A Farfetch estará a estudar a saída da bolsa de Nova Iorque, avança o jornal britânico Telegraph. José Neves, fundador e CEO da plataforma de comércio eletrónico de luxo, já terá tido encontros com banqueiros e principais acionistas.

De acordo com o jornal inglês, José Neves já terá procurado o aconselhamento do banco de investimento JP Morgan. É ainda dito que a decisão estará a conseguir o apoio de acionistas de relevo, como a Alibaba. José Neves controla uma posição de 15% na empresa.

O anúncio da saída da bolsa de valores de Nova Iorque poderá acontecer a qualquer momento, diz a imprensa inglesa. Contactada pelo Observador, a Farfetch recusou-se a comentar.

A empresa tinha na agenda a apresentação de resultados do terceiro trimestre esta quarta-feira, após o fecho do mercado, mas cancelou a divulgação de contas. Numa nota disponibilizada na área de investidores, explica que “não vai anunciar os resultados financeiros do terceiro trimestre de 2023 e que não vai realizar a chamada com analistas que estava previamente marcada para 29 de novembro de 2023”. Não são apresentadas justificações, mas é indicado que a Farfetch “espera disponibilizar ao mercado uma atualização no devido tempo”. Por agora, a empresa não vai apresentar mais previsões ou “guidance” e “qualquer previsão ou ‘guidance’ anterior não deve ser considerada”.

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No trimestre passado, a empresa de José Neves registou um prejuízo de 218,3 milhões de dólares, um valor que contrastou com os lucros de 67,7 milhões de dólares registados no período homólogo. Entre abril e junho deste ano, as receitas da empresa caíram 1,3% para 572 milhões de dólares, face aos mesmos três meses de 2022.

A companhia, que foi o primeiro unicórnio português, entrou em bolsa através de uma oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês), em setembro de 2018. A plataforma de moda de luxo estreou-se em Nova Iorque com ações a 20 dólares — no fecho desta terça-feira, uma ação da Farfetch cotava nos 2,10 dólares, uma desvalorização acima dos 90% face ao preço inicial da entrada em bolsa.

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Antes da abertura do mercado, as ações da companhia recuavam 6,67% por volta das 11h30, de acordo com dados do MarketWatch.

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A Richemont, que detém marcas como a Cartier e que tem um acordo (ainda pendente de autorização regulatória) para vender a plataforma de comércio eletrónico Yoox Net-A-Porter à Farfetch, já reagiu à notícia da possível saída de bolsa, dando conta de que está a acompanhar “cuidadosamente a situação”.

Em comunicado, afirmou que está a “rever as suas opções” relacionadas com o acordo, que foi anunciado em agosto de 2022 e que prevê, caso ainda seja concluído, que receba entre 53 e 58,5 milhões de ações da empresa de José Neves. No quinto aniversário da conclusão da fase inicial da transação, se se vier a verificar, a Richemont também receberá 250 milhões de dólares, que é expectável que sejam pagos através de ações da Farfetch.

O acordo determinava ainda que as soluções tecnológicas desenvolvidas pela empresa com ADN português tinham de ser adotadas pelas várias marcas do grupo Richemont, que já esclareceu que continua a “operar nas suas próprias plataformas”. “Nem a Richemont Maisons, nem a Yoox Net-A-Porter adotaram as soluções da Farfetch”, lê-se no comunicado.

A Richemont recordou ainda os seus acionistas de que “não tem obrigações financeiras para com a Farfetch” e afirmou que não “prevê a concessão de empréstimos ou investimentos” à empresa.

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