Conhecido por ter contratado as primeiras mulheres guardas florestais do país, o Parque Nacional de Band-e-Amir, no Afeganistão, está agora interdito às mulheres. O Ministério do Vício e Promoção da Virtude afegão, um dos mais poderosos no regime talibã, proibiu a entrada das mesmas no parque, elevando o tom das críticas das organizações internacionais às medidas impostas pelos talibãs, segundo um comunicado divulgado esta segunda-feira pela Human Rights Watch (HRW).
“Não contentes com privar as raparigas e as mulheres da educação, do emprego e da livre circulação, os talibãs também querem tirar os parques e os desportos e, agora, até a natureza“, acusou num comunicado a diretora para os Direitos da Mulher da HRW, Heather Barr. “Passo a passo, as paredes estão a fechar-se sobre as mulheres e cada casa torna-se uma prisão”, acrescentou.
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No sábado, os talibãs proibiram o acesso das mulheres ao parque nacional Band-e-Amir, localizado na província central de Bamyan, por estas alegadamente não respeitarem as regras do uso do hijab [véu islâmico].
O anunciou da decisão foi feito à comunicação social pelo ministro da Propagação da Virtude e Prevenção do Vício, Mohammad Khalid Hanafi, depois de uma reunião com líderes religiosos locais.
“As mulheres e as nossas irmãs não podem ir a Band-e-Amir até que cheguemos a um princípio de acordo. As agências de segurança, os anciãos e os inspetores devem tomar medidas a este respeito. Fazer turismo não é um dever”, disse Hanafi no final da reunião, segundo o canal afegão ToloNews.
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Este novo veto, que se soma a uma longa lista de restrições adotadas contra as mulheres pelos talibãs desde que chegaram ao poder, deve-se ao facto de “existirem queixas sobre a falta do hijab ou sobre o uso indevido do hijab no parque”, explicou o chefe do conselho xiita de Bamyan, Sayed Nasrullah Waezi.
O relator especial da ONU para os direitos humanos no Afeganistão, Richard Bennett, manifestou no domingo o seu desconforto com esta medida na rede social X [ex-Twitter], questionando se realmente esta restrição “é necessária para estar de acordo com a Sharia [conjunto de leis islâmicas] e com a cultura afegã”.
Can someone please explain why this restriction on women visiting Bande Amir is necessary to comply with Sharia and Afghan culture? #womensrightsarenotnegotiable https://t.co/QbC6azYbmm
— UN Special Rapporteur Richard Bennett (@SR_Afghanistan) August 27, 2023
Considerado um oásis pacífico, Band-e-Amir é composto por meia dúzia de lagos “criados naturalmente com formações e estruturas geológicas especiais, bem como belezas naturais únicas”, segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), sendo o primeiro parque nacional a ser estabelecido no Afeganistão, em 2009.
Em 2013, tornou-se um importante símbolo de mudança depois de ter sido anunciada a contratação de quatro guardas-florestais do sexo feminino, um facto inédito no país.
Para a diretora para os Direitos da Mulher da HRW é difícil perceber qualquer razão racional para a proibição ter sido imposta: “Que explicação se pode dar, para além da crueldade?”, perguntou, citada no The Guardian.
“É um lugar mágico para ir, porque se veem famílias a rir, a fazer piqueniques e a divertir-se”, disse Barr. “E foi isso que os talibãs acabaram de retirar — a possibilidade de as famílias passarem um dia juntas, com as mulheres da família a fazerem parte disso.”
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Como afirmou este mês Mahbouba Seraj, ativista dos direitos das mulheres afegãs e nomeada para o Prémio Nobel da Paz de 2023, no Afeganistão, “a liberdade das mulheres já não existe.”
“As mulheres no Afeganistão estão a ser lentamente apagadas da sociedade, da vida, de tudo — das suas opiniões, das suas vozes, do que pensam, de onde estão”, acrescentou, citada na CNN International.
Desde a tomada do poder pelos talibãs no Afeganistão, há dois anos, os direitos das mulheres foram severamente restringidos. As mulheres foram retiradas praticamente de toda a vida pública, foram impedidas de aceder ao ensino secundário e universitário e de trabalhar na maioria dos espaços públicos, com algumas exceções.
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Além disso, as autoridades emitiram restrições que as obrigam a sair às ruas com o rosto coberto e devem ser acompanhadas em viagens longas por um membro da família do sexo masculino, entre outras medidas.
A realidade que os afegãos vivem nos dias de hoje é cada vez mais semelhante ao primeiro regime talibã, que aconteceu entre 1996 e 2001, quando, com base numa interpretação rígida do Islão e do seu estrito código social conhecido como pashtunwali, as mulheres ficavam confinadas em casa.