Os dinossauros e mais de 70% das espécies extinguiram-se há cerca de 65 milhões de anos sem que os humanos primitivos alguma vez lhes tivessem posto os olhos em cima, mas a causa do seu desaparecimento continua a apaixonar cientistas e não cientistas. Esta segunda-feira, uma equipa coordenada pelo Observatório Real da Bélgica e pela Vrije Universiteit de Bruxelas acrescentou mais uns grãos (literalmente) de conhecimento a esta questão.

Se já está a pensar na queda do meteorito, não se preocupe, esse continua a ser o evento que terá desencadeado tudo o resto. O que a equipa de Cem Berk Senel, primeiro autor do artigo publicado na Nature Geoscience, traz de novo é o papel das poeiras que ficaram em suspensão na atmosfera e que terão causado não só o arrefecimento do planeta, mas o bloqueio total da fotossíntese — e as plantas são a base da cadeia alimentar.

Asteroides, meteoros e meteoritos: qual a diferença?

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  • Asteroides —  são objetos rochosos e metálicos que orbitam o Sol, na cintura de asteroides entre Marte e Júpiter, ou que orbitam outros corpos celestes (incluindo planetas), mas que são demasiado pequenos para serem considerados planetas ou luas;
  • Meteoroides — é o nome dado aos materiais rochosos (poeiras ou maiores), que existem dispersos no sistema solar, antes de entrarem na atmosfera planetária. Distinguem-se dos asteroides e dos cometas, mas podem ter-se originado a partir destes;
  • Meteoros — quando o meteoroide entra na atmosfera terrestre fica incandescente devido à fricção com a camada protetora do nosso planeta. É por isso que vemos um rasto brilhante;
  • Meteorito — se o meteoroide que entra na atmosfera terrestre não arde totalmente e cai na superfície da Terra (ou oceano) passa a chamar-se meteorito.

Recuemos cerca de 66 milhões de anos ao momento em que se pensa que o asteroide Chicxulub, com 10 a 15 quilómetros de diâmetro caiu (com estrondo) na península do Iucatão, no México. O impacto foi equivalente à explosão de 10 mil milhões de bombas atómicas como a de Hiroshima e provocou uma cratera com 180 quilómetros de diâmetro. A queda do asteroide (ou meteorito, que é o nome que se dá quando chega à superfície do planeta) desencadeou uma série de eventos que, em conjunto, terão levado à extinção dos dinossauros não avianos (os que não deram origem às aves modernas) e de cerca e 75% das espécies que viviam no planeta nessa altura.

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Sismos, tsunamis, erupções vulcânicas (em terra e no mar) e incêndios, estão entre os efeitos imediatos do impacto do asteroide, mas a colisão da rocha gigantesca também empurrou uma quantidade enorme de partículas para a atmosfera (incluindo as camadas mais altas).

A libertação de uma grande quantidade de energia aquando o choque terá vaporizado rochas que continham enxofre e pulverizado o subsolo cristalino de Iucatão, libertando poeiras de silicato. Além disso, a queima de rochas ricas em compostos orgânicos e grandes incêndios florestais, também causados pelo impacto do asteroide, libertaram partículas e fuligem — algo que tão bem reconhecemos dos incêndios florestais que nos afetam.

As 24 horas que se seguiram ao impacto do asteróide que extinguiu os dinossauros

Com o impacto também terão sido libertadas outras moléculas (não partículas) como o dióxido de carbono, vapor de água e metano — três componentes bem conhecidos pelo potencial de provocarem o aquecimento global. No passado, estes componentes também terão causado o aquecimento global do planeta, mas numa escala de milhares ou dezenas de milhares de anos. A equipa de Cem Berk Senel, porém, estava focada numa escala mais imediata, no inverno que se seguiu ao impacto e nos efeitos climáticos provocados pelas partículas finas libertadas.

Com a extinção estimada de 75% das espécies que habitavam o planeta é fácil imaginar que o impacto da colisão do asteroide tenha sido global. Pensar que os investigadores estiveram a estudar o impacto as poeiras encontradas não no México, mas na Dakota do Norte, a cerca de três mil quilómetros, também ajuda. O local, Tanis, é um dos sítios de referência para estudar a transição entre o Cretácio e o Paleogeno (quando a extinção em massa marcou o fim de um período e o início do outro), mas tem características que não foram encontradas em nenhum outro local: restos dos materiais libertados pelo impacto do asteroide juntamente com fósseis de animais.

O que aconteceu em Tanis ainda está a ser estudado, mas uma equipa que juntou investigadores dos Estados Unidos e da Bélgica (incluindo da Vrije Universiteit de Bruxelas) já começou a contar a história. Os sismos violentos que se seguiram à queda do asteroide provocaram ondas gigantescas num mar interior do continente americano; ao mesmo tempo, a rocha derretida que tinha sido lançada na atmosfera arrefeceu e caiu violentamente na terra sob a forma de pequenas esferas vítreas. A queda das esferas terá provocado incêndios em terra e, na água, colaram-se às guelras dos peixes impedindo-os de respirar — tal como aparece nos fósseis encontrados.

As ondas gigantescas provocadas pelos sismos, como um tsunami dentro de um continente, acabaram por atingir um rio, inverter a corrente e lançar milhares de peixes sobre um banco de areia. Sem água para os cobrir e bombardeados pelas esferas que caíam em velocidade, os peixes não tiveram forma de escapar. Quando uma nova onda gigante surgiu, arrastou consigo cascalho, areia e sedimentos finos, cobrindo totalmente os peixes e criando a camada que agora pode ser estudada, conforme descreve o comunicado de imprensa da Universidade de Washington, em 2019.

O asteróide que matou os dinossauros pode ter arrefecido mais a Terra do que se pensava

Foi esta rica camada sedimentar que a equipa de Cem Berk Senel usou para modelar o que terá acontecido no clima do planeta após a queda de Chicxulub. “As nossas simulações indicam que tanto as poeiras de enxofre como de silicato tiveram uma influência na mudança térmica à superfície, levando a um inverno prolongado de até 20 anos, em que os primeiros cinco a oito anos são os mais severos”, escreveu a equipa no artigo científico. De acordo com os autores, a temperatura média global à superfície desceu 25 ºC.

Mais, em qualquer dos cenários estudados, os investigadores preveem que houve uma “paragem global da atividade fotossintética”, ou seja, as plantas deixaram de realizar a fotossíntese, que permite à planta transformar os nutrientes em compostos orgânicos e crescer, reproduzir-se, cumprir as funções vitais e, por arrasto, alimentar os animais.

Esta paragem global terá começado duas semanas depois da colisão e durado cerca de 1,7 anos e, “mesmo 2,2 anos depois do impacto, durante o verão boreal, a atividade fotossintética permanecia baixa”. Os investigadores estimam que quatro anos depois do impacto, os níveis de atividade fotossintética terão voltado ao normal, mas pelo caminho muita coisa tinha mudado.

Trata-se de um período suficientemente longo para colocar sérios desafios tanto nos habitats terrestres como marinhos. Os grupos bióticos que não estavam adaptados para sobreviver em condições de escuridão, frio e privação de alimentos durante quase dois anos teriam sofrido extinções em massa”, justificam os autores.

Pelas simulações realizadas, os investigadores calculam que as partículas — que teriam entre 0,0008 e 0,008 milímetros — permaneceram na atmosfera mais do dobro do tempo do que era anteriormente estimado, cerca de 15 anos, no cenário que combina os três tipos de partículas (enxofre, silicatos e partículas dos incêndios). A equipa verificou também que o maior impacto na redução da fotossíntese foi devido às poeiras de silicatos e menos devido às partículas de enxofre ou as partículas libertadas pelos incêndios — que tinham sido o foco de trabalhos anteriores.

Ainda que os registo fóssil e sedimentar esteja muito bem preservado em Tanis, este é só um dos locais onde existem pistas sobre o que aconteceu há 66 milhões de anos. Terá o impacto na fotossíntese e nos seres vivos dos oceanos sido tão grande como nos continentes? Será que o impacto no hemisfério sul foi menor do que no hemisfério norte — como alguns dados preliminares indicam? Estudar as diferenças à volta do planeta são agora os objetivos da equipa, conforme disseram ao jornal The New York Times.