Uma bracelete preta e um mostrador branco, redondo e discreto. Enquanto a poeira da JMJ 2023 assenta, fazemos zoom in no pulso papal para pôr os olhos no relógio que fez conjunto com as vestes do Papa Francisco ao longo de todo o evento, entre homilias e bebés abençoados: um Swatch clássico, lançado há mais de 20 anos pela marca suíça. Chama-se Once Again, é movido a quartzo e custa 60 euros na loja online portuguesa da Swatch.
No ano passado, este mesmo modelo bateu um recorde mundial quando foi vendido num leilão da Rago Auctions por mais de 56 mil dólares (cerca de 51 mil euros), tornando-se no Swatch mais caro alguma vez vendido. Foi doado pelo Sumo Pontífice à Brian LaViolette Scholarship Foundation, fundação norte-americana que atribui bolsas a estudantes universitários. O relógio foi leiloado com um certificado de autenticidade assinado pelo secretário pessoal do Papa, o padre Fabio Salerno.
O Papa não veste Prada
Além do Swatch que tem sido visto a usar desde que passou a liderar a Igreja Católica, em 2013, sabe-se que o Papa Francisco também é dono de um igualmente decoroso Casio MQ24-7B2. O design tem algumas semelhanças, com a bracelete simples em preto e o mostrador branco. Também este modelo é movido a quartzo, mas é ainda mais barato do que o suíço, à venda por 19,90 euros no site da Casio.
As escolhas modestas de Francisco contrastam com as do seu antecessor, o Papa Bento XVI, famoso pela sua preferência por acessórios exuberantes que lhe valeram até um lugar destacado na lista dos homens mais bem vestidos de 2007 da revista Esquire, com menção especial para os seus loafers vermelhos. Por essa altura, a especulação em torno do calçado papal era muita e as mentes mais inquisitivas presumiam que os pés de Joseph Ratzinger tinham especial preferência por uma luxuosa casa de moda italiana.
Tanta especulação acabou por levar o jornal do Vaticano a sentir necessidade de negar quaisquer conjeturas, apontando o dedo à revista masculina por incluir o Papa numa lista “de uma frivolidade que é muito característica de uma era que tende a trivializar”. O artigo esclarecia que os acessórios de Bento XVI se tratavam de tradição e não de vaidade. “Em suma, o Papa não veste Prada, mas Cristo”, concluía.
Se não levava Prada nos pés, sabe-se pelo menos que Bento XVI levava um luxuoso Erhard Junghans Tempus Automatic no pulso. Já sobre o antecessor deste, o Papa João Paulo II, é sabido que tinha uma preferência pela Rolex, mais precisamente pelo modelo Datejust Steel-Gold, com a bracelete numa mistura em ouro de 18 quilates e aço inoxidável.
O primeiro Papa a vestir burel da Serra da Estrela
Voltemos à Jornada Mundial da Juventude e ao Papa Francisco, que levou tradição portuguesa nas suas vestes brancas com a lã Serra da Estrela. “É a primeira vez que o burel é usado numa veste papal, representando o símbolo da participação do interior do país — e da cultura tradicional portuguesa”, explicou a JMJ em comunicado.
“É um grande orgulho, como portugueses e como empresa”, adiantou por seu lado Isabel Costa, uma das fundadoras da Burel Factory, ao jornal Público, declarando que o Papa Francisco se trata da personalidade mais importante de sempre a usar burel. A fábrica de Manteigas foi contactada há cerca de 9 meses para participar na confeção dos paramentos oficiais da JMJ. Toda a lã usada foi paga pela Igreja e apenas os paramentos do Papa, dos cardeais concelebrantes e dos diáconos assistentes tiveram burel.
Na Consolata Loja, fornecedora e distribuidora oficial das vestes da JMJ Lisboa 2023, é possível encontrar as estolas, paramentos, dalmáticas e mitras oficiais, com preços que vão dos 42 euros aos 150 euros. Nenhum destes artigos, no entanto, foi confecionado com a tradicional lã portuguesa, aqui, para efeitos deste evento, elevada a todo um novo estatuto.