O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, propôs, esta quarta-feira, comprar cereais à Ucrânia para os enviar para o Médio Oriente, como medida para continuar a ajudar ambas as regiões, que a União Europeia (UE) considera prioritárias.
Num debate realizado no Parlamento Europeu, em que se falou dos temas abordados na cimeira europeia de 26 e 27 de outubro, o presidente do Conselho Europeu centrou-se em particular na escalada da violência no Médio Oriente, desencadeada pelo ataque de dimensões sem precedentes do movimento islamita palestiniano Hamas a Israel, a 07 de outubro.
Mas também pediu que não fosse esquecida “a situação geopolítica” e, nesse contexto, defendeu que se deve continuar a prestar ajuda à Ucrânia, uma questão que continua a estar no “centro das preocupações” da UE.
“Podemos ajudar o Médio Oriente e, ao mesmo tempo, fornecer ajuda à Ucrânia. Por isso, proponho que compremos cereais à Ucrânia, mandando depois esses cereais a quem deles necessita no Médio Oriente. Será um forte sinal de solidariedade e de eficiência”, sublinhou.
Michel começou por dizer que “nada pode justificar o terrorismo do Hamas” e os mais de 1.400 mortos, na maioria civis, e os mais de 200 reféns feitos por combatentes do movimento islamita a 07 de outubro em território israelita.
“Nunca poderemos permitir que estes ataques terroristas se repitam”, sublinhou o presidente do Conselho Europeu, acrescentando que lutar contra o Hamas — desde 2007 no poder na Faixa de Gaza – vai exigir “mais que ataques militares”, e que faz falta “uma coligação” de atores internacionais.
Por outro lado, reiterou que a UE defende o direito de Israel a defender-se, mas sempre respeitando o direito internacional.
Ao mesmo tempo, afirmou que são necessários no Médio Oriente “corredores para fazer chegar a ajuda” humanitária e que é preciso trabalhar para uma “paz duradoura” na região.
Sublinhou igualmente que israelitas e palestinianos “têm direito a um futuro estável em paz” e que é preciso “pensar qual pode ser o futuro dessa região”.
Por isso, considerou que a UE tem “a responsabilidade de ajudar”, através dos esforços diplomáticos, para avançar num plano “que tem de assentar na solução dos dois Estados”, que inclua um Israel “seguro” e um “Estado palestiniano que conte com um Governo que pense nos interesses dos seus cidadãos”.
Também salientou que a UE continuará a ser um doador à Autoridade Palestiniana e recordou que o bloco comunitário europeu quer “organizar assim que possível uma conferência em prol da paz”.
Na mesma sessão plenária, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que “apesar de Israel ter direito a combater o Hamas, também é essencial que se esforce por evitar vítimas civis, porque cada vida humana é importante, seja israelita ou palestiniana”.
Para Von der Leyen, é essencial que a ajuda humanitária, que a UE aumentou nas últimas semanas até 100 milhões de euros, chegue à Faixa de Gaza, pelo que indicou: “Estamos a trabalhar num corredor marítimo a partir de Chipre. Garantiria um fluxo de ajuda sustentado, regulado e sólido”.
Além da tragédia atual, a chefe do executivo comunitário apelou a um esforço para se “pensar no amanhã”, com “a solução de dois Estados”, assente em “cinco princípios para o dia seguinte”.
Em primeiro lugar, afirmou, “Gaza não pode ser um porto seguro para os terroristas”; em segundo, “a organização terrorista Hamas não pode controlar nem governar em Gaza. Deverá haver uma só autoridade palestiniana e um Estado Palestiniano”.
Em terceiro lugar, prosseguiu Von der Leyen, “não haverá uma presença da segurança israelita a longo prazo em Gaza, porque Gaza é parte essencial de qualquer futuro Estado palestiniano e o território de Gaza não pode ser reduzido ou amputado de forma alguma”; em quarto, “não poderá haver qualquer deslocação forçada de palestinianos da Faixa de Gaza”; e, em quinto lugar, “não haverá um embargo continuado” de Israel àquele enclave palestiniano pobre.
A retaliação de Israel contra a Faixa de Gaza começou logo a seguir ao ataque de 07 de outubro, com cortes do abastecimento de comida, água, eletricidade e combustível e bombardeamentos diários, seguidos de uma ofensiva terrestre que já tem a cidade de Gaza sob cerco.
A guerra entre Israel e o Hamas, que hoje entrou no 33.º dia e continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza 10.569 mortos, na maioria civis, entre os quais 4.324 crianças, mais de 25.400 feridos e cerca de 1,5 milhões de deslocados, segundo o mais recente balanço das autoridades locais.