As autoridades iranianas continuam a aumentar o círculo de repressão às mulheres que se recusam a usar o véu islâmico. Tribunais pelo país têm passado várias sentenças de prisão e declarações de doença mental a quem desobedece à lei.

Na cidade de Varamin, por exemplo, uma mulher viu-se obrigada a escolher entre uma pena de prisão de dois meses ou passar um mês a lavar cadáveres no maior cemitério do país por ter conduzido sem o hijab, segundo relata a imprensa internacional. O caso não é único. Um tribunal em Teerão condenou uma outra mulher, sob a mesma acusação, a 270 horas de trabalho de limpeza no edifício do Ministério do Interior.

Em alguns casos, a justiça iraniana declarou que mulheres tinham doenças mentais por aparecerem em público sem hijabs. Foi o que aconteceu a três atrizes nacionais proeminentes, Azadeh Samadi, Leila Bolukat e Afsaneh Bayegan.

A primeira foi detida por usar um chapéu em vez de um hijab durante um funeral, mas acabou por não receber uma pena de prisão. Um tribunal proibiu-a de usar o telemóvel durante seis meses e ordenou que todas as suas contas nas redes sociais fossem desativadas. Já Bolukat foi condenada a seis meses de prisão e proibida de exercer atividades profissionais durante dois anos por “danos à moralidade pública e castidade” depois de publicar imagens sem hijab nas redes sociais. Também está impedida de deixar o país e foi obrigada a ler e escrever um texto sobre um livro cujo nome não foi divulgado.

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Por outro lado, Bayegan foi condenada a uma pena suspensa de dois anos de prisão após ter participado na cerimónia de um filme com um chapéu, em vez de um hijab. Adicionalmente, a atriz foi proibida de viajar e de usar as redes sociais durante dois anos. Ainda antes de conhecida a sentença, a atriz anunciou que iria reformar-se do setor, que descreveu como “desonroso”.

As declarações de doença mental passadas por vários tribunais têm sido alvo de várias críticas. “Os diagnósticos de doenças mentais são da competência dos psiquiatras, não de juízes. Tal como o diagnóstico de outros doenças é da competência de médicos e não juízes”, escreveu um coletivo de quatro profissionais do setor numa carta aberta dirigida ao chefe de justiça do Irão, Gholamhossein Mohseni Ejei.

A repressão parece estar aumentar numa altura em que se aproxima o aniversário da morte de Mahsa Amini, a jovem de 22 anos que no ano passado foi detida pela polícia da moralidade por usar o hijab de forma incorreta e acabou por morrer quando se encontrava sob custódia. O caso gerou uma onda de protestos por todo o país, que levaram às ruas milhares de pessoas que lutavam pelos direitos das mulheres.

A morte de Mahsa Amini gerou uma onda de protestos pelos direitos das mulheres. “Pode ser o prenúncio de uma nova era no Irão”

Desde a morte da jovem curda, as mulheres têm desafiado com maior frequência as autoridades iranianas, saindo à rua sem o véu islâmico, como mostram imagens partilhadas pelo Iran Human Rights.

Este mês as autoridades anunciaram que a polícia da moralidade intensificou a repressão às mulheres que desrespeitarem o código de vestuário. Jornalistas, advogados, ativistas e estudantes têm sido detidos e convocados a tribunal, segundo noticia a agência Reuters. É uma campanha para “instalar medo e intimidação”, denunciou um ativista à agência de notícias norte-americana.

Ao El País Shadi Sadr, ativista exilada e co-fundadora da organização não governamental Justice for Iran, disse não ter dúvidas de que esta é uma reação ao aproximar do aniversário da morte de Mahsa Amini. “Faltando dois meses para o aniversário da sua morte, o regime pretende evitar outra onda de protestos. Eles planeiam consegui-lo ao reprimir as mulheres e incutir medo em toda a nação”, afirmou.