Além de realizador, James Cameron é um experiente explorador subaquático, que chegou a desenhar submersíveis e que, no total, já ‘mergulhou’ 33 vezes para visitar os destroços do Titanic. Esta quinta-feira, destacou semelhanças entre o naufrágio desse navio que tão bem conhece (sobre o qual fez um dos filmes mais vistos e mais premiados) com o desaparecimento do Titan. E alertou para o facto de a OceanGate ter sido “avisada” sobre a segurança, ou falta dela, do submersível.
“Estou impressionado com a semelhança do desastre do Titanic, em que o capitão foi avisado repetidamente da existência de gelo no caminho do seu navio e, ainda assim, avançou a alta velocidade em direção a um campo de gelo numa noite sem lua, levando à morte de muitas pessoas”, afirmou, em declarações à ABC News. Para James Cameron é “surreal” que uma tragédia onde “não se prestou atenção aos alertas” tenha acontecido exatamente no mesmo local da do Titanic.
OceanGate foi avisada de que a expedição poderia ter problemas “catastróficos”
O realizador garantiu que há algum tempo que já soavam os alarmes, por entre os membros da comunidade de mergulho profundo, quanto ao “fator demasiado experimental” do Titan, bem como quanto à “falta de certificação”. Cameron, que ganhou três Óscares com o filme Titanic, sublinhou a importância das empresas privadas que promovem mergulhos turísticos serem certificadas e criticou Stockton Rush, que se encontrava no submersível aquando do desaparecimento e cuja morte foi confirmada esta quinta-feira, por nunca o ter feito. O fundador da OceanGate — empresa que promovia a viagem para ver os destroços do Titanic a bordo do Titan — tinha considerado que a certificação era um impedimento para a inovação.
Em resposta às declarações de James Cameron, Guillermo Söhnlein, cofundador da OceanGate, acusou o realizador de não estar totalmente informado sobre o submersível e rejeitou algumas das críticas dirigidas à segurança e falta de certificação da empresa. “As pessoas continuam a equiparar certificação com segurança e estão a ignorar os 14 anos de desenvolvimento do Titan”, disse em declarações ao programa Today da BBC Radio 4.
“Qualquer especialista que se pronuncie sobre este assunto, incluindo James Cameron, também admitirá que não esteve presente na conceção, na engenharia ou na construção do submersível, muito menos no rigoroso programa de testes a que o Titan foi submetido”, defendeu. Apesar de garantir que a morte das cinco pessoas que iam no submersível ter sido uma “perda trágica”, Guillermo Söhnlein afirmou que quem explora o profundo dos oceanos “sabe o risco de operar sob tamanha pressão” e tem noção dos riscos de implosão.
Questionado sobre o que terá corrido mal, o cofundador da OceanGate disse que ainda é “muito cedo” para conseguir perceber e que há “dados que terão de ser recolhidos nos próximos dias, semanas e meses”. “Tenho a certeza de que a equipa trabalhará com quem está a conduzir as investigações para cooperar e fornecer o máximo de informações possível”, acrescentou.
Garantindo em declarações ao The New York Times que, até agora, não tinham existido “fatalidades neste tipo de profundidade e certamente nenhuma implosão”, o realizador James Cameron revelou que quando ouviu falar sobre o desaparecimento do Titan o único cenário em que conseguiu pensar “foi uma implosão”. “Para a eletrónica falhar, para o sistema de comunicações falhar, para o rastreamento falhar — o submersível foi-se”, vincou.
Por sua vez, numa outra entrevista, desta feita à CNN, detalhou que quando teve conhecimento da tragédia ligou “imediatamente” para alguns dos seus “contactos na comunidade de submersíveis profundos” e que uma hora depois obteve a confirmação de que “existiu algum tipo de ruído que era consistente com uma implosão”. “Pareceu-me uma confirmação suficiente para que todo o meu círculo íntimo soubesse que tínhamos perdido os nossos companheiros”, acrescentou. James Cameron era amigo de Paul-Henry Nargeolet, um dos ocupantes do Titan, há 25 anos.