Em 2021, a Rolls-Royce fez uma promessa: o seu primeiro modelo 100% eléctrico seria submetido ao “mais exigente programa de testes na história da marca”. Ao fim de quase dois anos e depois de percorrer 2,5 milhões de quilómetros, sob as mais agrestes condições, a marca de luxo do Grupo BMW cumpriu o prometido, quando o Spectre cruzou a linha da “meta” em Londres.
O coupé eléctrico similar ao Wraith, que adopta a mesma plataforma em alumínio do Cullinan, do Ghost e do Phantom, naturalmente adaptada para servir a arquitectura eléctrica, deverá começar a ser fabricado no último trimestre deste ano. Mas, para a produção arrancar, há que garantir com segurança que o primeiro modelo exclusivamente a bateria da Rolls-Royce cumpre todos os requisitos para agradar ou, até mesmo, superar as expectativas dos clientes da marca. Daí que o desenvolvimento do Spectre o tenha obrigado a passar pelos quatro cantos do planeta, percorrendo o equivalente a 400 anos de utilização.
Foram milhões de quilómetros sem fazer concessões à dureza das condições pelo caminho, num total que ultrapassou as 50.000 horas de condução, período mais que suficiente para expor o coupé a temperaturas extremas, de -40°C a +50°C. Isso mesmo enfatizou o CEO da Rolls-Royce, Torsten Müller-Ötvös, destacando que, “para atingir a sua forma final e perfeita, o Spectre passou pela ‘escola de aperfeiçoamento’ da equipa de engenharia – e, ao fazê-lo, completou o programa de testes mais exigente da história da marca, abrangendo 2,5 milhões de quilómetros e todos os extremos de temperatura, clima, tipo de estrada e tipo de piso”.
Segundo a marca, ao longo desse tortuoso percurso de desenvolvimento, foram minuciosamente analisadas e ajustadas nada menos que 25.000 funções relativas ao desempenho do mastodôntico veículo, com um peso de 2975 kg, em que os 700 kg de baterias ajudam a incrementar a rigidez do chassi em 30%. Da experiência sonora a bordo, passando pela eficácia em curva, sem perder a compostura, tudo foi visto à lupa, inclusivamente a velocidade de carregamento e a autonomia. Recorde-se que o coupé de duas portas e quatro lugares vai debitar um total de 585 cv e 900 Nm, sem que a marca tenha ainda revelado o número de motores eléctricos do Spectre. A capacidade da bateria também permanece uma incógnita, mas a Rolls avança (preliminarmente) com um consumo médio de energia de 21,5 kWh/100km, para um alcance entre recargas de 520 km, pelo que é altamente provável que o pack de células perfaça 120 kWh.
A minúcia para conceber um eléctrico fora de série estendeu-se àquilo a que a marca chama “análise do estilo de vida”. Na prática, tal consiste em afinar cada detalhe do modelo, de forma a assegurar que este cumpre exactamente o que cliente que compra um Rolls espera. Exemplos de ajustes com esse objectivo não faltam: a direcção do eixo traseiro foi corrigida para garantir ao Spectre deambular sem problemas pelos bairros mais elitistas de Mayfair, Kensington e Chelsea, bem como pelas lojas de griffe londrinas. Mas há mais: foram adicionados sensores giroscópicos e de força G para garantir que as portas abrem e fecham sempre à mesma velocidade, independentemente do quão íngreme é a subida em que se pára ou o ângulo em que se estaciona. Até a Internet foi testada, afirma a Rolls-Royce, porque não há nada mais aborrecido do que não conseguir continuar uma conversa telefónica sem “soluços”, enquanto o Spectre está parado ao lado de um helicóptero, à espera que a conversa acabe para descolar…