O apresentador e empresário Nuno Graciano morreu esta quinta-feira, avançou a SIC. O apresentador de 54 anos estava internado no hospital com “prognóstico reservado” desde segunda-feira, segundo um comunicado divulgado nas suas redes sociais. “Agradecemos todo o apoio que temos recebido. Pedimos o máximo de respeito à família nesta fase”, reforçou o texto da família aquando do comunicado, quarta-feira. Ao que o Observador conseguiu apurar, Graciano teria tido um ataque cardíaco e encontrava-se em coma.
Nuno Graciano tem estado fora da televisão desde que foi comentador do programa TVI Extra e que participou no Big Brother Famosos, em 2022. No ano anterior, tinha-se candidatado à presidência da Câmara de Lisboa, pelo partido Chega, tendo depois dito que não era “filiado do partido” e que o fez apenas pela “possibilidade de trabalhar com pessoas” e “ao serviço do povo”.
Era pai de quatro filhos: Gonçalo, Tomás, Matilde e Maria. Os dois primeiros fruto da relação com Patrícia Chester e as duas raparigas do relacionamento com Bárbara Elias. A última publicação nas redes sociais foi mesmo uma fotografia com os filhos e a legenda “Amor”.
“Figura incontornável na história da televisão”
Nuno Graciano nasceu a 14 de dezembro de 1968 e estudou Relações Internacionais na Universidade Moderna. Estreou-se na televisão em 1994, com o programa Doutores e Engenheiros, na TVI, mas foi na SIC que acabou por se afirmar enquanto apresentador. A estação de televisão de Paço de Arcos, que avançou com a morte esta quinta-feira, lembra “uma figura incontornável na história da televisão”.
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Na SIC, Graciano foi a cara de Não Há Crise (2009) e Tás Aqui Tás Apanhado (2010), programas com base em vídeos de apanhados exibidos em horário nobre. Foi durante vários anos uma aposta da estação para o day time, primeiro com Contacto (2006-2009), programa da tarde que começou por apresentar ao lado de Rita Ferro Rodrigues e, depois, Maya, e mais tarde com Companhia das Manhãs (2009-2011), que conduzia com Vanessa Oliveira.
Em 2013, trocou o canal de Paço de Arcos pela CMTV, e voltou a fazer dupla com Maya na apresentação do programa Manhã CM, onde se manteve até uma saída repentina em 2016. “Fui afastado da televisão, até hoje não percebo porquê. Disseram-me [o porquê], mas tenho um contrato sigiloso em que não posso falar isso”, disse o apresentador no programa Goucha (TVI), no ano passado. “Fui penalizado pela minha postura em algumas coisas”.
No período de ausência da televisão, fundou uma marca cujo nome devia ao termo com que fora sendo conhecido, “Tio Careca”, com produtos regionais da Serra da Estrela, região onde o apresentador tem raízes, como contou no programa Alta Definição, em 2018.
Em 2019, tornou à televisão para apresentar o programa O Meu Clube, no Canal 11, em que percorria o país à procura dos clubes das distritais. No ano passado, voltou à televisão e à TVI, mas no papel de concorrente do reality show Big Brother Famosos. Acabaria por sair do programa a uma semana da final. Foi comentador no programa TVI Extra, que versava sobre o mesmo formato. Desde então estava afastado da televisão.
Uma passagem curta pela política com o selo do Chega
Em 2021, Nuno Graciano chega à política pelas mãos do partido de André Ventura e como candidato à Câmara Municipal de Lisboa. Na altura, o Chega apostou no antigo apresentador de televisão para se meter na luta entre Carlos Moedas e Fernando Medina, foi o próprio André Ventura que fez o convite por considerar que era a pessoa certa para colmatar um certo afastamento que o partido entendia existir entre eleitos e eleitores, políticos e cidadãos. A não experiência na política era o ponto forte de uma cara conhecida como Graciano.
Apresentado oficialmente como candidato em pleno Padrão dos Descobrimentos, ao lado de André Ventura, reconheceu que nunca lhe “passou pela cabeça” que embarcar naquela aventura em nome do Chega levasse os filhos e ele próprio a serem “martirizados”. Mas garantiu que a “saída do sofá” por não se rever no “discurso de ódio sem pés nem cabeça” valeu a pena por ter sido para um partido que o fez sentir “bem acolhido e bem amado”. Mais do que isso, a visão que tinha para a democracia fê-lo vestir a camisola de um Chega que lhe permitia pensar “pela própria cabeça e ter opinião”.
Atacou a “esquerda doentia” a quem “tudo é permitido” (“Parece que a esquerda neste país pode dizer rigorosamente tudo e a direita se diz alguma coisa é acusada de extrema-direita”) e focou-se na defesa da “liberdade”, contra a “libertinagem”. “Liberdade não é a mesma coisa que libertinagem. Defendo a democracia, mas não a libertinagem.”
Em entrevista ao Observador enquanto candidato às autárquicas, assumiu ser a favor da pena de morte para pedófilos, que dizia terem uma “doença incurável”, e referiu até que a castração química “não resolve nada”. Porém, Graciano garantia não ser a favor da pena de morte em mais nenhum caso.
Nuno Graciano: “Não me conseguem demover da pena de morte para pedófilos. É uma doença incurável”
Apesar de ter aceitado o convite de André Ventura para ser candidato a Lisboa, Nuno Graciano deixou sempre bem claro que não concordava com tudo o que o líder do Chega dizia (mas “respeitava o estilo”) e que ninguém dentro do partido o tinha obrigado a um “determinado tipo de comportamento ou a fazer determinado tipo de coisas”.
No final do percurso político — que começou com a candidatura e acabou com o objetivo falhado de eleição de Graciano como vereador —, o ex-apresentador considerou que conquistou um bom resultado. Por “muito pouco” não foi eleito e para uma primeira tentativa considerou um “bom resultado”, “muito razoável”. Foram poucos meses de vida na política, que ficaram marcados pelo selo do Chega e, sem a eleição para vereador, rapidamente Nuno Graciano voltou à vida de empresário.
Do Chega a Cristina Ferreira: as reações à morte de Nuno Graciano
Depois de se conhecer publicamente a morte de Nuno Graciano, começaram a suceder-se as mensagens de homenagem ao apresentador nas redes sociais. Uma das primeiras figuras públicas a fazê-lo foi Cristina Ferreira. A apresentadora da TVI destacou o regresso de Nuno Graciano à televisão, em 2022, no Big Brother.
Também o Chega reagiu à morte do “Tio Careca”. Na publicação partilhada no X, o partido político pelo qual Nuno Graciano concorreu à Câmara de Lisboa destacou a perda de um “companheiro” e enviou os “sentidos pêsames à família”.
Foi com grande tristeza que recebemos a notícia da morte do nosso companheiro Nuno Graciano. Os nossos sentidos pêsames à família do Nuno! Até um dia, companheiro! ???????? pic.twitter.com/HwtF52QFcS
— Partido CHEGA ???????? (@PartidoCHEGA) December 7, 2023
Daniel Oliveira, diretor de programas da SIC, também se pronunciou no Instagram, anunciando ainda uma alteração na programação da estação de Paço de Arcos, que terá um espaço dedicado ao antigo apresentador do canal durante a noite desta quinta-feira.
O piloto Bernardo Sousa, que conquistou a edição do Big Brother em que Nuno Graciano participou, recorreu ao Instagram para se despedir do colega e amigo, à semelhança da sua namorada Bruna Gomes que, no X, disse estar “arrasada” com a notícia. Do reality show, destacam-se ainda as homenagens de Zé Lopes, Miguel Azevedo e Marco Costa.