A Publicações Europa-América, uma das mais antigas editoras portuguesas, está de volta ao mercado editorial, depois de ter declarado insolvência em 2019. A chancela foi comprada por um novo grupo editorial independente, a EA/CZ Editora, avança um comunicado enviado esta quarta-feira às redações.
“A Europa-América foi uma das mais importantes editoras da segunda metade do século XX português. Ciente do seu legado histórico e patrimonial, a EA/CZ Editora adquiriu a chancela, com o objetivo de relançar a marca e garantir a publicação regular de autores não editados em Portugal, fomentando a leitura junto de novos públicos”, afirma Alexandre Rezende, responsável pela EA/CZ Editora, no mesmo comunicado. “Os bens da editora foram objeto de venda judicial tendo a EA/CZ Editora adquirido as marcas editoriais e iniciado este novo projeto”, lê-se ainda.
Em 2021, Alexandre Rezende comprou, em leilão, a título individual, a marca Europa-América, pelo valor de cinco mil euros, revela ao Observador. Um ano depois, constituiu a EA/CZ “para relançar a Europa-América”, diz o único sócio da editora, que trabalha na área da energia.
“Não tenho qualquer ligação [ao mercado livreiro]. A única ligação que tenho aos livros é enquanto um ávido leitor”, menciona. Até ao momento, a empresa não tem trabalhadores, optando pela subcontratação de serviços.
A EA/CZ é “uma editora independente focada na publicação de ficção contemporânea” e que “tem como principais atividades a edição, revisão, tradução, promoção e publicação de obras de ficção literária”, refere o site.
A Europa-América pretende agora posicionar-se como “uma referência na publicação de ficção literária contemporânea, de autores ainda não publicados em Portugal”. Eu matei um cão na Roménia, da escritora peruana Claudia Ulloa Donoso (tradução de Artur Guerra e Cristina Rodriguez), é o primeiro livro publicado pela nova vida da editora e chega esta quarta-feira às livrarias. O regresso ao mercado português e internacional acontece com uma nova imagem e um novo logótipo, que já é visível no site da Europa-América e na capa do primeiro título divulgado.
Até ao final de 2024, a editora planeia publicar 12 livros. O objetivo passa pela “publicação regular de novos títulos e ainda a ampliar o alcance e diversidade da literatura nacional, com a publicação de autores portugueses”.
Ao Observador, Rezende adianta que já estão em produção mais dois livros: um de um autor brasileiro e outro do autor mexicano Emiliano Monge. Ambos serão publicados no início do próximo ano. Para ler autores portugueses será preciso esperar um pouco mais. “Ainda não tenho em mente [nenhum autor]. É uma segunda fase. A primeira fase é ativar a marca e mostrar que estamos de volta”, sublinha.
Nos planos do grupo está também a criação de novas chancelas. “A Europa-América vai ser a nossa marca para a literatura contemporânea. Depois vamos tentar entrar noutros segmentos como o infantil e provavelmente não ficção, mas isso só a partir de 2025, com chancelas originais”, afirma.
Fundada em 1945, pelos irmãos Francisco Lyon de Castro e Adelino Lyon de Castro, a editora Europa-América publicou mais de 51 milhões de livros, de 1.900 autores nacionais e estrangeiros. Antes do 25 de abril editou autores “proibidos” pelo regime do Estado Novo, como Soeiro Pereira Gomes, Alves Redol, Garcia Marquez ou Jorge Amado. Publicou também autores até então inéditos em Portugal, como William Faulkner, John Steinbeck ou Vladimir Nabokov.