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As sanções ocidentais impostas para atingir a indústria petrolífera russa estão em vigor há um ano, mas o efeito nos cofres da Rússia não estará a ser o esperado. O rendimento mensal de Moscovo em exportações de petróleo é, segundo uma análise da Bloomberg, superior ao valor que se registava antes do início da guerra na Ucrânia. De acordo com o mesmo jornal, entre o momento em que o petróleo sai da Rússia e o momento em que chega aos compradores evaporam-se 11 mil milhões de dólares de petrodólares.

A União Europeia proibiu há um ano o transporte marítimo de petróleo bruto russo e de produtos petrolíferos. Além disso, impôs, juntamente com o G7, um teto de 60 euros às compras de petróleo russo. Apesar do sucesso inicial, as medidas começaram a perder impacto enquanto a Rússia se ia adaptando, encontrando compradores alternativos e novos petroleiros para fazer as entregas, incluindo através de uma frota-sombra que procura fazer o transporte de petróleo fora do radar.

A misteriosa frota que ajuda a Rússia a transportar petróleo para o mundo

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Não é conhecido o número total de embarcações envolvidas nesse esforço, mas no início do ano a multinacional Trafigura lançava uma estimativa: cerca de 600. Segundo dados analisados pelo Kyiv School of Economics, citados pela AFP, 185 destes petrolíferos deixaram os portos russos no mês de outubro, transportando um total de cerca de 2,6 milhões de barris de petróleo.

A AFP refere também que o petróleo russo foi recentemente negociado acima dos 80 dólares por barril, na sequência de cortes de produção por parte da OPEP+ e numa altura marcada por receios de que a guerra entre Israel e o Hamas se possa alargar a outros países no Médio Oriente. É algo que não tem passado despercebido. Recentemente, o departamento do Tesouro dos Estados Unidos sancionou oito petroleiros que não cumpriram o limite de preço.

“As frotas sombra e as alternativas às vias marítimas ocidentais não são novas. O Irão usa-as há anos. Agora um produtor massivo como a Rússia está a usá-los, tornaram-se mais mainstream“, explicou em declarações à Bloomberg Eddie Fishman, analista do Center on Global Energy Policy, da Universidade de Columbia.

O analista, que ajudou a moldar as sanções norte-americanas ao Irão e também à Rússia, defende que é necessário implementar restrições secundárias para colmatar as lacunas. “Na ausência de ações que tornem estas alternativas precárias mais dispendiosas que os serviços ocidentais, estas vão acabar por crescer e tornar-se uma características estrutural do comércio mundial de petróleo“, avisa.

A frota sombra moveu, segundo a Bloomberg, cerca de 45% do petróleo russo este ano, mas alguns países individuais também contribuíram para isso. A agência britânica refere que, operando abaixo do limite de preço e em cumprimento com as regras europeias, os navios gregos movimentaram mais petróleo de Moscovo em 2023 do que os seus rivais de qualquer outro país, transportando 20% dos carregamentos de petróleo russo este ano.

Isto acontece porque, apesar da UE ter banido as embarcações russas, o petróleo proveniente do país ainda pode ser entregue à UE em petroleiros de outros países ou que transitem com outras bandeiras. “O que as embarcações gregas estão a transportar é petróleo que está a contrato e é totalmente aprovada pela UE. É algo que os nossos países precisam desesperadamente”, afirmou Evangelos Marinakis, da indústria petrolífera grega, citado pela revista Foreign Policy.

Sobre a eficácia do teto de preço imposto pela UE e G7, uma análise do Centre for Research on Energy and Clean Air (CREA), partilhada no início deste mês com o jornal Politico, aponta que falhou em grande medida. O CREA sublinha que com a medida se sentiram alguns efeitos — terá custado ao Kremlin 34 milhões de euros em receitas –, mas muito menores do que os esperados. O impacto foi sentido com maior intensidade na primeira metade de 2023 antes de começar a enfraquecer, segundo Isaac Levi, do CREA, devido à “monitorização e aplicação inadequada”.