O príncipe Harry regressou ao tribunal esta quarta-feira de manhã para o seu segundo dia de depoimentos no caso que moveu contra o Mirror Group Newspapers (MGN). O aparato mediático à porta do tribunal foi, mais uma vez, muito. Segundo a BBC, dezenas de jornalistas aguardavam para ver o príncipe chegar, o que aconteceu perto das 10h00. Harry saiu de um Range Rover preto, disse bom dia, mas não respondeu a questões antes de entrar no Rolls Building.

O interrogatório a Harry por parte do advogado do MGN terminou ao final da manhã. Durante o seu tempo, Andrew Green acusou Harry de especulação. Estamos no “terreno da especulação total sobre de onde a informação possa ter vindo”, acusou o advogado. “Não, de todo, discordo”, respondeu Harry. Em causa estava uma história sobre a antiga namorada do príncipe, a sul-africana Chelsy Davy, que cita uma “fonte do palácio”. O príncipe disse nunca ter discutido pormenores da sua relação com a namorada com o palácio, por isso acredita que a dita fonte é suspeita e alega que o que é atribuído a esta descrição resulta, na realidade, de hacking telefónico, descreve a BBC.

Depois da pausa para almoço, foi a vez do advogado do príncipe, David Sherborne, lhe colocar perguntas. Harry conta que encontrou um dispositivo de localização no carro da ex-namorada, Chelsy Davy, e alega ter sido colocado por um investigador privado que já acusou em outros casos. Também um amigo do príncipe, Mark Dyer, encontrou um dispositivo de localização no carro, escreve a BBC.

A imprensa enganou-me durante toda a minha vida, encobriu irregularidades, por isso estar sentado num tribunal sabendo que a defesa tem as provas à frente e que o Sr. Green [advogado do MGN] diz que estou a especular… Não tenho a certeza do que dizer sobre isso”, afirmou ainda o filho mais novo do Rei já no fim do seu testemunho.

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O príncipe Harry acabou de testemunhar pelas 14h30. Contudo permaneceu no tribunal para ouvir os depoimentos de uma antiga editora de assuntos da realeza do jornal Daily Mirror, Jane Kerr. Esta testemunha foi chamada pelo MGN.

Os advogados

Andrew Green KC é conhecido como “o monstro” e tem fama de “eviscerar” as testemunhas que interroga, segundo o jornal Telegraph. A base do seu trabalho são os casos relacionados com comércio, bancos e seguradoras, contudo especializou-se na área das belas artes e já defrontou casas leiloeiras. O advogado não se impressiona com celebridades. Tem no seu currículo vários casos que opõem artistas às suas empresas discográficas ou editoras, assim como já representou o boxeur Lennox Lewis num caso contra a promotora Panos Eliades e o treinador de futebol Alan Pardew quando este era treinador do Newcastle e esteve contra a Football Association, em 2013.

Do lado do príncipe Harry e dos outros três queixosos é David Sherborne quem lidera a equipa legal. Já teve várias celebridades como clientes, uma delas a mãe de Harry, Diana, a princesa de Gales, mas também Tony Blair e Donal J. Trump todos estes em casos relacionados com a imprensa. Contudo a esta lista de nomes famosos juntam-se ainda Paul McCartney, Michael Douglas, Jude Law, Sienna Miller, Kate Moss, Elton John, Harry Styles e, recentemente, Johnny Depp e Colleen Rooney, mulher do futebolista Wayne Rooney num caso altamente mediático no Reino Unido, segundo enumera o New York Times.

Sherborne tem muita experiência em defrontar a imprensa tablóide britânica. Foi ele quem representou os queixosos no famoso caso que ficou conhecido como Inquérito Leveson, que descobriu práticas de hacking telefónico em publicações de Murdoch em 2012. É também ele quem está responsável pelo caso do príncipe Harry contra o News Group Newspapers (do empresário Rupert Murdoch), ou seja por dois dos três casos que o filho mais novo do Rei tem contra a imprensa britânica.

Um caso muito mediático

Depois de não ter comparecido em tribunal na passada segunda-feira, o testemunho de Harry começou esta terça-feira. O príncipe esteve em tribunal todo o dia, onde ao logo de cerca de cinco horas divididas entre a manhã e a tarde, respondeu às questões do advogado do MGN, Andrew Green KC. Na altura em que começou o depoimento de Harry foi tornada pública a sua declaração enquanto testemunha.

“Sinto hostilidade por parte da imprensa desde que nasci”, disse o príncipe logo no início do interrogatório, numa das frases que marcou o dia. Outra foi uma das frases retiradas da referida declaração. “A um nível nacional neste momento, o nosso país é julgado tanto pelo estado da imprensa como do nosso governo, acredito que ambos bateram no fundo.”

“A imprensa e o nosso Governo bateram no fundo”. Príncipe Harry apresentou-se em tribunal para testemunhar

O filho mais novo do Rei Carlos III acusa o grupo de media Mirror Group Newspapers, especificamente os títulos Daily Mirror, Sunday Mirror e The People, de reunirem informação sobre si de forma ilegal, para escrever artigos. Para tal o príncipe reuniu 33 artigos publicados nos jornais do MGN entre 1996 e 2011 para mostrar como a informação publicada só poderia ter sido obtida de forma ilegal. No interrogatório feito pelo advogado do MGN, nestes dois dias estão a ser passados em revista os referidos artigos e as origens da informação publicada. Harry deve explicar porque é que acredita que o conteúdo destas peças jornalísticas foi obtido utilizando métodos ilegais.

O príncipe não é o único a levar o grupo a tribunal. A ele juntam-se os atores Michael Turner e Nikki Sanderson, ambos da série Coronation Street, e Fiona Wightman, ex-mulher do comediante Paul Whitehouse. Estes acreditam que jornalistas dos títulos Daily Mirror, Sunday Mirror e The People acederam a mensagens de voz de amigos e familiares.

Este é apenas um dos casos que o príncipe Harry tem na justiça britânica contra meios de comunicação social. Em março, o príncipe apareceu de surpresa em Londres no primeiro dia da audiência preliminar num caso que opõe sete celebridades ao grupo Associated Newspapers, que detém o jornal Daily Mail, por alegadas escutas e pagamentos por informações sensíveis que se traduziram em “grosseiras invasões de privacidade”. A Harry juntam-se o cantor Elton John e o seu marido, David Furnish, bom como as atrizes Elizabeth Hurley e Sadie Frost.

O terceiro caso é contra o News Group Newspapers e trata de alegadas escutas feitas aos voicemails do príncipe pelo jornal The Sun na primeira década de 2000. Neste caso o príncipe entregou um testemunho escrito no qual alega que o irmão, o príncipe William, terá recebido uma “elevada soma” de dinheiro do grupo de media britânico de Rupert Murdoch, num acordo secreto para resolver discretamente as acusações de que telemóveis da família real tinham sido pirateados, em 2020. O NGN nega as alegações.