“Morávamos no hotel Habana Libre e éramos tratados como duques. Tínhamos absolutamente tudo, mas o resto das pessoas vivia num deserto de consumo”, conta Martín Guevara, sobrinho de Che Guevara, ao El Mundo sobre a Cuba de Fidel Castro. O escritor deu uma entrevista ao jornal espanhol a propósito do livro que se prepara para publicar, “La Paz de los Gorriones” (ou “a paz dos pardais”, em tradução livre).

Martín Guevara relata como aos 10 anos partiu com os pais da Argentina para Cuba, onde sentiu na própria pele a “hipocrisia do comunismo” ao ser recebido de forma luxuosa no complexo turístico Habana Livre, onde lhe eram servidos ovos estrelados com bacon todas as manhãs. Não comia o último, conta, mas usava-o para fazer sanduíches para dar aos colegas da escola.

“Estávamos no prédio que Conrad Hilton inaugurou durante o período Batista, em 1958”, recorda. “Fidel tomou Havana e foi morar lá com todo o governo durante meses. Che só ficou lá um mês  e foi logo viver com a família para uma cabana, como qualquer cubano. Isso diferenciava-o de Fidel, que tinha e viva com gosto de monarca. Era uma contradição.

Martín é filho do também escritor Juan Martín Guevara, um de quatro irmãos de Ernesto Guevara, que também militava num dos movimentos revolucionários dos anos 70 na Argentina. Durante a sua infância e adolescência, o sobrinho do revolucionário fuzilado em 1967 conheceu no hotel Habana Libre líderes e figuras influentes da esquerda mundial, como Angela Davis e o filho de Huey Newton, fundador dos Black Panthers.

“Ao Fidel Castro vi três vezes”, conta ainda. “Tinha uma coisa magnética: uma retórica, uma forma de manejar os tempos que era alucinante. Podia convencer-te de algo e do contrário. Primeiro, seduzia-te porque era utópico e, logo a seguir, não tinha nada a ver com o que promulgava.”

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