O antigo coordenador do Bloco de Esquerda (BE) Francisco Louçã disse este sábado à agência Lusa que se vive na atualidade sob uma ameaça de “agressividade extrema” seja pela guerra, pelo desastre climático ou pela desigualdade social.

“Vivemos ameaçados por uma agressividade extrema, que é o extremismo de uma guerra, a ameaça do desastre climático, o ‘apartheid’ social, a desigualdade social o enriquecimento de alguns para o empobrecimento de muitas pessoas, a desigualdade entre homens e mulheres”, considerou Francisco Louçã.

O bloquista falava à agência Lusa no final de uma “aula”, com base em imagens, pinturas e cartazes, em que falou do que leva “da utopia à distopia”, uma aula enquadrada no Fórum Socialismo, que decorre em Viseu, e marca a ‘rentrée’ política do Bloco de Esquerda.

“Vivemos numa sociedade que se torna muito opressiva e muito ameaçadora. A segurança das pessoas, a tranquilidade das pessoas é violentada permanentemente pelo aumento dos juros ou pela dificuldade de alugar um quarto para os filhos, ou pelos empregos precários, ou salários baixos. A vida é um susto”, acrescentou.

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Francisco Louçã avisou, no debate após a apresentação, que não iria falar sobre estratégias políticas. “Essa componente é para outras pessoas, noutros debates”, afirmou. Mas reconheceu que tem de haver “fortes movimentos populares” contra as ameaças e opressões e “a esquerda tem de criar a ideia de que há bens comuns”.

“De que há uma responsabilidade comum, de que tem de haver uma comunidade. O sentido da liberdade é encontrar soluções para os problemas fundamentais” que a sociedade vive e para o qual “deve ser [direcionado] o programa da esquerda”.

Problemas como “a habitação, a qualidade da habitação, o acesso ao hospital, o acesso aos cuidados dos mais velhos, a criatividade cultural dos mais novos” e que, “em grande medida, é o que as mobilizações populares e mais jovens vão fazendo na sociedade portuguesa, que está a mudar muito nesse ponto de vista”.

Francisco Louçã lembrou que “há uns anos não havia as marchas LGBT, as manifestações do 08 de março, as manifestações pela habitação”, por exemplo, e, por isso, disse que “já há um renascer da esperança” feito pelas pessoas que lutam.

“São a construção da ideia de que há bens comuns, que a liberdade é uma necessidade e uma responsabilidade que temos uns em relação aos outros e a democracia faz-se dessa forma”, defendeu.

No seu entender, a democracia “não se faz com mais 31 mil milionários em Portugal, faz-se com mais gente que não esteja no limiar da pobreza, com jovens qualificados que não tenham de ter o mesmo salário que tinham há 20 anos”.

“Ou que Portugal não seja o terceiro país mais precário da Europa. Esse tipo de recordes são assustadores para nós, são uma humilhação de Portugal”, apontou.

Neste sentido, continuou, disse que as respostas sociais devem ser dadas na política, “e que o Bloco de Esquerda deve dar, e deve ser no sentido de organizar alternativas muito concretas, que marcam o terreno como as manifestações” já agendadas, a próxima em 30 de setembro, sobre habitação.