Foi ao quinto dia de buscas que um robô submarino, o primeiro dos vários envolvidos nos esforços de resgate que conseguiu chegar ao fundo do mar, encontrou os “destroços” do submersível Titan. Trata-se do Odysseus 6K, um veículo operado remotamente (ROV) e equipado com câmaras que permitem, mesmo sem tripulação, observar destroços que se encontrem a grande profundidade, maior até do que o local onde se situam os destroços do Titanic.

No caso do Odysseus 6K, operado pela empresa Pelagic Research Services e apoiado pelo navio canadiano Horizon Arctic, a profundidade a que chega é de quase seis mil metros — ou seja, atinge águas onde não chega nenhuma luz solar e precisa de ser pilotado por um operador que esteja à superfície, explicou à CNN o especialista em operações marítimas Mike Welham.

Como Welham descreve, este tipo de robô é muito “poderoso” e está equipado com luzes e câmaras que permitem vasculhar o fundo do mar em pormenor. “Lá em baixo está escuro como breu, por isso as luzes ficam na parte da frente e a câmara grava tudo o que se passar em frente. O piloto do veículo, que está no barco, vai comandar e orientá-lo conforme um padrão de busca, com uma grelha”.

Segundo o mesmo especialista, uma vez que os destroços são encontrados o robô fica então no terreno a recolher mais imagens, neste caso para que as equipas que estão no navio possam — como acabaram por fazer — identificar se os destroços pertencem ao Titan. Além disso, o robô inclui dois braços mecânicos que permitem que recolha objetos no fundo do mar.

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No site da Pelagic Research Services pode ler-se que o Odysseus 6K é um robô “facilmente transportável, extremamente capaz” que está disponível a nível “global”, cujo trabalho fica completo com os sistemas de “vídeo e tratamento de dados” que a empresa oferece.

Há também uma “sala de controlo” desenhada para o “conforto do cliente” que pode ser instalada num barco, sendo que todo este sistema pode ser transportado “através de camiões, comboios, barcos ou via aérea” para que o “prazo e orçamento” de cada projeto seja cumprido.

O Odysseus pesa 1.724 quilos — menos do que outros robôs do mesmo género, o que alarga o número de navios que o podem transportar e lançar ao mar, frisa a empresa. No caso, foi o Horizon Arctic, barco considerado pelo site especializado Vessel Finder “uma das embarcações mais versáteis do mundo”, que o lançou.

É um navio com 93,6 metros de comprimento, 24 metros de largura e capacidade para carregar 307 toneladas, e que segundo o Globo pode levar 60 tripulantes a bordo.  Também tem capacidade para ajudar no resgate de até 300 pessoas, embora desta vez o desfecho seja, como se confirmou ao início da noite, o mais trágico e não haja vidas para salvar.

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Robô ligado por “cabo umbilical” ao navio

Não é que robôs como o Odysseus sirvam habitualmente para fazer buscas ou resgates: este tipo de aparelhos costuma ser usado para pesquisa e estudos geológicos, uma vez que está equipado com câmaras e sensores que permitem captar imagens e dados científicos em mares profundos. Os exemplos dados no site da Pelagic Reserarch Services para os seus possíveis usos vão da instalação e manutenção de sistemas de observação do oceano, tarefas “industriais” e amostragem biológica a “buscas” e “explorações”.

Como explica o Globo, este tipo de robô é capaz de captar tanto imagens estáticas como vídeos debaixo de água, além de conseguir recolher amostras biológicas e geológicas no fundo do mar. O conjunto de câmaras com que está equipado também pode servir para fazer reconstituições em 3D das áreas que esteve a observar, permitindo estudar posteriormente essas zonas.

Embora estes robôs mergulhem sem tripulação a bordo, mantêm sempre a comunicação com o navio de apoio, que os lança ao mar: estão ligados ao barco por “cabos umbilicais” para obter energia, comunicar e, quando a missão está terminada, serem puxados de novo para a superfície.

No caso do Odysseus, a empresa que o opera — Pelagic Research Services descreve-se como “uma empresa de serviços do oceano que traz o planeamento de expedições, a sua execução e ferramentas para pesquisas submarinas à comunidade oceânica global”.

Já na tarde desta quinta-feira, cerca de seis horas depois de o robô ter atingido o fundo do mar para começar as buscas e numa altura em que ainda não estava confirmado o destino do Titan nem as mortes dos cinco viajantes, a empresa chegou mesmo a publicar no seu site uma nota de condolências dirigida às famílias das vítimas — que apagou de imediato.

Autoridades dos EUA criticadas por atrasos

Segundo a Pelagic Research Services, a Força Aérea dos Estados Unidos transferiu o aparelho para o barco canadiano na terça-feira. Foi, de resto, noticiado logo de início que há muito poucos aparelhos no mundo com capacidade para descer até águas tão profundas e que seria preciso mobilizar ajuda vinda de outros países. O antigo capitão da marinha norte-americana Ray Scott McCord disse à CNN que apesar de os Estados Unidos terem em sua posse ROVs com motores elétricos e câmaras, não tinham capacidade para levantar e recuperar o submersível.

Também o antigo comandante de submarinos norte-americano David Marquet fez declarações no mesmo sentido à CBS, lembrando que “apenas uma pequena percentagem dos submarinos no mundo opera em águas tão profundas”.

Mas o atraso nas buscas valeu críticas às autoridades norte-americanas, incluindo de Richard Garriott de Cayeux, presidente do Explorers Club, um grupo que se dedica à exploração científica e tinha a possibilidade de enviar o seu ROV Magellan, com capacidade para chegar a águas igualmente profundas. Foi aliás contactado pela empresa que organiza as viagens aos destroços do Titanic na segunda-feira, mas diz ter recebido “sinais mistos” da parte dos Estados Unidos.

Segundo a National Geographic, Garriott queixou-se num e-mail enviado a um responsável da Marinha norte-americana de ter recebido primeiro ordens do governo dos Estados Unidos para se preparar para avançar e depois para recuar, tendo estes esforços ficado presos por confusões “burocráticos”. O robô acabou por só chegar ao local esta quinta-feira, apesar de ter garantido que a partir do Reino Unido, onde o aparelho estava, teria demorado apenas 16 horas a chegar ao local das buscas.

Robôs como este tiveram de ser enviados a partir de vários pontos do planeta — foram disponibilizados equipamentos vindos do Reino Unido, França e Canadá — porque os Estados Unidos não teriam no local aparelhos capazes de chegar a águas tão profundas e recuperar o submersível. Foi essa a justificação que deu o instituto estatal francês Ifremer ao enviar o seu próprio ROV, o Victor 6000, que descia até seis mil metros e conseguiria puxar o submersível até um navio com capacidade para o levar à superfície, dizendo que no local não havia nenhum equipamento com a mesma capacidade.