O plano de obras no bloco de partos do Hospital de Santa Maria e a forma como o mesmo foi anunciado estão a gerar críticas no interior do Serviço de Obstetrícia do maior hospital do país. As preocupações de mais de 30 médicos do serviço constam de uma carta enviada à presidente do hospital e à direção clínica. Um dos subscritores dessa carta, enviada há cinco dias, foi próprio diretor do serviço, Diogo Ayres de Campos. O seu substituto, de forma interina, diz agora ao Observador que “partilha das preocupações” do colega.
Ayres de Campos foi esta segunda-feira exonerado do cargo por questionar do processo de colaboração com o Hospital São Francisco Xavier, que vai receber a maioria dos partos (apenas os partos de maior risco vão manter-se em Santa Maria, como o Observador noticiou em maio). O diretor interino do Serviço de Obstetrícia, Alexandre Valentim Lourenço, que já assumiu o cargo (que vai agora acumular com o de diretor do Serviço de Ginecologia), diz ao Observador que “partilha das preocupações” expressas na carta, que foi assinada por 34 dos 37 elementos do serviço.
Alexandre Valentim Lourenço admite que “alguns médicos não se sentem confortáveis” com o processo de transição para o Hospital São Francisco Xavier e admite que “há sempre um risco de desagregação das equipas nestes processos”.
Na missiva que enviaram à direção do hospital, os mais de 30 profissionais demonstram preocupação em relação ao processo de transição para o Hospital São Francisco Xavier. Questionam a capacidade desta unidade para receber todas as grávidas; alertam para as dificuldades de deslocação das grávidas para a zona do Restelo (onde fica o São Francisco Xavier); criticam a coincidência de datas entre o início da obras (previsto para 1 de agosto) e a Jornada Mundial da Juventude; questionam a ausência de obras também no internamento de puerpério (pós-parto), além do bloco de partos; e criticam a pressão a que foram sujeitos para assegurar a colaboração com o São Francisco Xavier.
O desconforto no seio das equipas obstétricas de Santa Maria não é uma novidade. No final de maio, quando o plano foi anunciado, Diogo Ayres de Campos, o agora ex-diretor do serviço, admitia, em declarações ao Observador, que “ninguém gosta de mudar e que o risco de saída de pessoas existe sempre“.
Agora, Valentim Lourenço sublinha que “havendo preocupações do profissionais, temos de as resolver”. Questionado sobre se houve um envolvimento dos profissionais no processo de transição, o responsável garante que sim, mas admite que “a forma como esse trabalho foi feito talvez não tenha sido a adequada”.
“Qualquer disrupção que exista não é boa para a manutenção das equipas e teremos de ter soluções“, afirma o responsável, alertando para a necessidade de um “plano exequível”, o que passa pela articulação com o São Francisco Xavier. “Neste momento, não sabemos qual a capacidade” do hospital de recurso, admite o médico, que vai esta quarta-feira reunir-se com o diretor do Serviço de Obstetrícia do São Francisco Xavier.
Valentim Lourenço garante, no entanto, que os profissionais “estão empenhados em tratar melhor os doentes”.