Um grupo de católicos de Lisboa enviou uma carta ao Vaticano, defendendo que o próximo patriarca seja “um bispo centrado no essencial” com a “atitude de proximidade e cuidado (…) com todos”, em especial os “mais pobres e vulneráveis”.

Numa carta enviada ao Dicastério para os Bispos e para o Núncio Apostólico em Lisboa, os subscritores do documento revelado pelo jornal online 7Margens sugerem que “os processos consultivos dentro da Igreja portuguesa, que levam a uma recomendação do Núncio Apostólico à Sé Apostólica sobre a nomeação de bispos para a diocese, considerem uma análise cuidada das necessidades particulares da diocese (…)” e a “adequação entre o perfil traçado e as qualidades individuais e experiência dos candidatos, nomeadamente no que diz respeito a lidar com casos de abuso”.

Para o caso do Patriarcado de Lisboa, onde é expectável a substituição do atual patriarca, cardeal Manuel Clemente, por limite de idade, ainda este ano, é defendido na carta que o novo bispo “seja a imagem do Bom Pastor”.

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“Que tenha a atitude de proximidade e cuidado de Jesus Cristo com todos, em especial com os mais pobres e vulneráveis, doentes, excluídos e marginalizados, não a partir de cima, mas envolvendo-os” e que seja “um bispo livre e humilde”, com “movimentos de simples pastor e não de príncipe”, defendem os autores da carta.

Desejam, ainda, que seja “uma voz profética”, e saiba ler “com desassombro os sinais dos tempos, à luz sempre atual do Evangelho, além do qual não há futuro para a Igreja, não prescindindo da riqueza do parecer do seu clero, do povo de Deus, nas suas várias gerações, e de todos os que o podem ajudar na sua missão”.

O futuro patriarca deverá, ainda, dar “sinais claros de conhecer o contexto sociocultural e as transformações que a cada momento acontecem”, e que, ao mesmo tempo, “promova uma Igreja sinodal” e chame “toda a comunidade a participar, reconhecendo que o sacramento do batismo confere igualdade e corresponsabilização a todos”.

Capacidade de diálogo e de escuta, “capacidade de governar, usando de criatividade pastoral” e o sentido de que a sua missão “é servir com humildade, transparência e sentido de responsabilidade”, não sendo um “burocrata de gabinete”, mas antes “lute contra o imobilismo do ‘adiar’ face aos desafios de hoje”, são outras qualidades que estes católicos desejam ver no sucessor de Manuel Clemente.

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Os subscritores da carta querem ainda que o prelado “tenha profundidade de pensamento e ouse um processo criativo que não se limita a aplicar esquemas herdados, cujas soluções não são indefinidamente nem universalmente válidas”, bem como seja “um homem prudente e de coragem”, sendo “uma voz que se insurge perante as injustiças e que, apoiado nos valores da Doutrina Social da Igreja, tenha sempre presente a promoção da igualdade e da justiça social”.

O jornalista Jorge Wemans, o dinamizador da carta que pediu uma investigação independente sobre os abusos no seio da Igreja em Portugal, Nuno Caiado, a psicóloga Margarida Bruto da Costa, o historiador Pedro Silva Rei, o advogado Paulo Câmara ou a médica Cecília Vaz Pinto são alguns dos autores da carta enviada ao Vaticano e à Nunciatura em Lisboa.