Uma mulher de 34 anos recebeu o útero da irmã de 40 anos e poderá agora tentar engravidar. A cirurgia teve lugar em fevereiro e foi o primeiro transplante de útero a ser feito no Reino Unido. Um segundo transplante será realizado no outono e já há mais 15 transplantes autorizados: 10 com origem em dadores em morte cerebral e cinco de dadores vivos, como foi este primeiro caso.

A dadora e recetora do transplante encontram-se ambas bem de saúde e a cirurgia foi considera um sucesso pelos médicos dos Hospitais Universitários de Oxford. A mulher que recebeu o útero teve alta ao fim de 10 dias e duas semanas após a intervenção menstruou pela primeira vez, noticiou a BBC.

Um bebé nasceu do útero da avó… no corpo da mãe

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A mulher de 34 anos nasceu com uma condição rara em que o útero não se desenvolve plenamente (síndrome Mayer-Rokitansky-Küster-Hauser), o que fez com que não tivesse menstruação e não poderia ter filhos, ainda que os ovários fossem funcionais.

A irmã, mãe de duas crianças, doou-lhe o útero e agora será a vez da mais nova tentar ter dois filhos com recurso a técnicas de reprodução medicamente assistida. Como o transplante obriga a tomar medicamentos imunossupressores (para evitar a rejeição do órgão), o que por si também acarreta alguns riscos, o útero deve ser removido ao fim de cinco anos e um máximo de duas gravidezes.

O processo de transplante durou cerca de 17 horas e exigiu o trabalho de mais de 30 pessoas. Primeiro, a dadora foi sujeita a uma intervenção de oito horas e 12 minutos para remoção do útero; depois, foram precisas nove horas e 20 minutos para colocar o útero na recetora, explicou o jornal The Guardian.

Barrigas de aluguer. De quem é o bebé?

Especialistas ouvidos pelo Science Media Center destacam a importância deste tipo de cirurgias que permitem a mulheres que nasceram sem útero ou que tiveram de o remover (por causa do cancro, por exemplo) serem mães sem terem de recorrer a barrigas de aluguer ou adoção. Um dos especialistas destaca que pode ser uma solução também mulheres transgénero que queiram engravidar.

Por agora, um dos principais obstáculos parece ser o custo da intervenção. Neste caso, as cerca de 25 mil libras (quase 30 mil euros) foram financiados por donativos para a associação Womb Transplant UK. Para as outras 15 intervenções já autorizadas são precisas mais 300 mil libras (mais de 350 mil euros).

25 anos de experiência em modelos animais

Apesar de descrevem a intervenção como bem sucedida, resultando num útero funcional e sem sinais de rejeição do órgão, a equipa que juntou profissionais do Imperial College de Londres e Hospitais Universitários de Oxford admite que “o processo de transplante uterino está associado a riscos significativos, incluindo múltiplas cirurgias de grande porte, o uso de imunossupressão enquanto o enxerto está in situ e a necessidade de se submeter à fertilização in vitro para engravidar”.

Na revista científica BJOG, onde relataram o caso, os médicos revelam: “A implantação foi dificultada por um tempo cirúrgico prolongado e uma perda de sangue muito maior do que o esperado, embora as consequências disso tenham sido anuladas pelo uso proativo de transfusão [do sangue perdido pela própria doente]”.

Mulher que nasceu sem útero dá à luz nos Estados Unidos

Os médicos atribuem o sucesso da cirurgia aos mais de 25 anos de investigação pré-clínica, nomeadamente fazendo transplantes em modelos animais, como coelhas, porcas e ovelhas. A experimentação em modelos animais só terminou quando nasceu a primeira criança de um útero transplantado na Suécia, em 2014.

Até agora já foram feitos mais de 90 transplantes de útero em vários países do mundo, incluindo Suécia, Estados Unidos, Arábia Saudita, Turquia, China, República Checa, Brasil, Alemanha, Sérvia e Índia, relata o jornal The Guardian. Como resultado destes transplantes, houve 49 nascimentos bem sucedidos.