Lluís Longueras, respeitado cabeleireiro catalão, morreu na manhã desta segunda-feira, 29 de maio, aos 87 anos, vítima de cancro na garganta, avança o jornal espanhol El País. Estava em casa, em Barcelona. “É com profunda tristeza que nos despedimos do nosso Lluís Llongueras. Hoje o mundo do cabeleireiro, a indústria da beleza e todos nós que a admiramos vestem-se de luto”, pode ler-se numa publicação da página oficial de Instagram. “O seu legado vai perdurar no tempo, vamos recordá-lo sempre como um artista visionário e um mestre no seu ofício.”
Fundador dos conhecidos salões em nome próprio, o homem que criou o famoso método que “despenteava” o cabelo às mulheres, cresceu com um pai costureiro. Começou a carreira como assistente num cabeleireiro de luxo, o Can Dalmau de Barcelona, no anos 50, e cedo manifestou o encantou pelo glamour e pela beleza feminina. Rapidamente começou também a pensar no cabelo como num acessório e, assim, descreve o jornal espanhol, nele aplicou os “critérios da inovação, risco e criatividade”.
Em 1958 abriu o primeiro salão, na Gran Via de Barcelona, em conjunto com o irmão. E em 1972, em pleno regime franquista, lançou o primeiro cabeleireiro unissexo de Espanha — espalhando, a partir daí e em regime de franchising, seu nome por 120 salões espalhados por todo o mundo (incluindo Lisboa).
Lançou ainda 50 academias nas quais era lecionado o seu método: o método Longueras. Criado nos anos 70, este método tornou-se na imagem de marca do seu trabalho, expresso nos cabelos “despenteados”, rebeldes e irregulares das mulheres. Foram até criados nomes de técnicas específicas para a aplicação do método, popularizados entre os salões, a partir de vídeos e livros.
Referência mundial no universo da beleza feminina, sobre o seu método, em entrevista à Nos Magazine, disse: “Fui o primeiro a criar um corte que despenteava o cabelo das mulheres”. E continuou: “Fui o primeiro, juntamente com Vidal Sassoon, já falecido, a abrir uma escola para ensinar as minhas técnicas ao mundo. Em termos de styling, escolhi criar um estilo mais mediterrânico. O meu sucesso? Talvez não tenha mais mérito do que ter captado o que as mulheres procuravam”.
Penteou figuras como Aga Khan, Carmen Sevilla, Lola Flores, Rocío Jurado, Bianca Jagger, a Rainha Sofia, Letizia ou a duquesa de Alba — algumas das quais integraram o livro “Ellas, las mujeres que me han fascina”, dedicado às famosas com quem trabalhou. “Não há muitas pessoas assim. Como pessoa é excecional”, disse em relação à Rainha Sofia. Era amigo do artista Salvador Dali — o que lhe valeu a alcunha de “cabeleireiro de Dali”. Para o artista plástico fez a maior peruca do mundo, exibida na cara de West May, no Museu Dali de Figueres.
A morte da filha, num acidente de carro em 1991, terá sido a tragédia que marcou a sua vida e carreira, disse ao jornal espanhol El País. Outra das situações mais marcantes aconteceu quando a primeira mulher e os dois filhos o despediram da sua própria empresa, em 2010, alegando incompetência no trabalho. Mas a realidade era outra: o despedimento, que deu origem a uma luta judicial, detalha o El Mundo, aconteceu depois de a família descobrir que Llongueras mantinha uma relação secreta com uma mulher 27 anos mais nova. Dois anos depois, os filhos indemnizaram o pai, mas não reataram as relações.
Ao todo, Longueras teve seis filhos, fruto de duas relações — primeiro Lolita Poveda e depois Jocelyne Novell, com quem casou em 2006.
Vencedor, em 2019, do prémio International Hair Legend, revelou a propósito desta distinção ao El País que não tinha medo de morrer: acreditava na vida depois da morte e sabia que à sua espera estariam a avó Lúcia, os seus pais e a sua filha, Cristina.