O secretário-geral do PCP falou esta segunda-feira sobre os “terríveis desenvolvimentos no conflito entre Israel e o povo palestiniano”, sem nunca referir os ataques de 7 de outubro. Na conferência de imprensa onde apresentou as conclusões do Comité Central, Paulo Raimundo diz que esta é “uma situação inseparável de décadas de ocupação, opressão e desrespeito dos direitos do povo palestiniano por parte de Israel, intensificada agora pelo Governo de extrema-direita de Netanyahu.”

O líder comunista diz que o PCP condena “como sempre (…) todos os momentos as ações que vitimem as populações e inocentes”, mas não refere em momento algum as vítimas do lado israelita. E logo acrescenta que o “PCP condena a escalada da guerra de Israel contra o povo palestiniano, um povo já profundamente martirizado e que mais uma vez é alvo de bombardeamos indiscriminados, bloqueio e ameaças que procuram condenar o povo palestiniano ou à morte ou à expulsão.”

Raimundo só falou sobre o Hamas quando foi questionado pelos jornalistas sobre o assunto e acabou por ser crítico ao dizer que “basta olhar para o porquê da sua criação e do onde da sua criação para perceber, e basta ver a atitude que teve para aquilo que foi o combate às forças democráticas na Palestina, para perceber que o Hamas pode servir muita coisa, inclusive interesses muito obscuros, mas que as ações que tem desenvolvido, a maior parte delas, não interessam ao povo palestiniano.” Ainda assim diz ser um “erro de análise” olhar para o conflito como sendo entre Israel e o Hamas, alertando que esses “erros pagam-se caros”. Na enumeração de erros do Hamas, ignorou o ataque de 7 de outubro.

O secretário-geral do PCP fez questão ainda de “assinalar a hipocrisia e o cinismo daqueles que falam em Direito Internacional, mas que durante anos consecutivos se calaram perante a brutalidade exercida contra o povo palestiniano e agora se continuam a calar perante o massacre e os crimes de guerra em curso na Faixa de Gaza pelas mãos de Israel.”

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Num paralelismo a que se refere, nas entrelinhas, aos que criticam a invasão russa da Ucrânia, o secretário-geral lamenta que “desses” não tenha havida “uma palavra, uma condenação que seja, qualquer iniciativa para travar o crime que está em curso.” E ainda acrescenta: “Não só condenam como apoiam as tentativas de proibição em várias partes do mundo de manifestações pela paz e de solidariedade com o povo palestiniano.”

Os comunistas, diz o secretário-geral, reafirmam “a urgência de uma solução política para o conflito e apela aos democratas para que exijam concretização efetiva das resoluções nas Nações Unidas, que responsabilizam cada um dos Estados, incluído o estado português — com a solução de dois Estados, com a criação do Estado da Palestina, soberano e independente, com as fronteiras de 1967 e a capital em Jerusalém oriental.”

“Substituir o PS pelo PSD, com ou sem CDS e os seus sucedâneos — Chega e IL, não é a solução que o país precisa”

Do comité central do PCP resultaram também conclusões sobre o Orçamento do Estado para 2024, apresentado pelo Governo na passada terça-feira. Os comunistas consideram que o Governo optou por “limitar salários e pensões”, por “restringir a despesa e investimento público” e ainda por “não desmobilizar recursos e de garantir privilégios ao grande capital”. E acrescentou: “É esta a matriz de um orçamento a partir da falácia em torno dos impostos.”

Recordando, o chumbo do OE 2022, que desencadeou eleições legislativas, Raimundo lembrou que, há dois anos, “o PS recusou o aumento dos salários, recusou a revogação da caducidade da contratação coletiva, recusou o tratamento mais favorável ao trabalhador, recusou tomar medidas para fixar trabalhadores no SNS e reforçar os serviços públicos, recusou tomar medidas em relação à habitação, quando já se adivinhava como um problema”.

E concluiu: “Todas as questões recusadas não só não estão resolvidas, como no fundamental se agravaram”. O secretário-geral do PCP entende que “hoje é uma evidência que substituir o PS pelo PSD, com ou sem CDS e os seus sucedâneos — Chega e IL, não é a solução que o país precisa”. Assim, garante que o caminho que o país precisa “exige o reforço do PCP, a força portadora e dinamizadora da alternativa política”.

Raimundo garantiu que o comité central do PCP “sublinha e valoriza a luta dos trabalhadores, das populações e apela à intensificação dessa luta”, apelando às reivindicações e protestos para defesa das mesmas. Anunciou ainda uma nova ação do PCP, sob o lema “É hora de aumentar salários e pensões”, que visa a recolha de 100 mil assinaturas.

Artigo atualizado às 19h13 de segunda-feira com as respostas de Paulo Raimundo na fase de perguntas e respostas. Esclarecendo que, ao contrário da declaração inicial (onde não referiu o Hamas), acabou por condenas as ações daquele grupo nos últimos anos.