Frederico Pinheiro, em entrevista à TVI, confirmou que a versão confidencial do plano de reestruturação só estava no seu computador. E volta a acusar João Galamba de o ter ameaçado e de ter mentido. Na entrevista dada esta sexta-feira já depois da audição do ministro das Infraestruturas no Parlamento, o seu ex-adjunto, exonerado a 26 de abril, garante que eram nove os documentos classificados, voltando a dizer que o foram por “minha sugestão”, no âmbito do requerimento efetuado pela comissão parlamentar de inquérito.

Mas garante que a maior parte estava no arquivo do Ministério. “Não estavam só no meu computador”. O que estava apenas no seu computador era a versão confidencial do plano de reestruturação que, garante, que só o estava por “nunca me ter sido solicitado”.

Em entrevista à TVI, diz ainda que não tem conhecimento de que João Galamba tenha lido o plano de reestruturação da TAP. “Não tenho conhecimento do senhor ministro ter lido o plano de reestruturação da TAP. Nunca transmiti esse documento porque nunca me foi pedido. É um documento muito importante, é o documento mais importante que está no Ministério das Infraestruturas”. Eugénia Correia garantiu que o plano de reestruturação só estava no computador de Frederico Pinheiro, não constando do arquivo do Ministério. E também na comissão de inquérito João Galamba assumiu que não leu o plano de reestruturação na íntegra, tal como disse que não tinha lido todos os anexos da auditoria da IGF.

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Frederico Pinheiro, ex-adjunto de João Galamba, exonerado a 26 de abril, e que levou ao acionamento do SIS para recuperar o computador, garante, em entrevista à TVI, que não estava credenciado para aceder a informação sensível.

Volta a dizer que foi de si que partiu a sugestão da classificação, o que Eugénia Correia, chefe de gabinete de Galamba, nega, dizendo que o pedido de classificação foi feito por si.

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De qualquer forma, Frederico Pinheiro garante que “não estava, nem ninguém no gabinete, credenciado” para acesso a documentos classificados. “Há mais pessoas que não têm credenciação. Esses documentos estavam, a grande maioria, disponível no arquivo que é livremente acedido pelos trabalhadores”, declarou à TVI. Seis ou sete dos nove documentos estavam no arquivo do Ministério, eram correspondência entre a TAP e o Ministério, alguns “nem eu tinha no meu computador”. Alguns estavam apenas no seu computador. Segundo revela quando Pedro Nuno Santos era titular da pasta só três pessoas tinham acesso ao plano de reestruturação — Frederico Pinheiro, Hugo Mendes e Pedro Nuno. Os documentos que iam ser enviados o acesso pelos deputados tinha de ser condicionado — “estamos a falar de dados que podem causar prejuízos à TAP”, explica, lembrando que os documentos estão, tal como já tinha referido, noutras entidades.

Em resposta a Paulo Rios de Oliveira, do PSD, João Galamba diz que “nós classificámos aqueles documentos que quando nos pediram da CPI foram nesse momento classificados. É ao contrário, ele [Frederico Pinheiro] tinha os documentos e esses documentos foram classificados”.

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Tal como já tinha sido noticiado à tarde, também na entrevista, Frederico Pinheiro repetiu a ideia de que está a “ponderar processar” o primeiro-ministro, António Costa, e o ministro das Infraestruturas, João Galamba.

Em entrevista à TVI, o ex-adjunto de Galamba reafirmou que “há matéria [jurídica] para avançar” com um processo. “Tanto o primeiro-ministro como o senhor ministro das Infraestruturas difamaram-me publicamente. Isso para mim é claro”. Garantindo estar a recolher “todos os elementos”, Frederico Pinheiro afirmou que “decisão já não se prende apenas com uma questão de matéria porque isto é claro”. Esta hipótese de avançar com um processo já tinha sido referida por Frederico Pinheiro no decurso da inquirição na comissão de inquérito, ao dizer que tinha sido “ameaçado pelo SIS, injuriado e difamado pelo primeiro-ministro e pelo ministro das Infraestruturas e e alvo de campanha montada pela poderosa máquina de comunicação do Governo”.

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Já nessa audição, de quarta-feira, o ex-adjunto, quando questionado sobre se vai processar o ministro ou o primeiro-ministro, declarou que ainda não tinha decidido e que a sua “intenção sempre foi deixar o sucedido para trás” e que foi isso mesmo que fez quando foi questionado, como relata, pelos elementos da PSP sobe se queria apresentar queixa e não avançou. No entanto, também refere que “depois foram públicas declarações do Ministério das Infraestruturas e o primeiro-minisro que me deixaram chocado. Depois da bizarria de tudo o que aconteceu foi um choque tremendo ouvir as declarações do ministro, mas principalmente as do primeiro-ministro.” “Neste momento estou empenhado em retomar a vida normal”, rematou.

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À TVI reafirma que “tudo o que tem de ser esclarecido tem de ser efetuado nas instâncias judiciais”, estando nesta fase a “recolher elementos”, assumindo haver matéria jurídica para avançar com queixa crime. “A incerteza [de avançar] depende de decisão pessoal”, mas acrescenta que as testemunhas que Galamba disse ter — mas que Frederico Pinheiro não teria — é, no entender do ex-adjunto, “grave e questões às quais o senhor ministro não assistiu. Fala em testemunhas. Espero que seja esclarecido nas instâncias judiciais apropriadas. Vão ter de contar esta narrativa ou outra em tribunal”. Mas deixa a sua visão: “Qualquer pessoa pode dizer o que quiser cá fora, mas em tribunal são legalmente puníveis pela mentira”, ainda que diga que “não sabemos quem são essas testemunhas”, ainda que admita que essas testemunhas são alegadamente do gabinete. Isto para responder a Galamba sobre a existência de várias testemunhas da versão do ministro, ao contrário do que terá Frederico Pinheiro. Quando se trata de pessoas fora do gabinete as versão, diz Frederico Pinheiro, já não são tão alinhadas.

Aliás, o ex-adjunto diz-se mesmo “surpreendido” com a afirmação de Galamba de que Frederico Pinheiro é que o teria ameaçado fisicamente. Quando confrontado com as declarações de Frederico Pinheiro de que o ministro das Infraestruturas, no telefonema da exoneração, o tinha ameaçado com dois socos, João Galamba respondeu: “Nego categoricamente que tenha ameaçado, mas fui ameaçado”. E quando questionado sobre que ameaças tinha recebido, Galamba respondeu: “Essas ficam comigo, foram ameaças físicas, violentas, muito”. Frederico Pinheiro responde agora que o ministro não teve “capacidade” de relatar essas ameaças por uma razão: “O senhor ministro das Infraestruturas não está a dizer a verdade. Não houve ameaça da minha parte, ameaçou-me e não fiquei exaltado. Nunca me exaltei. Existe a narrativa que está a ser montada de que recebo o telefonema, fico exaltado, dirige-me intempestivamente ao Ministério a recolher pertences e quando lá chego faço uma série de  agressões. Isso não aconteceu. Eu estava no percurso de casa, tomo uma decisão racional, no percurso que estava a fazer passo no Ministério das Infraestruturas”. Não recebeu ordem expressa para não entrar no Ministério, garante. “Entro nessa noite de uma forma normal. Ninguém me impede de entrar. Ia lá buscar os meus pertences e o computador obviamente porque queria efetuar uma cópia de todos os documentos que tinha no meu computador, nomeadamente documentos pessoais, questões relacionadas com o meu doutoramento”. Tinha feito cópia há um ano, mas tinha apagado muitos deles.

Chama a esta versão uma narrativa da máquina de comunicação do Governo (disse-o na inquirição no Parlamento), para deixar a pergunta: como é que se atiram à sua mochila e ninguém o toca? Frederico Pinheiro tinha dito no Parlamento que não tinha agredido, mas tinha sido agredido. Mas à TVI assume que tentou proteger a mochila. Mas diz que a versão transmitida por Eugénia Correia de que tinha tentado tirar a mochila é um dado novo e diferente do que diz ser a narrativa da máquina comunicacional que acusa de montar uma mentira até pelo facto de se ter negado a existência de um roubo quando, ao contrário, o Governo garante ter havido esse roubo (do computador). “Essas alegações de que existem vidros partidos, é hoje claro que é mentira, essa máquina está a transmitir mentiras”.

Um outro tema em que acusa Galamba de mentir é referente à reunião de 5 de abril, já depois da audição de Christine Ourmières-Widener quando se ficou a saber da existência de uma reunião preparatória a 17 de janeiro entre elementos do governo, do grupo parlamentar do PS e a própria CEO, ouvida no Parlamento no dia seguinte. Frederico Pinheiro tem dito que foi nessa reunião que assumiu ter tirado notas nessa reunião e que lhe teriam pedido para as omitir — um pedido alegadamente da chefe de gabinete de Galamba, Eugénia Correia, numa reunião em que disse que Galamba participou. O ministro das Infraestruturas alegou que só tinha entrado duas vezes na reunião para saber como é que estava a correr. Frederico Pinheiro questiona: “Acho mesmo muito pouco credível um relato do senhor ministro a dizer que entra numa reunião só para perguntar: ‘está tudo bem aqui?'”, garantindo que nessa reunião “comuniquei e li as notas oralmente”. Não as entregou porque “nunca me foi solicitado. Só me é solicitado a 24 abril” e “nesse momento sou apanhado de surpresa que está acabar o prazo para a entrega na CPI”. “Se fosse uma pessoa não confiável entre esse dia 5 de abril e 24 de abril eu teria colocado cá fora as notas da reunião. Eu não faço isso”, e, por isso, disse nessa data que disse que não podia faltar à verdade se fosse à comissão e lhe perguntassem sobre a reunião. Aí teria de dizer que havia notas.

Sobre as próprias reuniões preparatórias, diz que não se lembra de haver reuniões desse género habitualmente.

Em relação às interrogações deixadas por Galamba sobre o facto de Frederico Pinheiro ir a altas horas da noite — “horas impróprias” ao Ministério tirar fotocópias, o ex-adjunto justifica essas visitas tardias com o facto de tentar conciliar a vida pessoal com a profissional. Quando chegou a adjunto teve um filho, disse, e “por vezes saia mais cedo do trabalho por causa dos filhos e por vezes voltava mais tarde para trabalhar”.

Em relação ao SIS, repete a versão que disse no Parlamento, dizendo que se sentiu ameaçado e intimidado pelo SIS que não deixou que fosse acompanhado ao encontro do agente que ia recolher-lhe o computador.

Sobre o fim do anonimato, “faço a minha vida normalmente”, garantindo que recebeu muitas mensagens de apoio.