Que conselhos tem para dar ao futuro primeiro-ministro? A pergunta foi feita por Ribau Esteves, presidente da Câmara de Aveiro (eleito pelo PSD) aos dois convidados das conversas improváveis — diálogos que não estamos à espera — durante o congresso anual da Associação Portuguesa de Agências de Viagens (APAVT). A responder estavam Jorge Nuno Pinto da Costa, presidente do FC Porto, e Rita Marques, ex-secretária de Estado do Turismo.

O conselho da ex-governante, que saiu em rota de colisão com o ministro da Economia, António Costa Silva, foi o de que é essencial apostar numa boa equipa governativa. “Não precisa de ser grande”, mas é essencial “garantir a lealdade”, disse Rita Marques. Reconhecendo que é cada vez mais difícil recrutar “porque as pessoas não querem vir para a política”, a ex-secretária de Estado defendeu que, mais do que ter espírito de missão, é preciso ter paixão. “Acima de tudo tive paixão para fazer acontecer as coisas. O espírito de missão é para os evangelistas”, defendeu a antiga governante perante uma plateia de cerca de 700 congressistas do evento que se realiza no Porto entre 30 de novembro e 2 de dezembro.

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A jogar em casa na Alfândega do Porto, o presidente do Futebol Clube do Porto também abordou o tema da dificuldade em levar as pessoas para a política. Segundo o diagnóstico de Jorge Nuno Pinto da Costa, o “grande problema que todos têm medo de dizer” é que existe um “cancro que impossibilita as pessoas de vir para a política. É a comunicação social”. Daí que, defendeu, quem quer se venha a ser o próximo primeiro-ministro “tem de pôr comunicação social em sentido” no aspeto de que não pode andar “atrás de um ministro para saber se a mulher tem um gato ou se o ministro está a usar calças de pijama”.

[Já saiu: pode ouvir aqui o quarto episódio da série em podcast “O Encantador de Ricos”, que conta a história de Pedro Caldeira e de como o maior corretor da Bolsa portuguesa seduziu a alta sociedade. Pode ainda ouvir o primeiro episódio aqui, o segundo episódio aqui e o terceiro episódio aqui.]

É uma alusão à cobertura televisiva feita dos movimentos de João Galamba, o agora ex-ministro das Infraestruturas, à porta de sua casa após ter sido constituído arguido na Operação Influencer e alvo de buscas. “O facto de as pessoas saberem que tem os ‘Correios da Manhã’ desta vida para os  filmar à porta de casa… ” As pessoas que são convidadas para irem para a política têm medo de que se investigue “se a sogra tem um apartamento do qual não pagou sisa” (antigo imposto sobre imóveis substituído pelo IMT).

“Enquanto não houver alguém com coragem para os meter na ordem, não adianta nada”, disse ainda o presidente do Futebol Clube do Porto que se referiu também à violação “constante” do segredo de justiça com a revelação do teor das escutas que envolveram membros do Governo, a propósito do caso judicial que levou à demissão de António Costa. ”É preciso descobrir quem passa a informação cá para fora”, mas “é difícil porque os investigadores (procuradores) teriam de ser investigados”.

O presidente do Porto, que nunca quis aceitar cargos políticos porque isso iria por em causa a sua “independência” enquanto dirigente desportivo, afirmou que ao contrário dos políticos não tem medo da comunicação social. “Eu afronto-os (…). Andam a tentar tirar-me de lá (da liderança do clube) há 40 anos”, mas “eu posso escolher para quem falo”.

Mais conciliadora, Rita Marques defendeu que é preciso distinguir os “jornalistas sérios”, que tentam fazer análises imparciais, dos comentadores. “A comunicação social (a televisão sobretudo) tem demasiados comentadores”, desabafou a ex-governante. Interpelada (por Ribau Esteves aqui a fazer moderador) para esclarecer se ficou amiga de António Costa Silva (o ministro da Economia), a ex-governante respondeu: “Fiquei amiga de muita gente no Governo. De outros nem tanto”.

António Costa demite dois secretários de Estado

Depois de sair do Governo no ano passado, Rita Marques chegou a ser contratada pela Fladgate Group, empresa que detém o projeto World of Wine, entidade à qual foi dado o estatuto definitivo de utilidade turística enquanto era secretária de Estado. Perante as críticas, a ex-secretária de Estado desistiu de desempenhar o cargo já este ano.

Rita Marques recua e já não vai para grupo hoteleiro a quem deu estatuto de utilidade turística. “Não tenho condições de aceitar”

Questionada sobre o seu futuro profissional, Rita Marques, que atualmente é professora da Porto Business School e faz consultoria, admite que irá abraçar outros projetos empresariais assim que passe o “período de nojo” que está escrito em letras minúsculas quando se aceita ir para funções governativas. A lei das incompatibilidades de titulares de cargos públicos impede um ex-governante de ir trabalhar para uma entidade que tenha beneficiado diretamente de uma decisão sua durante dois anos.

E saudades do poder? (pergunta de Ribau Esteves) A ex-governante diz que não tem. “Fiz o que devia der feito durante o tempo que me foi permitido.”

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Numa altura em que está ao rubro a disputa pela presidência futura do Futebol Clube do Porto, com a provável candidatura de André Villas-Boas, o autarca de Aveiro quis saber se Pinto da Costa ainda não está cansado de ter tanto poder. “Não estou cansado porque no FC Porto quando se acaba um jogo já estamos a pensar no jogo seguinte. Isto é tão intenso que nem dá tempo para pensar se estou cansado ou não”.