O homem que está à frente dos destinos da Volkswagen parece ser o primeiro a estar desagradado com o rumo da marca que lidera e que, durante anos e anos, dominou sem pestanejar o mercado europeu, tendo mesmo chegado a exibir a sua superioridade globalmente. Thomas Schäfer ter-se-á queixado que a VW perdeu competitividade enquanto marca, fruto da baixa produtividade e de custos elevados, com estes a impedirem-na de “atacar” o mercado com modelos a um preço atractivo.

Com muitas das nossas estruturas, processos e custos pré-existentes, deixámos de ser competitivos”, terá constatado o CEO da VW numa reunião que decorreu na sede da marca, em Wolfsburg, de acordo com uma publicação na intranet da empresa a que a Reuters teve acesso.

Segundo a referida agência de notícias, a afirmação de Schäfer foi proferida num encontro em que também se encontrava o homem que tem a pasta dos Recursos Humanos no conselho de administração. Gunner Kilian tem pela frente a missão de poupar o máximo que puder e como puder na despesa associada aos funcionários da companhia, razão pela qual já terá encetado conversações com o conselho de trabalhadores. No âmbito de um programa de cortes de nada menos que 10 mil milhões de euros, todos os esforços contam, incluindo os que afectam o pessoal. A VW vai suprimir todas as “gorduras” possíveis e procurar acabar com as redundâncias, mas assumiu publicamente que não há despedimentos no horizonte da empresa. O que Gunner Kilian deverá gizar até ao final do ano é uma espécie de PPR, mas ao contrário: um plano de poupança para a marca por via da reforma (parcial ou antecipada) dos trabalhadores em idade mais próxima da aposentação.

Gunner Kilian tem pela frente a negociação com funcionários para emagrecer a estrutura da VW

A administração da Volkswagen tem sublinhado que grande parte do corte de 10 mil milhões não será feito na massa assalariada, com a garantia de que até 2029 não haverá despedimentos. Em contrapartida, estão sobre a mesa gráficos com a curva demográfica desenhada pelos trabalhadores, para mais facilmente identificar os que serão convidados a sair, depois de chegarem a acordo acerca das condições propostas pela empresa.

A perder terreno na China, a enfrentar a concorrência de uma Stellantis cada vez mais fortalecida, tendo sempre presente que a Toyota não lhe facilita a vida, a VW passou ainda a ter que se preocupar com os sul-coreanos – Hyundai e Kia têm uma gama cada vez mais apelativa e com um notório incremento de qualidade e na sofisticação tecnológica. Como se este quadro não bastasse para rever as linhas da estratégia que tem vindo a seguir, o fabricante de Wolfsburg vê-se ainda na iminência de ser ultrapassado pela Renault, com o regresso do Twingo, do R4 e do R5 eléctricos…

O cenário está longe de ser tranquilizador quando é preciso continuar a investir na transição para os veículos eléctricos, nomeadamente nas plataformas que suportarão os próximos modelos, da MEB Entry à SSP. Talvez isso enquadre melhor a conclusão de Kilian: “Temos finalmente que arranjar coragem e ser honestos o suficiente para deitar fora aquilo que a companhia tem em duplicado ou que, simplesmente, é um lastro de que não precisamos para ter bons resultados.”

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