matou 138 mil pessoas.