Depois da CATL, Nio e Zeekr, há mais um fabricante chinês a anunciar estar em condições de lançar, ainda este ano, baterias sólidas para superar a fasquia do milhar de quilómetros entre o carregamento de veículos eléctricos. Trata-se da SAIC, grupo que possui muitas marcas, entre as quais a Morris Garage (MG), mas a antiga marca britânica está longe de ser o seu único investimento. A conterrânea Qing Tao Energy também despertou o interesse do colosso chinês, que se tornou no maior investidor da startup que se dedica ao desenvolvimento e produção de baterias de estado sólido e semi-sólido, com esta última tecnologia a dever a sua denominação ao facto de utilizar um electrólito que não é líquido nem sólido, assumindo-se antes como uma espécie de gel. E, ao que tudo indica, a colaboração entre as duas empresas estará a produzir resultados animadores, a ponto de a SAIC tornar pública a sua intenção de entrar, no decurso de 2024, para o “clube” dos 1000 km de autonomia com os acumuladores que vêm sendo apontados como um elemento essencial para abrir um novo capítulo na mobilidade eléctrica.
As baterias que trocam o electrólito líquido por sólido (ou semi-sólido) têm sido “vendidas” como sendo a panaceia para impulsionar os veículos eléctricos, permitindo tempos de carregamento muito mais rápidos e, mais importante, um alcance entre recargas muito mais generoso. De preferência, que supere os quatro algarismos. Mas os chineses não são os únicos interessados nesta meta e a participar nesta corrida. A Volkswagen, por exemplo, chegou inclusivamente a apontar este ano como sendo aquele em que introduziria baterias sólidas, por via do seu investimento na QuantumScape.
Baterias sólidas? QuantumScape testou protótipo e excedeu expectativas
A Toyota, na mais recente revisão do seu plano estratégico com foco nos eléctricos a bateria, também se comprometeu com o desenvolvimento das baterias sólidas. Mas, enquanto os japoneses são muito mais conservadores no prazo (2027) em que estimam colocar no mercado este tipo de acumuladores, os chineses não se inibem em continuar a garantir que está praticamente tudo a postos para que tal aconteça, como se as baterias sólidas estivessem já aí ao virar da esquina. Só que, até hoje, parece que o “praticamente” nunca mais acontece, algo que se pode inverter com a tecnologia da Qing Tao Energy que, já em 2022, arrancou com a construção de uma linha de produção para este tipo de acumuladores com uma capacidade projectada de 10 GWh/ano e um investimento próximo dos 790 milhões de dólares. Se bem que, na altura, ninguém tenha avançado com uma data de conclusão para o projecto.
Sucede que, pelo menos do ponto de vista teórico, a startup cuja sede está localizada em Kunshan, na província de Jiangsu, no leste da China, parece estar bem posicionada para lançar esta tecnologia, pois a equipa que a constitui é composta sobretudo por cientistas da Universidade de Tsinghua que, desde 2014, já conseguiram registar mais de 300 patentes.
Desconhecem-se dados concretos sobre a promissora bateria da SAIC e da Qing Tao Energy, mas a imprensa local aponta para uma densidade energética entre 260 e 300 wh/kg e a capacidade de acumular energia para mais 400 km em apenas 10 minutos. A autonomia, alegadamente segundo as conclusões dos primeiros testes, ficou muito próxima dos 1100 km (1083 km em concreto).
Apesar de todas as vantagens (densidade, carga rápida, segurança e longevidade), as baterias de estado sólido podem “encalhar” no factor preço, só sendo verdadeiramente uma alternativa competitiva se forem produzidas em larga escala. A SAIC estará consciente disso, tanto que faz depender do volume de produção a possibilidade de este tipo de acumuladores poder vir a ser 10 a 30% mais baratos que as LFP.
Recorde-se que a Nio e a WeLion já apresentaram um pack de baterias sólidas de 150 kWh, com uma densidade energética de 261 Wh/kg e capaz de ultrapassar o milhar de quilómetros, esperando-se para Abril deste ano a entrega do primeiro lote. O SUV ES6, que é comercializado na Europa, está na lista de candidatos a receber este pack de baterias, cuja única desvantagem parece ser o facto de custar… 40.000€ (estimativa).