O ex-diretor do Departamento de Obstetrícia, Ginecologia e Medicina da Reprodução do Hospital Santa Maria disse esta quarta-feira que não houve qualquer razão técnico-científica para justificar exonerações no serviço, admitindo razões políticas para tal decisão.

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Diogo Ayres de Campos, que foi esta quarta-feira ouvido na comissão parlamentar de Saúde, a pedido do Chega, sobre o plano para a resposta de Obstetrícia e Ginecologia traçado pela Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde (DE-SNS), recordou que o lugar que ocupava, assim como o da diretora do Serviço de Obstetrícia igualmente exonerada, Luisa Pinto, “são lugares técnico-científicos e não são de nomeação política“.

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Para se ser diretor de um departamento, tem de se submeter a um concurso, avalia-se a capacidade técnica, de divulgação científica, de internacionalização, e um hospital universitário como Santa Maria tem de ter essas capacidades presentes. Não havendo razão técnico científica para a exoneração, pode haver provavelmente razões politicas“, disse o especialista.

Ayres de Campos disse igualmente que alguns profissionais que assinaram a carta enviada ao conselho de administração do hospital a pedir a reversão destas exonerações, não tendo obtido resposta, admitem rescindir contratos e deixar o Santa Maria.

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O ex-diretor sublinhou que a carta que inicialmente foi enviada à administração do Santa Maria, que tanto ele como a diretora do serviço de Obstetrícia igualmente assinaram, “não era crítica”, servindo apenas para “levantar algumas preocupações e manifestar desgosto pela forma como as coisas [processo das obras no bloco de partos] foram feitas”.

Para Ayres de Campos, a carta foi mal interpretada pela administração e o motivo para a exoneração foi terem sido ambos subscritores desta missiva.

Considerou que as exonerações transmitem para os mais novos uma mensagem de “desrespeito pelo mérito, pelo esforço técnico cientifico das pessoas, mas também um desrespeito pelo departamento”.

Se há uma descrença nestes aspetos, as pessoas sentem que não vale a pena lutar pelo SNS (…). Não é assim que se retém talento em Portugal”, acrescentou.

Na semana passada, dezenas de médicos do Departamento de Obstetrícia, Ginecologia e Medicina da Reprodução (DOGMR) do Hospital Santa Maria pediram ao ministro da Saúde uma intervenção “pessoal, direta e urgente” para que a direção afastada seja readmitida.

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Numa carta enviada a Manuel Pizarro, os profissionais do Santa Maria consideram que os médicos Diogo Ayres de Campos (que era diretor do DOGMR) e Luísa Pinto (que dirigia o Serviço de Obstetrícia) “foram injustamente afastados das suas funções”.

Dizem que este apelo é uma tentativa de “repor a normalidade do funcionamento do departamento” e “evitar o seu desmoronamento“.

Ayres de Campos e Luísa Pinto foram exonerados em junho. Na altura, o Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN) justificou estes afastamentos com o facto de questionarem o projeto de restruturação no Hospital de Santa Maria e a colaboração com o S. Francisco Xavier.

Na nota divulgada na altura, o CHULN acrescentava que a direção do Departamento de Obstetrícia, Ginecologia e Medicina de Reprodução tinha vindo a assumir posições que, “de forma reiterada“, colocavam em causa “o projeto de obra e o processo colaborativo com o Hospital São Francisco Xavier, durante as obras da nova maternidade do HSM [Hospital Santa Maria]”.

Questionado sobre se as exonerações se deveram ao facto de terem sido um obstáculo às obras no Santa Maria, Ayres de Campos respondeu: “Isso é do mais absurdo. Se houve quem sempre defendeu a construção do novo bloco de partos fui eu e a dra. Luisa Pinto. Temos estado a trabalhar nisso desde há quatro anos”.

E acrescentou ter colaborado com o anterior Conselho de Administração do hospital na justificação para o financiamento das obras.