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O ex-presidente da Comissão Europeia Durão Barroso condenou esta terça-feira a suspensão anunciada na segunda-feira pela Rússia do acordo dos cereais, alertando que o preço a pagar pelos mais vulneráveis “é gravíssimo” e esperando que Moscovo reverta a sua posição.

Falando à margem do 6.º Eurafrican Fórum, ao qual preside, e que esta terça-feira começou na Nova SBE, em Carcavelos (concelho de Cascais), Durão Barroso disse que a decisão de Moscovo “é absolutamente condenável“, depois de Moscovo ter abandonado a Iniciativa dos Cereais do Mar Negro, assumida pela Rússia, Ucrânia, Turquia e Nações Unidas, alegando que as suas exigências não foram atendidas.

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Estar a fazer países africanos e não só africanos, países em vias de desenvolvimento, pagar um preço muito elevado por um problema que não foram eles que criaram, é gravíssimo“, declarou o ex-líder da Comissão Europeia, antigo primeiro primeiro-ministro português e que foi presidente não-executivo do grupo financeiro Golden Sachs, à qual se mantém ligado, em parte de uma entrevista concedida à Lusa a divulgar na íntegra na quarta-feira.

Durão Barroso manifestou o desejo de que a suspensão do acordo, que permitia a exportação de cereais ucranianos através do Mar Negro, em plena ofensiva russa na Ucrânia, venha a ser revertida, uma possibilidade que o Kremlin mantém em aberto caso as suas condições sejam aceites.

“Sei que está a ver uma grande pressão de alguns países, não apenas dos países ocidentais”, comentou, pedindo que “se oiça a voz dos países mais afetados, porque – é aquela velha expressão em várias línguas –, quando há um problema grande entre os grandes, quem sofre são os mais pequenos“.

O também presidente da Aliança Global para as Vacinas (GAVI), criada no âmbito da pandemia de Covid-19, mencionou o caso dos países africanos, “que não têm nada a ver com esta guerra ou não estão diretamente implicados” e que “são os que sofrem as consequências desta maneira brutal”.

Durão Barroso recordou que a iniciativa da guerra partiu de Moscovo e que as consequências do conflito decorrem da “ação ilegal que foi a invasão da Ucrânia pela Rússia”, em que “há agressor e um agredido” e é isto que, destacou, importa explicar, porque “às vezes pode haver tendência no chamado ‘sul global’ de pôr a responsabilidade toda nos europeus ou na Europa”.

Não”, insistiu, “a responsabilidade é de quem lançou esta guerra e esta agressão”.

A Rússia opôs-se à extensão do acordo enquanto as suas exigências sobre o comércio dos seus próprios produtos agrícolas, prejudicadas pelas sanções contra os seus bancos, não forem acolhidas, e denunciou a extensão do entendimento.

O acordo sobre os cereais ucranianos permitiu, apesar da guerra em curso na Ucrânia desde a invasão russa, em 22 de fevereiro de 2022, colocar no mercado mais de 30 milhões de toneladas de cereais e produtos agrícolas.

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Em reação, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, sustentou que, “mesmo sem a Rússia, tudo deve ser feito para usar este corredor” no Mar Negro.

A suspensão mereceu comentários do secretário-geral da ONU, António Guterres, a alertar que centenas de milhões de pessoas vão pagar pela decisão da Rússia de romper com o acordo.

O Presidente da Turquia afirmou, por sua vez, acreditar que o seu homólogo russo, Vladimir Putin, “quer manter” o acordo.

Daremos passos nesse sentido, com um telefonema a Putin, sem esperar por agosto”, declarou,

O recuo de Moscovo em relação à prorrogação da Iniciativa dos Cereais do Mar Negro recebeu críticas contundentes de alguns dos principais aliados de Kiev, como a Comissão Europeia, Estados Unidos, Reino Unido Alemanha, França e Alemanha e Portugal, alertando igualmente para o seu impacto em milhões de habitantes residentes em países vulneráveis.

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