O governador do Banco de Portugal defendeu, numa análise publicada no site, que um aperto da política monetária maior do que o necessário pode colocar em causa os investimentos e aspirações dos trabalhadores e que a prudência deve orientar os aumentos salariais.
Na análise do governador Mário Centeno sobre as consequências dos desenvolvimentos no mercado de trabalho europeu para a evolução da inflação, publicada esta segunda-feira pelo Banco de Portugal (BdP), pode ler-se que “as políticas monetárias e fiscais devem reconhecer os desafios do mercado de trabalho, reconhecendo que a procura de trabalho é uma ‘procura derivada’ da atividade económica”.
Segundo Mário Centeno, “preservar os investimentos e as aspirações dos trabalhadores é incompatível com um aperto mais do que o necessário”.
O responsável do banco central português defende que “a prudência deverá orientar os aumentos salariais”, considerando que devem ser impulsionados por ganhos de produtividade, como observado nos últimos 35 anos.
“O sucesso de uma economia não é medido apenas pelo seu desempenho global, mas também pelo sucesso daqueles que estão pouco incluídos ou excluídos. Agir à margem é essencial”, refere.
O governador considera que a política monetária tem funcionado, mas com o desfasamento habitual, pelo que recomenda “paciência”.
“A função das políticas económicas continua a ser a estabilização da economia e das condições financeiras. Devemos permanecer, assim, fiéis aos princípios de reconhecer os dados, reportar as opções, e reagir apenas se, mas sempre que, necessário”, aponta.
Mário Centeno volta a defender que o mercado de trabalho permanece o maior ativo da área do euro e deve ser preservado. Já tem, por várias vezes, falado sobre o mercado de trabalho, acreditando que “o mercado de trabalho continuará a funcionar como um dique para conter as tensões que se vão criando nas dimensões da economia ou pode, pelo contrário, ser a primeira peça do dominó e gerar uma aterragem com aquela que contamos?”, deixou a interrogação. Quer as empresas, trabalhadores e decisões de política monetária e orçamental “devem entender importância desse fenómeno e garantir que este dique não se rompa porque é ele que neste momento sustém as nossas economias”.