Na homenagem da Comissão Europeia a Jacques Delors, em Bruxelas, António Costa aproveitou o legado “reformista” do antigo presidente da Comissão, que morreu em dezembro, para defender uma União Europeia  ambiciosa mas “com os recursos necessários”, defendendo mesmo “novos recursos próprios” para fazer face aos desafios que se alinham. Delors liderava na altura da adesão portuguesa (1986) e Costa também usou essa linha para voltar a defender o alargamento da União, mas sem que isso implique “concessões à democracia, aos direitos fundamentais e ao Estado de Direito”.

O primeiro-ministro demissionário foi um dos convidados a intervir na sessão que contou com os vários  líderes europeus e, num discurso em francês e em inglês, Costa repetiu que o alargamento “é um imperativo” depois da invasão russa à Ucrânia. Recorreu ainda a Delors para dizer que isso deve implicar reformas na União Europeia, que permitam “aprofundamento” ao mesmo tempo que imprimem “flexibilidade e coesão”. Mas há um ponto em que Costa considera que a UE não pode ceder: “Precisamos de uma Europa que continue a não fazer concessões à democracia, aos direitos fundamentais e ao Estado de Direito”.

É nestas “fundações sólidas” na “casa casa comum, com valores comuns” que Costa defende que todos os estados membros “se possam sentir confortáveis”. Já quanto à necessidade de reformas na UE, Costa pegou novamente em Delors para dizer que teve a “capacidade de combinar ambições crescentes com os recursos necessários”. E deixou um aviso: “Tendo em conta o mundo de hoje, não podemos dar-nos ao luxo de te reduzir as ambições comuns.”

Costa pediu diretamente “o aumento do investimento comunitário nas transições digital e climática”, mas também na “segurança e defesa”, nas migrações, no alargamento e na “coesão social”. “Isto implica fazer escolhas difíceis. Encontrar os balanços certos. Mas novos recursos próprios têm de ser parte da solução”, afirmou: “A Europa não pode prometer demasiado e entregar menos”. O PRR criado para apoiar os estados-membros no pós-pandemia tem como prazo de execução o ano de 2026.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

De Delors, Costa aconselha ainda que a UE aproveite a lição que deixou sobre a “habilidade de transformar crises e desafios em oportunidades”. Esta deverá ser a última intervenção de Costa como primeiro-ministro no palco europeu, tendo sido um dos poucos líderes a discursar (além dele só o primeiro-ministro belga, Alexander De Croo), numa sessão onde também falou a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen. O primeiro-ministro que pediu a demissão em novembro acabou por cancelar uma intervenção que tinha agendada para Estrasburgo, no Parlamento Europeu, por o país estar em campanha para as legislativas.

Costa cancelou discurso europeu de fevereiro por país estar em campanha