O balanço final da polícia sobre os tumultos registados, segunda-feira, na província angolana do Huambo, dá conta de cinco mortos, oito feridos e 34 detidos, na sequência de protestos para a atribuição de subsídios aos combustíveis.
Em comunicado de imprensa, divulgado na página do Facebook da Polícia Nacional de Angola, a força de segurança no Huambo lamenta as mortes, que não foi “possível evitar” devido aos “atos de violência e afronta às forças policiais”.
A polícia registou igualmente a quebra de vidros em dois autocarros de transporte público, numa ambulância, em dois gabinetes provinciais do Urbanismo e Ambiente, da agência noticiosa angolana, ANGOP, do INAFOP e da subestação do Caminho de Ferro de Benguela.
A polícia refere ainda a tentativa de vandalização de armazéns de bens alimentares e da 3.ª esquadra de polícia, bem como a vandalização de cinco comités de ação do partido Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).
Segundo o balanço, foram apreendidas 29 motorizadas por envolvimento direto nos atos de desordem pública, que serão responsabilizados criminalmente.
“O comando da Polícia Nacional do Huambo endereça às famílias enlutadas os mais profundos sentimentos de pesar pela perda dos seus entes queridos durante os atos de desordem pública registados e reitera o compromisso de continuar a trabalhar no reforço do sentimento de segurança das comunidades, garantindo, nos termos da lei, o livre exercício dos direitos e liberdades dos cidadãos, pelo que apela à população a manter-se calma, evitando envolver-se em atos que promovam a violência e a desordem pública”, lê-se no comunicado.
Na segunda-feira, o Huambo começou a registar atos de desordem pública, que, segundo a polícia, consistiram na paralisação das atividades de táxi em vários pontos da província, com incidência nos municípios do Huambo e Caála, em várias paragens de táxis, onde taxistas e moto taxistas tinham montado várias barricadas para molestar colegas que não aderiram “ao protesto violento, agredindo-os com objetos de arremesso ao mesmo tempo que retiravam os passageiros de seus veículos”.
Esta situação “motivou a pronta intervenção das forças policiais, com o intuito de salvaguardar a integridade física das pessoas e dos seus bens”.
Várias fotografias e vídeos, alguns com imagens violentas chocantes, circularam nas redes sociais, dando conta dos confrontos entre os manifestantes e a polícia. Numa delas é visível uma pessoa ensanguentada no chão, pessoas a atirarem pedras grandes contra alguém que está no chão, tiros, fumo e delegações do MPLA vandalizadas.
Em declarações à agência Lusa, o porta-voz da Polícia Nacional no Huambo, intendente Martinho Kavita, disse na segunda-feira que os tumultos se iniciaram pouco antes das 7h00, quando taxistas e moto taxistas barraram estradas, queimando pneus e colocando pedras nas principais vias de acesso.
Martinho Kavita confirmou a detenção de manifestantes, sem esclarecer o número, a apreensão de veículos e motorizadas, bem como danos materiais de bens públicos e privados, não confirmando então os relatos de mortos e feridos.
O porta-voz da polícia no Huambo realçou que os tumultos foram registados em toda a cidade do Huambo, incluindo o município da Cáala.
“A Estrada Nacional 120 no sentido Huambo/Caála e 260 no sentido Caála/Huambo ficou barricada igualmente, queimaram pneus nesta estrada, colocaram pedras sobre a ponte para não deixar passar nenhum veículo”, disse.
De acordo com Martinho Kavita, “a situação não afetou somente moto taxistas, porque, na verdade, a confusão surge do facto de haver parte da classe que queria realizar e outra parte não queria e passaram a agredir-se uns aos outros”.
“Os que não queriam trabalhar entendiam que deviam impedir os outros de trabalharem, então, isso causou uma algazarra e obrigou a intervenção policial”, referiu, destacando que os bairros periféricos da cidade e as principais saídas foram afetados.
“Para quem vai à Chipipa, Caála, Kambiote, essencialmente e para quem vai à centralidade de Lossambo”, adiantou.
O governo angolano começou na sexta-feira passada a redução gradual da subvenção aos combustíveis, começando pela gasolina, que passou de 160 kwanzas o litro para 300 kwanzas o litro, não afetando os transportes públicos urbanos nomeadamente taxistas, moto taxistas, autocarros e embarcações de pesca artesanal.
Para que taxistas, moto taxistas e detentores de embarcações de pesca artesanal continuem a pagar 160 kwanzas o litro da gasolina (0,25 euros) ao invés do preço de 300 kwanzas (0,48 euros) o litro da gasolina, o governo vai atribuir cartões personalizados a esta classe de operadores, que estejam licenciados, com o subsídio diário de 7.000 kwanzas (11,3 euros) a diferença para cobrir o novo valor estipulado para este derivado de combustível.