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O principal conselheiro da Presidência ucraniana considerou nesta sexta-feira que o Papa Francisco não pode mediar o conflito na Ucrânia por ser “pró-russo”, após o pontífice ter mencionado a “Grande Mãe Rússia” e a respetiva herança cultural durante um discurso.

No passado mês de agosto, num discurso dirigido a jovens católicos russos, Francisco enalteceu a herança da “Grande Mãe Rússia”. “Nunca esqueçais essa grande herança. Vós sois os herdeiros da grande mãe Rússia, segui em frente com ela”, afirmou na ocasião.

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Estes comentários do Papa, que mais tarde insistiu serem estritamente culturais, irritaram Kiev, que acusou Francisco de legitimar as iniciativas imperialistas passadas e presentes de Moscovo.

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Durante uma polémica entrevista da Oksana Kharkovska da estação televisiva ucraniana Canal 24 — divulgada pelo site noticioso do Vaticano Il Sismógrafo — Mykhailo Podolyak, principal conselheiro do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou nesta sexta-feira que o pontífice não pode desempenhar um papel num processo de mediação após tais comentários. “O Papa não pode desempenhar um papel de mediação, porque é pró-russo e não é credível”, afirmou o conselheiro.

Perante tal situação, Podolyak disse que Kiev exclui a possibilidade de mediação do Vaticano para solucionar o conflito militar no território ucraniano. Na mesma entrevista, Podolyak também insinuou a existência de investimentos russos no Instituto para as Obras de Religião (IOR), mais conhecido como o Banco do Vaticano.

Na passada segunda-feira, a bordo do avião papal e no regresso a Roma após uma visita à Mongólia, Francisco justificou que não elogiou o imperialismo russo, mas exortou “a conservar a herança” e “a transmissão da cultura russa”.

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“Num diálogo com jovens russos emiti no final uma mensagem que repito sempre: que cuidem da sua herança. É o mesmo que digo em todos os lugares, a necessidade de diálogo entre avós e netos. Esta era a mensagem”, esclareceu na ocasião. Papa acrescentou que se referiu à “Grande Rússia” para sublinhar a sua mensagem, porque “a herança russa é muito boa e muito bela e basta pensar no campo da literatura, da música, até chegar ao escritor Fiodor Dostoievski” que aborda o humanismo.

Papa Francisco reconheceu que a terceira parte da sua alocução, na qual reiterou o discurso da herança, “talvez não tenha sido muito feliz“, mas indicou que “não era uma referência ao plano geográfico mas antes cultural”. “Disse-o porque foi o que estudei no colégio”, acrescentou. “Queria dizer que têm de herdar a sua cultura, que não se pode comprar num outro lugar, e que a cultura russa é belíssima e profunda e não ficará congelada apesar de a Rússia ter registado momentos obscuros”, sublinhou.

O Papa frisou ainda que não pensava em “imperialismo”, pelo facto de “existirem imperialismos que querem impor a sua própria ideologia e quando a cultura é destilada e se transforma em ideologia que se converte em veneno”. As palavras do Papa foram na ocasião criticadas pelo porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Oleg Nikolenko, ao considerar que defendiam o “imperialismo russo”.