As suspeitas rapidamente se colaram à pele do Presidente russo. Teria Vladimir Putin ordenado que Yevgeny Prigozhin, o líder dos Wagner que organizou há dois meses um motim, fosse eliminado? O porta-voz russo Dmitry Peskov garante que não. As alegações de que foi o Kremlin a ordenar a morte de Prigozhin são “uma completa mentira”, sublinhou esta sexta-feira em declaração aos jornalistas.

Peskov reiterou que está em curso uma investigação para apurar as causas da queda do avião e indicou que Putin não se reuniu com Prigozhin recentemente. Questionado sobre se o chefe de Estado russo vai estar presente no funeral do líder dos Wagner, um antigo aliado que chegou a ser apontado como eventual sucessor, Peskov disse que ainda não é possível saber, uma vez que o Presidente tem uma “agenda muito preenchida”.

Aos jornalistas, o porta-voz do Kremlin disse ainda que o grupo de mercenários Wagner não tem uma existência formal e legal, mas reconheceu o “grande contributo” que deram a combater na Ucrânia. O porta-voz do Kremlin elogiou o “heroísmo” dos combatentes, que ganharam destaque durante os combates sangrentos para ganhar controlo da cidade de Bakhmut.

Na quarta-feira um avião de Yevgeny Prigozhin despenhou-se na região russa de Tver quando fazia uma viagem entre Moscovo e São Petersburgo. Seguiam no voo dez pessoas, entre os quais, segundo a lista de passageiros divulgada pela Agência Federal de Aviação Russa, Prigozhin e Dmitry Utkin, o número 2 da Wagner.

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Os últimos 32 segundos do avião em que seguiria Prigozhin, segundo o site FlightRadar

Não se sabe para já o que provocou o acidente, mas circulam várias teorias e rumores sobre o que terá acontecido. O canal Grey Zone, ligado ao grupo Wagner, avançou que o avião foi abatido pelas defesas anti-aéreas do Exército russo. Há também quem culpe a Ucrânia pelo incidente, defendendo que este foi um ataque vindo de Kiev. É o caso do blogger Markov, conhecido por ser do chamado “partido da guerra”, a fação de apoio a Putin mais radicalmente a favor do conflito na Ucrânia.

Certo é que a Rússia não gostou de ouvir as palavras de Presidente norte-americano, Joe Biden, sobre a morte de Prigozhin. Na quarta-feira, o chefe de Estado disse que não ficou surpreendido com o sucedido, alegando que Moscovo poderia ter algum envolvimento. “Ainda não sei bem o que aconteceu, mas não estou surpreendido. Poucas coisas acontecem na Rússia sem que Putin tenha algo a ver com isso“, afirmou.

O vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Ryabkov, criticou as declarações, que considera inapropriadas. “Não cabe ao Presidente dos EUA falar sobre acontecimentos trágicos deste género”, afirmou, citado pela agência Tass.

Para já, a Agência Federal de Aviação Russa revelou que foi criada uma comissão especial para investigar as circunstâncias e causas do acidente. O Comité de Investigação, um órgão jurídico na Rússia, anunciou também a abertura de um inquérito relativamente à queda de avião.

As autoridades anunciaram esta sexta-feira que recuperaram os corpos dos dez passageiros que seguiam no avião e estão a ser realizados testes de ADN para comprovar a sua identidade. Também a caixa negra do avião foi recuperada.

Rússia recupera corpos de passageiros do avião em que viajava Prigozhin