O rei Carlos III começou o segundo dia da sua visita de Estado a França a discursar perante os parlamentares franceses no Senado, em Paris. Da guerra na Ucrânia às alterações climáticas, o monarca deixou ainda uma menção à mãe.
Classificando a relação entre o Reino Unido e a França como de “aliados e melhores amigos”, o Carlos falou em francês — recorrendo por vezes ao inglês — quando agradeceu ao país as homenagens prestadas à rainha Isabel II aquando da sua morte.
A 8 de setembro de 2022, os presidentes da Assembleia Nacional e do Senado francês afirmaram que a antiga monarca “era a personificação da democracia britânica com verdadeira dignidade”. Revelou que, tanto para ele como para a família real, essas palavras foram muito importantes, agradecendo novamente a “grande gentileza” demonstrada por França “numa altura de tanta tristeza”.
“Na rica e complexa tapeçaria das relações entre a França e o Reino Unido, o fio de ouro da minha mãe brilhará para sempre”, afirmou Carlos, citado pela BBC. “Que ela nos inspire a todos”.
Entre os temas abordados pelo monarca no Senado francês estiveram ainda a “horrível” invasão russa, e o apelo à vitória da Ucrânia. O monarca sublinhou assim o apoio de Paris e Londres a Kiev face à “agressão injustificada ao continente” europeu por parte da Rússia. “Juntos estamos firmes na nossa determinação de que a Ucrânia triunfará e que as nossas estimadas liberdades prevalecerão”, afirmou em francês. O discurso de Carlos III foi aplaudido de pé pelos deputados durante mais de um minuto e meio. “Aplausos que nos fazem sonhar”, comentou o presidente do senado francês, Gérard Larcher.
O monarca sublinhou ainda a prioridade de lutar contra as alterações climáticas e propôs que França e Reino Unido se comprometam com um “Acordo para a Sustentabilidade” que responda, “de forma mais eficaz”, à “emergência global do clima e da biodiversidade”.
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Inspirado na “Entente Cordiale” (“Entendimento Cordial”), assinada em 1904 como base de uma aproximação entre os dois países, até aí adversários tradicionais, Carlos III explicou que a iniciativa se inspira “no exemplo do passado” e visa “ultrapassar os imensos desafios do mundo”, num discurso proferido perante os deputados franceses em francês e em inglês.
A declaração surge um dia depois de o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, ter anunciado o adiamento de várias medidas emblemáticas da política climática do Reino Unido, uma decisão condenada nos círculos económicos e até mesmo entre os conservadores no poder.
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Durante esta quinta-feira, o rei Carlos III e a rainha Camila vão ainda dirigir-se à Catedral de Notre-Dame, onde, junto a Emmanuel Macron, vão poder ver os trabalhos de renovação em curso, que se prevê que estejam terminados no próximo ano, cinco anos depois do incêndio.
O Rei terminará a viagem na sexta-feira com uma paragem em Bordéus, onde vai encontrar-se com pessoas afetadas pelos incêndios florestais de 2022 na região e visitar a Forêt Experimentale, um projeto concebido para monitorizar o impacto do clima nas florestas urbanas, e uma vinha pioneira numa abordagem sustentável da produção de vinho.